Publicado em: 8 de abril de 2025
Belém, no ano de 2125, é apenas uma lembrança — ou uma ferida aberta na linha do tempo. Em meio aos escombros de uma civilização marcada pela destruição ambiental e apagamentos históricos, artefatos de um museu vivo lutam contra o esquecimento. É nesse cenário de ficção e denúncia que o espetáculo “IA – Inteligência Ancestral” acontece, uma obra imersiva e sensorial produzida coletivamente por estudantes e professores da Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA).
Com sessões entre os dias 10 e 13 de abril de 2025 (quinta a domingo), sempre às 18h e às 20h, o espetáculo acontece no Teatro Universitário Cláudio Barradas (Trav. D. Romualdo de Seixas, 820 – Umarizal, Belém/PA). Os ingressos custam R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada) e serão vendidos com uma hora de antecedência na bilheteria. Cada sessão tem capacidade limitada a 25 espectadores em razão do caráter intimista e imersivo da montagem.
A narrativa de “IA – Inteligência Ancestral” propõe um deslocamento radical no tempo e no espaço. Belém, a antiga “cidade das mangueiras”, já não existe. No lugar, ruínas e silêncios que ecoam uma pergunta urgente: qual cor tem a história que nos moldou? Para respondê-la, o espetáculo convida o público a seguir o “caminho do rio” — metáfora para as trilhas da ancestralidade — em busca das vozes que foram caladas, mas que ainda resistem.
A proposta mistura teatro, performance, instalação cênica, música e tecnologias digitais em uma experiência que atravessa os limites entre espectador e obra. O público é conduzido por uma espécie de expedição sensorial por diferentes ambientes e linguagens, onde o tempo não é linear e o presente se entrelaça ao passado como um fio de água, memória e luta.
Com direção cênica, encenação e dramaturgismo de Andréa Flores e Carmem Virgolino, o espetáculo é fruto de um processo criativo coletivo e interdisciplinar que mobilizou estudantes dos Cursos Técnicos em Teatro, Cenografia e Figurino, do Curso de Produção Cênica e da Licenciatura em Teatro da ETDUFPA.

A dramaturgia emergiu da colaboração entre os alunos da turma de Teatro de 2023, em diálogo com reflexões sobre memória, apagamentos históricos, pertencimento e a presença de saberes ancestrais em meio à crescente automação da vida contemporânea. A noção de “IA”, aqui, ganha nova camada de sentido, além da tão “na moda” Inteligência Artificial: a Inteligência Ancestral é um saber coletivo que resiste à obliteração das máquinas e do progresso desmedido.
A encenação conta ainda com consultoria cênica de Rubens Santa Brigida, direção vocal de Karimme Silva, direção musical de Thales Branche, além da direção de visualidade assinada por Jorge Torres e Grazi Ribeiro.
O elenco é composto por 25 intérpretes-criadores, entre eles Adria Catarina, Brenda Gonçalves, Fernando Gomes, Maria Ester Ribeiro, Leo Monteiro e Yas Laranjas. Também integram a obra as vozes em off de lideranças e artistas Tupinambá, como Glicéria Tupinambá, Marcilio Tupinambá, Cacique Gilson Tupinambá e Moara Tupinambá, trazendo à cena camadas de resistência indígena e memória dos territórios originários.
A cenografia e iluminação são coordenadas por Jorge Torres, com criação de Beh Calvo e Kathleen Sannes. O figurino é assinado por Paula Bastos e Yasmin Santos, sob coordenação de Grazi Ribeiro. A identidade visual do espetáculo também teve design colaborativo estilizado por inteligência artificial, com arte final de Julianne Stael. A fotografia oficial é de Ruthelly Valadares e Danielle Cascaes.
“IA – Inteligência Ancestral” é um ato de denúncia e encantamento. Denúncia contra os apagamentos da história e os danos irreversíveis à natureza; encantamento como força de cura, convocação à memória e resistência simbólica. A obra reafirma que o saber ancestral é, também, uma forma de tecnologia: aquela que sustenta o corpo, a coletividade e o afeto.
O espetáculo tem apoio cultural de Gleyce Costa (Play Presentes) e do coletivo Bloco dos Americanos.

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