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A situação na Avenida Quintino Bocaiúva, em Belém, entre as travessas Apinagés e Padre Eutíquio, revela um cenário preocupante de degradação urbana, caracterizado pelo acúmulo de lixo, entulho e pela ocupação desordenada de espaços públicos. O canal que passa pela via tem sido, ao longo dos últimos anos, o destino final de uma grande quantidade de resíduos, desde lixo doméstico até materiais de construção e eletrodomésticos descartados.

Alberto Akel Jr., professor do centro de pós-graduação em geofísica (CPGF) da Universidade Federal do Pará (morador da região, que fez a denúncia ao Uruá-Tapera e cedeu registros fotográficos e audiovisuais da documentação que recolhe já há um ano), relata que, diariamente, tratores e caminhões da Prefeitura de Belém recolhem toneladas de lixo e entulho despejados no local, em um esforço contínuo para amenizar os efeitos desse problema. No entanto, o descarte irregular é tão constante que, minutos após a coleta, novos resíduos já ocupam o espaço público, impossibilitando a ação do município de ser eficaz.

Um agravante nessa situação é a presença de um ferro velho na região, que recolhe materiais recicláveis, como metais, para processamento. Embora a atividade de coleta e reaproveitamento de sucata seja uma prática importante para o ciclo de reciclagem, a forma como o material é armazenado e gerido no local levanta questões sobre impacto ambiental e a salubridade do entorno. Sem uma fiscalização adequada, grande parte dos resíduos que não podem ser reutilizados acaba sendo descartada na via pública ou mesmo no canal. Periodicamente, um caminhão realiza o recolhimento do material separado e processado no ferro-velho. No entanto, o local acumula uma quantidade significativa de sucata, aparentando receber materiais de diversas partes da cidade. Esses itens são armazenados ao ar livre, sem as devidas precauções ambientais. Essa prática pode trazer riscos para a saúde pública e impactar negativamente a vizinhança e áreas adjacentes.

Nessa conjuntura, é comum ver pessoas queimando lixo nas ruas para recuperar cobre ou outros metais, independentemente de sua origem. Para alimentar essas queimadas, utilizam-se materiais diversos, como papel, madeira e até os entulhos já espalhados pela via. Essas fogueiras são acesas em vários pontos da rua, seja nas muretas de proteção do canal, na pista ou próximo aos entulhos. Muitas vezes, o fogo sai do controle, causando pequenos incêndios, além de a fumaça se espalhar por toda a vizinhança, agravando a poluição local.

Nos últimos dois anos, o cenário de abandono se acentuou com o aumento da presença de moradores de rua na região. Muitos desses indivíduos, que enfrentam situações de extrema vulnerabilidade social, utilizam os restos de entulhos como material para a construção de abrigos improvisados, criando um quadro de ocupação irregular que toma conta de boa parte da via. Além de pessoas em situação de rua, a área também é frequentada por catadores e dependentes químicos, o que complica ainda mais as condições de convivência no local.

Apesar das tentativas de intervenção por parte de alguns domiciliados, que já acionaram a assistência social e as forças de segurança, pouco ou nada foi feito para solucionar o problema. A própria Polícia Militar, cujo batalhão está localizado a poucos metros da via, tem sido acusada de omissão, passando pelo local sem intervir nas situações de queima de resíduos ou de ocupação irregular.

Alberto Akel Jr. conta ainda que, conversando com outras pessoas que habitam a região, é possível perceber um sentimento de descrença em relação à possibilidade de mudança. Muitos já desistiram de fazer denúncias ou reclamações, aceitando a realidade de viver em meio ao acúmulo de lixo e à degradação urbana. Tentativas anteriores de revitalizar o espaço, como o uso da via para a prática de esportes ou caminhadas, foram abandonadas diante das condições precárias: falta de calçamento, corrimãos ocupados por entulhos ou roupas de moradores de rua, e o cheiro de queimadas constantes no ar.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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