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O patrimônio cultural, para além de sua inestimável importância histórica e simbólica, também deve ser analisado sob o viés econômico. É o que propõe a inédita pesquisa “Patrimônio Cultural, Economia e Sustentabilidade”, conduzida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em parceria com o Observatório da Economia Criativa (Obec), no âmbito de um Termo de Execução Descentralizada celebrado com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

A iniciativa, de escopo inédito também no cenário internacional, visa identificar as dinâmicas econômicas associadas aos bens culturais reconhecidos pela Unesco no Brasil e como essas atividades contribuem para sua sustentabilidade, preservação e promoção. Com duração prevista de três anos e aporte de R$ 1,5 milhão, o estudo se propõe a enfrentar uma lacuna histórica: a ausência de dados concretos sobre a dimensão econômica do patrimônio cultural brasileiro.

A pesquisa já está em campo. Equipes compostas por 12 pesquisadores do Obec, além de servidores do Iphan, realizam observações participantes e entrevistas com detentores, moradores, trabalhadores e demais agentes vinculados a 12 bens culturais, materiais e imateriais, considerados Patrimônio Mundial e da Humanidade pela Unesco. Um dos destaques é o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, celebrado anualmente em Belém e reconhecido internacionalmente como uma das maiores manifestações religiosas do mundo. Seu impacto vai muito além da fé: envolve economia criativa, turismo, gastronomia, comércio e identidade coletiva.

Além do Círio, fazem parte do recorte da pesquisa os Centros Históricos de Olinda (PE), Salvador (BA) e São Luís (MA); a Praça São Francisco, em São Cristóvão (SE); o Parque Nacional da Serra da Capivara (PI); as Ruínas de São Miguel das Missões (RS); o Complexo Cultural do Bumba meu Boi do Maranhão (MA); a Arte Kusiwa — Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi (AP); o Frevo (PE); o Samba de Roda do Recôncavo Baiano (BA); e a Roda de Capoeira (com abrangência nacional).

Ao mensurar como o patrimônio cultural gera renda, empregos e movimenta economias locais, o estudo busca fornecer uma base técnica e empírica para políticas públicas mais eficientes e sustentáveis. A intenção é que os resultados subsidiem ações nos âmbitos federal, estadual e municipal, incentivando a gestão compartilhada entre poder público e sociedade civil.

Ao final da pesquisa, os produtos esperados incluem quatro boletins técnicos e um relatório final. O primeiro boletim abordará a revisão de literatura sobre sustentabilidade econômica do patrimônio cultural. O segundo fará a sistematização parcial dos dados de campo. O terceiro integrará as informações coletadas em entrevistas online com gestores públicos e agentes dos bens culturais. O relatório final consolidará os achados e dará origem a atividades de capacitação voltadas a servidores do Iphan, trabalhadores da cultura e organizações da sociedade civil.

Essa é a segunda fase do projeto. A primeira etapa, já finalizada, envolveu a contextualização dos bens culturais, o aprofundamento teórico e a elaboração metodológica a partir de revisão bibliográfica, mapeamento de expectativas e escuta de especialistas.

O Observatório da Economia Criativa (Obec), parceiro do Iphan nesta empreitada, é um grupo de pesquisa multidisciplinar fundado em 2012 como parte de uma rede nacional promovida pela Secretaria de Economia Criativa do extinto Ministério da Cultura. Reúne docentes, discentes e pesquisadores das universidades UFBA, UFRB, Uneb e de outras instituições públicas e privadas.

Com forte enraizamento na Bahia, o Obec atua em três frentes: mapeamento e pesquisa de circuitos criativos; estudo de processos de gestão da criatividade; e divulgação de resultados por meio de publicações, eventos e ações educativas. O grupo considera a cultura como pilar do desenvolvimento socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente equilibrado.

Foto em destaque: Adriano Chedieck

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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