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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomará, ainda nesta semana, a decisão sobre a possível volta do horário de verão no Brasil. A medida está novamente em pauta devido à seca histórica enfrentada pelo país e o aumento do consumo de energia nos meses de calor. Lula deve considerar tanto os impactos técnicos quanto os aspectos políticos da medida e, nos próximos dias, o governo deverá anunciar sua decisão com base nos estudos fornecidos pela Aneel e pelo ONS e nas pressões políticas e sociais envolvidas no retorno da medida.

O horário de verão foi adotado de forma intermitente no Brasil desde 1931, durante o governo de Getúlio Vargas, mas passou a ser instituído com regularidade a partir de 1985. A medida foi extinta em 2019, quando o governo Bolsonaro concluiu que a economia gerada não justificava os transtornos causados. Em outros países, o horário de verão é mais comum em regiões fora da área tropical, como Canadá, Austrália e países europeus, onde a diferença na duração do dia entre o inverno e o verão é mais significativa.

A seca recorde que afeta os reservatórios das hidrelétricas, principal fonte de energia no Brasil, e a chegada de temperaturas mais altas em grande parte do país acenderam o debate sobre a necessidade de medidas para aliviar a demanda por eletricidade. O horário de verão, que consiste em adiantar o relógio em uma hora durante os meses mais quentes, é visto por alguns como uma possível solução temporária para reduzir o consumo energético em horários críticos. Os especialistas, entretanto, estão divididos sobre os benefícios e desafios do retorno do horário de verão, especialmente diante das mudanças nos hábitos de consumo de energia ao longo das últimas décadas.

Uma das principais críticas ao horário de verão é que a economia de energia, que outrora justificava sua implementação, se tornou mínima. Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, destacou em entrevista para o G1 que a economia gerada atualmente é de cerca de 0,5%, pois o pico de consumo migrou para o meio da tarde, quando o uso de aparelhos como ar-condicionado e ventiladores é mais intenso, e não mais no início da noite, como acontecia em décadas anteriores. Na mesma publicação, Luciano Duque, professor e mestre em Energia Elétrica, reforçou que a demanda por aparelhos de refrigeração supera a de iluminação e chuveiros elétricos, o que reduz o impacto positivo do horário de verão em termos de economia de energia. Outro argumento contrário envolve os efeitos do horário de verão nos ciclos biológicos da população. Com o relógio adiantado em uma hora, o dia começa mais escuro, o que pode afetar trabalhadores que saem cedo de casa e interferir na qualidade do sono de algumas pessoas, especialmente nos primeiros dias de adaptação. Além disso, sair de casa no escuro pode representar riscos à segurança pública em algumas regiões.

Ainda assim, apesar da economia reduzida ao longo do período, o horário de verão pode oferecer um alívio importante no sistema elétrico no início da noite, quando o uso de luzes e eletrodomésticos tende a aumentar. De acordo com Cláudio Sales, essa medida pode atenuar a demanda por energia no momento em que fontes como a solar e a eólica começam a gerar menos eletricidade, o que evita, em parte, o acionamento de usinas termelétricas, que são mais caras e poluentes. Considerando o aspecto comercial, o setor de bares e restaurantes vê com bons olhos o retorno do horário de verão, que estimula a permanência das pessoas nas ruas ao final do expediente, favorecendo o consumo nesses estabelecimentos já que sensação de que ainda é “cedo” devido à iluminação natural incentiva happy hours e jantares. O setor sofreu com a extinção do horário especial em 2019.

Lula deverá ponderar os benefícios energéticos, a aceitação pública e as possíveis repercussões políticas e econômicas da volta do horário de verão – que afeta diretamente a rotina dos brasileiros e provoca divisões de opinião – antes de anunciar a decisão final. Vale lembrar que Região Norte do Brasil não adotava o horário de verão por estar localizada próxima à linha do Equador, onde a variação na duração dos dias é muito pequena ao longo do ano e, por isso, o ganho de luz natural que o horário de verão oferece em outras regiões é quase inexistente. Além disso, as altas temperaturas constantes ao longo do ano resultam em um consumo elevado de aparelhos como ventiladores e ar-condicionado, que permanecem ligados independentemente da alteração de horário.

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