A Comissão Especial de Patrimônio do Instituto Histórico e Geográfico do Pará reuniu com o comandante do 2° BPM, Tenente-Coronel L. Araújo, a fim de tratar dos furtos de obras de arte e históricas nos logradouros públicos de Belém e, em especial, do furto da asa do Monumento à República, no centro do Parque João Coelho, que integra a Praça da República, ocorrido entre os dias 22 e 27 de outubro do ano passado e até hoje sem qualquer providência. A peça, concebida e executada pelo escultor italiano Michele Sansebastiano, data de 1897 e foi resultado de concurso público internacional promovido pelo então governador Justo Chermont, conforme historiou o advogado e escritor Sebastião Piani Godinho, membro do IHGP e das Academias Paraenses de Jornalismo e de Letras.
Especialista na área, Godinho alertou que não é a primeira vez que essa imagem é desfigurada: há alguns anos, a barra de sua túnica que descia um pouco abaixo do nível onde ela se acha sentada sobre uma pilha de grossos volumes foi fraturada e removida para ser comercializada no mercado clandestino de peças de bronze, sem que ninguém movesse uma palha para elucidar o atentado.
A lista de perdas e danos é extensa e de incalculável valor, vez que são insubstituíveis. O busto de Rui Barbosa sumiu da Praça Barão do Rio Branco, defronte à sede da OAB-PA, em dezembro de 2004 (em seu lugar o então prefeito Duciomar Costa mandou instalar uma imitação barata que continua lá); o busto do Barão do Rio Branco desapareceu da Praça Rui Barbosa, defronte à Igreja da Santíssima Trindade, em meados de 2005; e o busto do cientista Osvaldo Cruz evaporou da Praça Amazonas, defronte ao Espaço Cultural São José Liberto, na segunda metade de 2005.
Por sua vez, o busto do professor Antônio Marçal foi subtraído da Praça da Bandeira, defronte ao Colégio Estadual Paes de Carvalho, em 2007; e a placa com a efígie do maestro Ettore Bosio foi surrupiada da Praça da República, no Pavilhão de Euterpe, nos fundos do Teatro da Paz, em 2008. Já o Medalhão com a efígie do cientista Gaspar Vianna foi pilhado da amurada do canal da Marechal Hermes, em 2009; a imagem simbolizando “As Artes”, de autoria do escultor Bruno Giorgio, saqueada do conjunto escultórico da Praça Floriano Peixoto, em São Brás, em fevereiro de 2016; e a Estátua do Escoteiro, furtada da Praça do Escoteiro, em agosto de 2018.
Por fim, mas não menos importante, a imagem simbolizando “A República”, do escultor Bruno Giorgio, foi rapinada do conjunto escultórico da Praça Floriano Peixoto, no bairro de São Brás, em novembro de 2018; e o Medalhão com a efígie do Almirante Tamandaré foi afanado do pedestal do Monumento ao Marinheiro Brasileiro, na Praça D. Pedro II – que fica defronte ao Palácio Antônio Lemos, sede da Prefeitura de Belém – em janeiro de 2019.
Um dos prédios históricos mais emblemáticos de Belém, o palacete Victor Maria da Silva, conhecido como Casarão do Ferro de Engomar, localizado na esquina da rua Presidente Pernambuco com Arcipreste Manoel Teodoro, Praça Coaracy Nunes, no bairro da Campina, que está em ruínas há décadas, teve saqueados os belíssimos e seculares painéis em azulejaria francesa – legítimas peças HTE Boulenger & Cie –, verdadeiras joias artísticas e arquitetônicas, além de históricas. Todas as peças dos banheiros, os lustres, os gradis e os vitrais, além dos raros azulejos da edificação em estilo art nouveau, foram levados na calada da noite. O telhado e a estrutura do casarão estão prestes a desabar, inclusive colocando em risco as vidas de todos os que passam pelo local. O palacete foi residência da família do engenheiro Vitor Maria da Silva, secretário de Obras no governo de Augusto Montenegro. É um ícone da cidade, boa parte do período da Belle Époque.
Ninguém sabe, ninguém viu mais as valiosas peças.
Os membros da Comissão Especial de Patrimônio do IHGP, entidade que completa 124 anos no próximo dia 3 de maio e é presidida pela pesquisadora e escritora Anaíza Vergolino, já foram ao Ministério Público Federal no Pará, ao Ministério Público do Estado, à OAB-PA, ao Iphan, à Secult, à PMPA, à Polícia Civil e à Guarda Municipal. Mas os crimes permanecem impunes.
As ações dos vândalos têm sido denunciadas por arquitetos, ambientalistas, museólogos, artistas, jornalistas, advogados, estudantes, cineastas e representantes de instituições e de entidades da sociedade civil, alarmados com os diversos crimes cometidos contra a memória cultural do Pará.
A Comissão Especial de Patrimônio Histórico do IHGP, presidida pelo advogado e historiador Elson Monteiro, que está em São Paulo, foi representada na reunião com o Batalhão Tiradentes por seus alguns de seus membros: Sebastião Godinho, Célio Simões, Auriléa Abelém, Álvaro do Espírito Santo e Franssinete Florenzano. O Ten. Cel Araújo recebeu a todos com muita cordialidade, convidou para participarem da reunião o comandante e o subcomandante do Batalhão de Turismo, respectivamente o Ten. Cel. Pinheiro e o Major Rabelo, que também de imediato ofereceram parceria, e assumiu o compromisso de intensificar o patrulhamento das áreas onde estão localizados os bens históricos na zona sob a jurisdição do Batalhão, a partir do levantamento atualizado dos bens que já foram furtados e dos que estão em risco, elaborado por Sebastião Godinho.
O comandante do 2º BPM também celebrou parceria para a segunda edição do Seminário de Defesa do Patrimônio Histórico de Belém, a ser realizado no auditório do Quartel Tiradentes, um dos belos prédios históricos de Belém, ainda neste primeiro semestre, em data a ser definida. Será, ainda, articulada uma reunião ampliada no Ministério Público do Estado, com a participação do IHGP, Academia Paraense de Jornalismo, Segup, PMPA, PCPA, MPF-PA, Iphan, Secult, Fumbel, Guarda Municipal e outras autoridades, para discussão da temática e articulação de ações integradas.
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