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O escritor, filósofo e ativista indígena Ailton Krenak lançou neste mês de outubro a sua primeira obra dedicada ao público infantil: “Kuján e os Meninos Sabidos”, história voltada para crianças a partir de 4 anos, em parceria com a escritora e ilustradora Rita Carelli, pela Companhia das Letrinhas.

A narrativa acompanha a jornada de Kuján, um tamanduá que, na verdade, é o Criador disfarçado, retornando à Terra para ver o que suas criaturas se tornaram. Ao ser capturado por caçadores que o planejam servir em uma festa na aldeia, dois meninos, Roti e Cati, percebem que Kuján é mais do que aparenta e intervêm para salvá-lo. A história, baseada em uma lenda tradicional do povo Krenak, traz reflexões sobre as ações humanas e o poder transformador das crianças. A lenda de Kuján, termo que significa “tamanduá” na língua Krenak, é uma peça importante da oralidade indígena e, além de aparecer em outras obras de Krenak, também foi adaptada para a música por Gilberto Gil e Emicida na canção “É Tudo Para Ontem”.

“Kuján e os Meninos Sabidos” (Companhia das Letrinhas / Reprodução)

Ailton Krenak nasceu em Minas Novas, no estado de Minas Gerais, em 1953, e é um dos mais proeminentes ativistas indígenas do Brasil. Ele é membro da etnia Krenak e tem uma longa trajetória de defesa dos direitos dos povos indígenas e do meio ambiente. Krenak é autor de obras amplamente reconhecidas, como “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, “A Vida Não é Útil” e “Futuro Ancestral”, e também é reconhecido por seu ativismo em prol dos direitos indígenas, sendo um dos líderes do movimento indígena no Brasil desde a década de 1980. Ele ocupa a cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras (ABL) e a cadeira 24 da Academia Mineira de Letras (AML), e foi o primeiro indígena a ter assento em ambas as instituições.

Em seus livros, Krenak utiliza narrativas orais e saberes ancestrais para abordar temas atuais como a crise climática, a relação do ser humano com a Terra e a busca por um futuro sustentável. Com “Kuján e os Meninos Sabidos”, ele expande sua atuação, levando suas mensagens para um público mais jovem, em uma tentativa de conscientizar as novas gerações sobre a importância de cuidar do planeta. O autor acredita que as crianças têm uma capacidade única de vislumbrar soluções para os desafios que enfrentamos, como a crise climática.

Rita Carelli nasceu em 1984, vive em São Paulo, mas desde a infância tem viajado por diversas aldeias indígenas de norte a sul do Brasil. Além de ilustrar, também escreve para crianças e adultos. Grande parte de suas obras é inspirada nas experiências e nos conhecimentos adquiridos durante essas viagens, retratando as lições aprendidas nas diferentes culturas indígenas que encontra pelo caminho.

Aílton Krenak e Rita Carelli (Academia Mineira de Letras / Reprodução)

Além do lançamento do novo livro, Ailton Krenak também está envolvido na exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte (CCBB BH) até o dia 30 de novembro. A mostra exibe fotografias do japonês Hiromi Nagakura, que capturou imagens da Amazônia durante suas viagens com Krenak entre 1993 e 1998. A exposição é uma imersão nas tradições e vivências dos povos indígenas da região, complementada por palestras, debates e oficinas. A entrada é gratuita, e os ingressos podem ser retirados no local ou pelo site oficial do CCBB.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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