A convenção do MDB Pará, muito mais do que instrumento de oficialização de candidaturas, foi uma demonstração de força política. Na Arena Mangueirinho estavam os personagens de “A” a “Z” no abecedário político parauara, noves fora os fiéis ao senador Zequinha Marinho. Ali se aglomeraram durante cerca de sete horas ininterruptas, em meio a pelo menos doze mil populares, dois senadores, deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores de todas as cores partidárias; lideranças políticas, empresariais, classistas, camponesas e setoriais regionais e municipais, além de candidatos de primeira viagem, que emergem principalmente do interior, com uma robustez econômica avassaladora.
A chegada do governador Helder Barbalho foi apoteótica. Acompanhado pela esposa, Daniela Barbalho, os três filhos, o pai senador Jader Barbalho, a mãe deputada federal Elcione Barbalho e o irmão presidente do MDB Pará Jader Barbalho Filho, fez valer a alcunha de “Rei do Norte”. Tivesse entrado com a bandeira do Pará sobre os ombros, como fez o filho primogênito, a cena de Game of Thrones estaria perfeita. Helder Filho, tal qual seu pai em idade ainda mais tenra em 1982, na primeira eleição de Jader ao Governo do Pará, surgiu no palco antecipando sua destinação precoce à política. Certamente está predestinado a, daqui a dois anos, aos 18, assumir a vocação. A linda Heva, do alto dos seus sete anos, tal qual a mãe muito focada pelos holofotes e à vontade mesmo entre desconhecidos, era disputada para selfies. A vice Hanna Ghassan, com o marido e demais familiares, fez sua estreia com a timidez já esperada de uma técnica contracenando com felpudas raposas políticas. Ali estavam, juntos e misturados harmoniosamente, disputando com desenvoltura centímetros de espaço no palco, comunistas, petistas, verdes, tucanos, trabalhistas, republicanos, socialistas, pedetistas, pessedistas, MST e etecetera e tal, dentre as quinze siglas que apoiam oficialmente a reeleição de Helder Barbalho.
Tal mix que o governador recandidato conseguiu juntar em torno de seu projeto político sinaliza a sua vitória no pleito eleitoral, fruto de hábil engenharia política, tanto no sentido de desarticular os adversários quanto de fortalecer o arco de alianças. Ao contrário das especulações nas redes sociais quanto à escolha da vice, não houve qualquer dissidência ou pressão. Tanto Hanna quanto o deputado Chicão, presidente da Assembleia Legislativa, são muito próximos e extremamente leais a Helder. Para se ter uma ideia, o advogado Carlos Kayath, pré-candidato ao Desembargo no Tribunal de Justiça do Pará e atual Chefe de Gabinete da Governadoria, exercia o cargo de Procurador-Geral da Alepa, por escolha pessoal de Chicão, que o liberou para substituir Luiziel Guedes quando este passou à Chefia da Casa Civil na vaga deixada por Iran Lima, que se candidatou a deputado estadual. E Kayath é cunhado de Hanna Ghassan, casado com a juíza federal Hind Ghassan Kayath.
O deputado Chicão é recandidato a deputado estadual e a presidente da Alepa, onde é muito querido tanto pelos parlamentares quanto pelos servidores e tem o apoio inclusive do Sindalepa. Poderá – se for o desenho estratégico de Helder conduzir Hanna Ghassan ao Tribunal de Contas do Estado – assumir o Governo do Pará em 2026, quando Helder precisar se desincompatibilizar. E comandar a sucessão.
Primeiro servidor da Casa a ser deputado e presidente, Chicão tem se notabilizado como gestor e resgatado a dignidade do ambiente de trabalho, com reforma das edificações que ao longo de décadas foram agregadas ao Palácio Cabanagem sem acessibilidade e que estavam em condições totalmente insalubres ao assumir a presidência. Saneando os espaços, equipando e valorizando os funcionários, Chicão também vem investindo na transparência da gestão. O Pará era o único estado cujo Poder Legislativo ainda mantinha seu Diário Oficial apenas impresso, invisível e inacessível à maioria absoluta da população. Uma de suas primeiras providências foi criar o DO eletrônico, de modo a ficarem disponíveis a qualquer cidadão os atos oficiais da Alepa. Da mesma maneira, determinou que todos os processos licitatórios e contratos fossem inseridos em sistema digital para também ficarem disponíveis no Portal da Transparência. E está investindo para que o processo legislativo se torne totalmente eletrônico, a fim de que todas as pessoas que quiserem possam acompanhar livremente e sem qualquer burocracia, via internet, a tramitação dos projetos, requerimentos, relatórios, pareceres e votos. As sessões ordinárias, extraordinárias, especiais e solenes são transmitidas ao vivo, via TV, rádio e portal Alepa. A candidatura de Zequinha Marinho, com seu PL, PSC e Patriota, não é páreo para derrubar a de Helder, a menos que aconteça o imponderável. Adolfo Neto, do PSOL coligado à Rede, é um candidato jovem e sem rejeição, mas pouco conhecido pela grande massa, e com a aliança do prefeito Edmilson Rodrigues com Helder Barbalho vai projetar seu nome para as próximas eleições. Cleber Rabelo, do PSTU, aparentemente vai repetir seu desempenho nas campanhas passadas em que disputou o governo. Espetará ao máximo o governante e as relações de poder e incomodará como um espinho, mas sem expectativa de vitória. Felipe Augusto, do PRTB, embora filiado a partido nanico tem por trás lideranças como a do prefeito de Oriximiná, Delegado Fonseca, presidente do partido em âmbito estadual, que reforçou a agremiação lançando a sua esposa, Renata Fonseca, para o Senado, e seu irmão, Siqueira Fonseca, para deputado estadual. Major Marcony, do Solidariedade; Shirley Alves, do Pros; e Sofia Couto, do PMB, sem apoios, poderão, todos juntos, levar a disputa ao segundo turno, conforme o andar da carruagem. E se sabe que em período eleitoral tudo pode acontecer, até mesmo nada.
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