Publicado em: 20 de outubro de 2025
O Festival SESI de Cultura 2025 chega ao fim com uma reflexão sobre o papel da ética e da sustentabilidade no setor cultural. No dia 22 de outubro, no Auditório Albano Franco, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), em Belém, especialistas e gestores públicos e privados estarão reunidos no evento “ESG na Cultura – Diálogo sobre Sustentabilidade e Ética”, que ocorrerá das 14h às 19h, com entrada gratuita mediante inscrição no site da FIEPA.
A palestra magna será conduzida pela jornalista e especialista em ESG ( sigla para “Environmental, Social and Governance”, que em português significa “Ambiental, Social e Governança”) Giuliana Morrone, que apresenta a provocação central do encontro: “tudo está integrado: negócios, natureza, comunidades, cultura. Não há desenvolvimento sustentável sem cultura”. O encontro pretende discutir o papel da cultura dentro das agendas de sustentabilidade e governança, refletindo sobre como práticas ambientais, sociais e éticas se interligam às políticas culturais e à atuação das instituições públicas e privadas.
Com mais de três décadas de experiência no jornalismo e passagem marcante como correspondente internacional e apresentadora da TV Globo, Giuliana Morrone consolidou-se como uma das vozes mais influentes na comunicação sobre sustentabilidade corporativa. Especializada em ESG e Economia Circular, ela atua hoje como consultora e palestrante, e no encerramento do festival abordará o tema “Mitos e Verdades sobre ESG”, com foco nos desafios práticos enfrentados pelas empresas na implementação desses princípios.

Durante o debate, a jornalista reforçará a relevância da responsabilidade social e da transparência como pilares da cultura organizacional. “No acrônimo ESG, o ‘S’ diz respeito à responsabilidade social que empresas devem ter com consumidores, investidores, com a comunidade. Essas empresas devem dar relevância a uma agenda sustentável que integre inclusão social e vantagem competitiva. Para isso, devem apoiar atividades culturais”, afirma Morrone. Para ela, a adoção de práticas éticas e sustentáveis não é apenas um gesto de coerência, mas também uma decisão estratégica diante das novas exigências da sociedade. “Além das exigências do mercado, há a pressão da sociedade. E é sempre bom lembrar que estamos na era da transparência. A qualquer momento, tudo pode emergir: o certo e o errado. Quem escolhe o certo alcança uma perspectiva de longevidade, de longo prazo e de legado”, conclui.
A programação do encerramento também contará com o painel sobre boas práticas de governança no setor cultural, apresentado por Paula Bosso, gestora nacional da Política SESI de Cultura. Atuando há 15 anos no Sistema Indústria, Bosso lidera projetos voltados à economia criativa e à formação de agentes culturais, em parceria com o Ministério da Cultura. Ela defende que a governança cultural vai além da legalidade, sendo um instrumento de fortalecimento institucional e de credibilidade pública. “Não se trata apenas de cumprir a lei, mas de ir além, adotando total transparência sobre os aspectos financeiros e os resultados alcançados. Também significa incorporar a equidade, tratando de forma justa artistas, técnicos, comunidades, público e patrocinadores. Isso se traduz em políticas de diversidade, inclusão e acessibilidade, garantindo que as oportunidades não sejam restritas a um pequeno grupo”, explica.
Segundo Bosso, a aplicação responsável de recursos e a clareza nos processos de gestão são condições fundamentais para o fortalecimento do setor. A gestora ressalta ainda que o comportamento ético tornou-se uma exigência não apenas de patrocinadores e editais, mas também do público. “Patrocinadores e investidores querem apoiar projetos que tenham compromisso real com o social, o ambiental e uma gestão transparente. Sem isso, muitas portas simplesmente não se abrem. Depois, tem a questão da credibilidade. Uma boa governança evita problemas como má gestão ou crises de imagem. E num setor que lida com recursos incentivados, isso é fundamental. Além disso, o público está mais atento. As pessoas querem consumir cultura que respeite o meio ambiente, como festivais que cuidam do lixo ou teatros que economizam energia, e que promovam ambientes de trabalho justos e inclusivos”, reforça.

O diretor de Fomento Indireto do Ministério da Cultura, Odecir Luiz Prata da Costa, também participará do evento, trazendo uma análise sobre o futuro do investimento cultural sob a ótica do ESG. Com longa trajetória no campo das políticas públicas, Costa já coordenou a área de acompanhamento e avaliação da Secretaria da Economia Criativa e Fomento Cultural, integrou a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) e chefiou a delegação brasileira na Reunião de Ministros da Cultura do Mercosul. Sua participação acrescenta uma perspectiva institucional ao debate sobre ética, financiamento e impacto social das políticas culturais.

Para a gerente executiva de Cultura do SESI Pará, Ana Cláudia Moraes, incluir o tema “ESG na Cultura” na programação do festival é uma forma de reforçar o papel estratégico da cultura na construção de valores sociais e ambientais. “A cultura tem um papel central na formação de valores e na construção de visões de futuro, e por isso ela precisa estar no centro desse debate. Além disso, a indústria, que é historicamente uma das grandes patrocinadoras e fomentadoras da cultura no Brasil, já vem adotando práticas de ESG em suas políticas internas. Então, nada mais natural do que trazer esse diálogo para dentro do festival”, observa.
A gestora acrescenta que o evento integra as ações da Jornada COP+, movimento multissetorial liderado pela FIEPA, que busca consolidar uma nova agenda econômica, social e ambiental para a indústria amazônica. “A conexão do evento com a Jornada COP+ representa uma importante articulação entre a agenda cultural e os compromissos ambientais e sociais assumidos pela indústria. Queremos contribuir para a construção de uma nova consciência, onde práticas sustentáveis, responsabilidade social e governança ética sejam compreendidas não como obrigações, mas como valores essenciais, inclusive no campo cultural”, destacou Ana Cláudia.

O Festival SESI de Cultura, que teve início em agosto, trouxe uma ampla programação de espetáculos e shows que celebraram a diversidade e a criatividade artística da região amazônica. O encerramento com o debate sobre sustentabilidade e ética associa arte e consciência socioambiental, apontando para o futuro de um setor cultural mais responsável, inclusivo e comprometido com o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
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