Publicado em: 24 de julho de 2025
A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), está realizando um mapeamento inédito da bioindústria na Amazônia Legal, com o objetivo de orientar políticas públicas e estratégias de investimento voltadas ao fortalecimento da bioeconomia na região. Até o momento, o levantamento já identificou cerca de 11 mil empreendimentos associados à sociobiodiversidade, dos quais aproximadamente 6 mil se enquadram como bioindústrias, com atividades ligadas ao uso sustentável dos recursos da floresta e à geração de valor agregado para as comunidades locais. O estudo faz parte da Missão 5 da Nova Indústria Brasil (NIB) e está previsto para ser concluído em dezembro de 2025, quando o número de empreendimentos mapeados deve dobrar.
A categorização como bioindústria leva em conta fatores como sustentabilidade ambiental, inclusão produtiva, inovação, estágio de formalização, beneficiamento e transformação de ativos da biodiversidade amazônica. Cadeias produtivas com alto valor socioambiental, como açaí, castanha, cacau, guaraná, babaçu, buriti e mandioca, estão entre as principais áreas analisadas.
Um exemplo de destaque é o Arranjo Produtivo Local (APL) de óleos vegetais e fitocosméticos no Vale do Juruá (AC), que integra cooperativas como a Coopercintra e a Coopfrutos, apoiadas pelo Programa REM Acre – Fase II. Além dos empreendimentos, o estudo identificou 589 registros de acesso ao patrimônio genético e 2.790 notificações de uso de conhecimento tradicional associado, de acordo com dados do Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen), em conformidade com a Lei nº 13.123/2015, que regula a repartição de benefícios e reconhece os direitos das populações tradicionais sobre seus saberes.
Para a diretora de Economia Sustentável e Industrialização da ABDI, Perpétua Almeida, o estudo é fundamental para alinhar preservação ambiental com desenvolvimento econômico. “Esse trabalho é fundamental para orientar investimentos e políticas públicas. A bioindústria pode ser a chave para aliar preservação ambiental e geração de renda para as populações locais”, afirma. Até o momento, 42 Arranjos Produtivos Locais e Indicações Geográficas com potencial estratégico foram mapeados, incluindo o APL do Açaí (PA), a IG da Castanha do Brasil (AC) e o APL do Guaraná de Maués (AM). A metodologia do levantamento combina análises de dados secundários com pesquisa de campo, que envolve entrevistas, visitas técnicas e aplicação de formulários, contando com o apoio de especialistas e bolsistas atuantes em toda a Amazônia Legal.
O estudo também evidencia os obstáculos enfrentados para a consolidação da bioindústria amazônica. Lacunas normativas, insegurança jurídica, barreiras fiscais e problemas logísticos são apontados como entraves que dificultam o crescimento desse setor estratégico. Cynthia Araújo, gerente de Cooperação e Inteligência Competitiva da ABDI, destaca a urgência de políticas públicas integradas e voltadas para a valorização local. “A Amazônia ocupa papel central nas políticas de biodiversidade do país. Para transformar esse potencial em desenvolvimento concreto, é necessário avançar em ações que promovam a valorização econômica local, com sustentabilidade, segurança jurídica e o fortalecimento das capacidades existentes”, afirma.
A pesquisadora de Políticas Públicas do IPAM, Rafaela Reis, ressalta que o ecossistema produtivo da bioindústria na Amazônia já existe e pode ser expandido com o apoio adequado. “A bioeconomia na Amazônia já existe. O que falta é criar o ambiente adequado para que ela se fortaleça e escale. Estamos falando de políticas que garantam acesso, visibilidade, estrutura e oportunidades para os empreendimentos que nascem e resistem nos territórios”, explica. Segundo ela, o estudo considera elementos estruturais para o desenvolvimento sustentável da região, como a valorização do conhecimento tradicional e a inovação local, em diálogo com políticas nacionais e arranjos territoriais.
Outro ponto relevante do levantamento é a criação de uma plataforma digital que será lançada em novembro de 2025, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém. A plataforma reunirá os dados consolidados sobre a bioindústria amazônica, organizando informações e conectando empreendedores, comunidades, pesquisadores e investidores. “A plataforma vai organizar os dados e conectar atores, atraindo investimentos e garantindo que as comunidades locais sejam as primeiras beneficiadas. O objetivo é manter as informações atualizadas, evitando que o mapeamento seja apenas uma fotografia pontual”, conclui Cynthia Araújo.
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