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No senso comum, sentir dor de cotovelo significa sentir inveja. Simples assim… Na doutrina católica, junto com a soberba, a avareza, a ira, a luxúria, a gula e a preguiça, a inveja é um dos sete terríveis pecados capitais. Para quem não sabe os chamados pecados capitais são considerados desde o Século XIII, pelo catolicismo, como os pais de todos os demais vícios, más ações e maus pensamentos da humanidade. E são capitais porque tem origem no latim “caput”, que significa cabeça ou parte superior. Os juristas sabem disso, acostumados que estão pela frequente consulta ao “caput” de um determinado artigo de lei. Identificar alguém com uma tremenda “dor de cotovelo” ou mesmo um invejoso não é tarefa difícil, a partir da observação de próprio comportamento, destacando-se nele os seguintes distúrbios de personalidade: 1) são muito competitivos, pois reivindicam as atenções apenas para si e querem sempre estar à frente dos demais, mesmo que para tirar uma simples fotografia; 2) não costumam fazer elogios aos outros, mas adoram ser elogiados ou simplesmente se autoelogiar; 3) sentem prazer em criticar todo mundo, mesmo imotivadamente, deles ninguém escapa; 4) subestimam ou desdenham as conquistas alheias e exaltam apenas as suas, mesmo que não sejam relevantes ou significativas. Trata-se, evidentemente, de um sentimento altamente destrutivo, maléfico e mesquinho, mas que infelizmente está presente no cotidiano das relações pessoais de qualquer grupo social. É comum dizer-se que alguém ficou “roxo de inveja”, quando não, com “dor de cotovelo” pelo êxito de outrem. Daí o antigo sábio adágio: “O invejoso adoece quando o vizinho passa bem”… No íntimo, o invejoso é um coitado, que sofre e até se sente mal pelas conquistas alheias. Ele é incapaz de ficar feliz pelos outros, pois em sua tosca concepção de vida, a vitória de alguém representa para ele uma espécie de perda pessoal. A origem da expressão está associada à cotovelada, que passou a ser utilizada como um sinal discreto para chamar a atenção de alguém ao lado sobre algo incomum ou extravagante, sempre possível de ser censurado ou ridicularizado. O invejoso inadvertidamente se revelava ao tocava com o cotovelo o corpo de quem lhe estava próximo para que ele reparasse em algum detalhe da conduta alheia e partilhasse com ele o mesmo sentimento de despeito que, num círculo vicioso, é exclusivamente resultante da própria inveja. Se alguém dava muitas cotoveladas por estar a todo o momento procurando algo para reprovar, botar defeito, criticar ou falar mal, era natural e razoável que lhe doesse o dito cujo no final do dia. Há quem diga que foi do famoso compositor Lupicínio Rodrigues, cantor de músicas do estilo “fossa”, a autoria da expressão “dor de cotovelo”. A música dor-de-cotovelo, também conhecida por fossa, atualmente virou sofrência e existe desde que o rapaz da caverna conheceu a moça da outra caverna, de quem levou um tremendo fora. Modernamente, o termo faz alusão a aquele relacionamento que acabou, mas a pessoa não quer admitir a perda. Como diz o rei Roberto Carlos, “não adianta nem tentar me esquecer”. É a trilha para uma dor de cotovelo, embora cheia de orgulho pelo desafio sub-reptício que lança… (julga-se inesquecível). Inconformado, a vítima se escora na dura madeira de um balcão de bar, para esquecer o amor perdido e se embriagar. É a cena clássica de alguém sentado em um bar, com os cotovelos apoiados no balcão enquanto mexe uma bebida em um copo e chora o amor que perdeu. Ontem como hoje, também é comum utilizar a expressão “dor de cotovelo” para designar o indisfarçado recalque provocado pelo ciúme, a tristeza causada por uma decepção amorosa, a mágoa de alguém por não ter êxito em determinada conquista ou qualquer outra desilusão principalmente no campo sentimental.

Célio Simões
Célio Simões de Souza é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. É membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.

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