A primeira vez que vi Ronaldo Passarinho, eu era muito jovem, talvez um pré-adolescente. Ele fazia parte de uma turma bem seleta, que jogava uma pelada, aos sábados e domingos, em um campo de areia no Lago Azul, muito antes do então clube campestre tornar-se a Shangrilla de hoje. Meu pai jogava no meio de campo. Jarbas Passarinho também. Mesma geração. Ronaldo era dos jovens, muito desenvolto, jogava bem. Então o tempo foi passando e ele ganhando espaço na vida pública. Meteu-se na Federação de Basquete em uma época de quadras lotadas para acompanhar as partidas. Foi vitorioso diretor de futebol do Clube do Remo, em uma época em que eu também já acompanhava os jogos com atenção. Mas é que o escritório de advocacia em que Ronaldo trabalhava, ficava um andar acima do andar em que funcionava a Rádio Clube do Pará, no mítico prédio “Palacio do Rádio”. Ali, seja em momentos de início ou final de expediente, formava-se uma roda com figuras famosas na cidade e os radialistas envolvidos em esportes. Meu pai, como sempre, além de expressar seus conceitos, era emérito contador de piadas. Eu acompanhava tudo, sempre aprendendo. Para terminar, contava algum causo muito engraçado e aproveitava a gargalhada geral, me puxava pelo braço e íamos para casa. Para ser mais exato, no curto caminho de uns 150 metros, talvez, até nosso prédio, formavam umas três rodas de conversa, deliciosas para um observador como eu. Jarbas Passarinho foi um segundo pai para Ronaldo, que perdeu seu genitor muito cedo. O tio o substituiu naquele momento em que o Brasil sofria o tal golpe militar de 1964. Muito jovem, somente fui ter idéia de tudo o que ocorria, na medida em que o tempo passava e eu me enchia de livros e informações para entender. Claro que formei minha opinião, como bom jornalista, conhecendo todas as versões, direita e esquerda. O que acho, guardo para mim. Nunca tive atuação jornalística na área política. Meus pais foram meu exemplo. O velho Edyr manteve amizades de todos os matizes e assim fiz também. Até hoje. Ronaldo conta em pequenos parágrafos a marcha de sua vida como homem público, detalhes sentimentalmente graves que ocorrem em uma grande carreira onde foi nomeado ou eleito para os mais diversos cargos, sempre com destaque, angariando amizades que lhe dedicam palavras, sobretudo entre as que eram tidas como mais agressivamente oposição. Sua maneira de proceder o acompanhou a vida inteira, bem como a de Jarbas Passarinho, que nunca escondeu seus motivos, ao contrário de muitos, e foi, digamos, escolhido para receber golpes, muitos deles absolutamente injustos. Mas isso é da política e nela não me meto, apesar de ler diariamente sobre todos os acontecimentos. Durante todo esse tempo, acompanhei Ronaldo, em encontros, infelizmente já sem meu pai, na portaria do Palácio do Rádio. Sempre o mesmo fidalgo, com um causo, uma piada, ou o Remo ou seu Botafogo em nossos assuntos. Aposentou-se cheio de láureas e elogios, acompanha o mundo de sua casa e brinda-me com comentários generosos às crônicas que vez em quando publico, através do Uruatapera. Também, maravilha, vai aos meus lançamentos e fico feliz por saber que é meu amigo, respeito seus conceitos e também por lembrar de meu pai e as gargalhadas, tantas, que ambos puxavam em suas rodas de conversa. Olha, Ronaldo, viveste. Muito. Uma bela vida. Parabéns.
Comentários