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As 20 maiores árvores já registradas na Amazônia e na América Latina – todas da espécie angelim-vermelho (Dinizia excelsa), com alturas entre 70 e 88 metros – permanecem ameaçadas pelo garimpo ilegal, desmatamento e grilagem de terras. O alerta é da campanha “Proteja as Árvores Gigantes”, liderada pelo instituto O Mundo Que Queremos, em parceria com outras vinte organizações ambientais e pesquisadores.

O movimento pela proteção das árvores gigantes lança hoje, 22, nota técnica (acesse aqui) alertando sobre as crescentes ameaças à região e cobrando a adoção urgente de medidas efetivas de proteção. O documento será encaminhado a órgãos ambientais estaduais e federais.

“Não basta o parque existir no papel. É preciso assegurar a presença efetiva do Estado e garantir que a unidade de conservação cumpra sua função socioambiental, que é proteger de forma integral as árvores gigantes”, afirma Angela Kuczach, articuladora da campanha e diretora-executiva da Rede Pró-UC.

Descobertas em 2022 a partir de uma pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) conduzida em parceria com diversas instituições nacionais e internacionais, essas árvores centenárias –entre 400 e 600 anos – correm o risco de desaparecer antes mesmo de serem estudadas pela ciência e apresentadas ao mundo.

A campanha “Proteja as Árvores Gigantes” tem mobilizado a sociedade civil e pressionado o Poder Público em defesa das árvores monumentais. Suas ações contribuíram para avanços importantes, como o cancelamento de cerca de 500 Cadastros Ambientais Rurais (CARs) ilegais pelo Governo do Pará, enfraquecendo a grilagem, e a criação, em setembro  de 2024, do Parque Estadual das Árvores Gigantes da Amazônia. O novo parque foi desmembrado da Floresta Estadual do Paru (Flota Paru), uma das maiores unidades de conservação de uso sustentável do mundo, mas que não oferecia proteção adequada às árvores.

Com 560 mil hectares, o Parque Estadual das Árvores Gigantes da Amazônia, em Almeirim (PA), é uma unidade de conservação de proteção integral criada para preservar a maior árvore do Brasil – um angelim-vermelho de 88,5 metros, equivalente a um prédio de 30 andares – e outros 12 exemplares gigantes.

Apesar da nova categoria garantir proteção integral conforme o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, o Parque ainda enfrenta falhas significativas na fiscalização e gestão, colocando em risco a preservação dessas espécies e do ecossistema único onde vivem.

A gestão do Parque está sob responsabilidade do Idefor-Bio. No entanto, um único gestor do Parque é responsável por essa e outras três UCs, que, somadas, abrangem cerca de 7 milhões de hectares, o que compromete a atenção e a fiscalização necessárias para proteger o santuário das árvores gigantes.

No Amapá, a situação é ainda mais preocupante. As sete árvores identificadas no estado estão distribuídas em três áreas: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Iratapuru, a Floresta Nacional do Amapá e assentamentos na região de Maracá-Camaipi. É na RDS do Rio Iratapuru, em Laranjal do Jari, onde está a segunda maior árvore já descoberta – um angelim-vermelho de 85,44 metros.

Porém, essa categoria de unidade de conservação permite exploração madeireira autorizada e não garante proteção integral. Por isso, a campanha defende que, assim como ocorreu no Pará, seja criada uma unidade de conservação de proteção integral para assegurar a preservação desses exemplares.

A região sofre pressões que ameaçam diretamente o santuário. O garimpo de ouro é a principal delas. No Amapá, a cerca de 1 km da segunda maior árvore já encontrada, opera um garimpo ilegal, vizinho ao garimpo São Domingos – outro foco antigo de mineração clandestina na região.

O Parque Estadual das Árvores Gigantes, no Pará, também está sendo ameaçado pelo garimpo ilegal. Durante a consulta pública para sua criação, garimpeiros locais chegaram a se manifestar contra a implantação da unidade de conservação. Moradores do entorno relatam sinais da atividade clandestina, como a coloração anômala da água de igarapés e o surgimento de clareiras recentes na floresta. A situação reforça a necessidade de investigações em campo e da análise de imagens de satélite para comprovar a extensão do problema.

Nos últimos anos, a região recebeu poucas ações de fiscalização.

O desmatamento ilegal ou autorizado também avança sobre o santuário. A Flota do Paru, vizinha ao parque estadual, tem histórico preocupante: segundo o INPE, até 2023, cerca de 13 mil hectares foram desmatados. Em outubro de 2022, a unidade de conservação foi a quinta mais desmatada de toda a Amazônia.

As árvores gigantes são verdadeiros arquivos vivos da história climática e ecológica da Amazônia, registrando em seus anéis de crescimento informações sobre secas, cheias, estoques de carbono e mudanças atmosféricas. Uma única árvore de grande porte pode acumular até 80% de toda a biomassa de carbono de um hectare, segundo os pesquisadores.

A pesquisa que levou à descoberta utilizou tecnologias avançadas de sensoriamento remoto e mais de 900 sobrevoos na região, mas apenas 1% da floresta amazônica foi mapeada para a presença dessas árvores, indicando que muitos exemplares podem ter sido derrubados antes de identificados.

“Encontrar uma árvore com 60 metros já é raro. Estamos investigando os fatores que causaram esse fenômeno de gigantismo e esperamos encontrar muitas outras árvores gigantes, inclusive maiores que 88 metros”, explica o pesquisador Robson Lima, da Universidade Estadual do Amapá (UEAP).

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