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Há mais de três mil anos, o mar Egeu, norte do mar mediterrâneo, assistiu ao maior conflito da antiguidade clássica, travada entre Gregos e Troianos: a Guerra de Tróia!

O pano de fundo, verdadeiramente, foi a vaidade de três deusas do Olimpo, Hera, Athena e Afrodite, conectados no amor entre um habitante da terra e uma semideusa, a mais linda que já existiu: Helena, filha de Zeus e da mortal Leda.

Aparentemente o amor foi o culpado dessa guerra, mas foram seus componentes, verdadeiramente, o principal motivo, os mesmos de todas as guerras como a de Israel com a Palestina ou da Rússia com a Ucrânia: a vaidade, o materialismo, a competição e o egoísmo, parasitas do amor, responsáveis por esse contexto épico.

Em torno do histórico acontecimento de Tróia, tudo iniciou em uma festa de casamento, nos verdes prados da Tessália, entre o mortal Peleu, rei de Ftia, e a deusa dos oceanos, Tétis, humanidade e divindade, tendo como convidados todos os deuses do Olimpo. Todos?

Nem todos! A deusa da discórdia, Éris, restou de fora por precaução de Zeus que aconselhou cautelas com essa deusa que o centauro anfitrião, Quíron, obedecendo Zeus, riscou-a da lista oficial dos convidados. Revoltada, a ausente Éris, enviou um pomo dourado do Jardim das Hespérides à Zeus com a seguinte inscrição: “um presente à deusa mais bela da cerimônia!”.

A deusa da discórdia sabia que isso abalaria a festa inteira composta por deuses e humanos, em brevíssimo tempo. Imediatamente criou-se uma velada disputa entre Hera, Afrodite e Atena, cada qual julgando-se destinatária da mensagem, preocupando Zeus que teria que decidir essa difícil questão. Entretanto, o senhor dos raios e dos trovões não arriscaria sua relação com nenhuma delas.

Alegando figurar nessa perlenga, a esposa Hera, a filha Atena e a sedutora Afrodite com quem já tinha tido um caso, decretou que a escolha caberia ao mais belo dos mortais: Páris, filho de Príamo, rei de Tróia, admirado entre os deuses, como árbitro daquela concorrência divina.

Foi o alado Hermes, descendo à Terra, quem comunicou à Páris daquele irrecusável ofício: “Decidirás entre as três deusas, Hera, Atena ou Afrodite, quem é a mais bela!” Só lhe restava, portanto, entregar o pesado pomo de ouro a uma delas e passar a ser odiado pelas outras duas!

No meio de uma floresta, então, as três deusas se apresentaram ao julgador, cada qual mais perfumada e esplendorosa que a outra, mas foi Afrodite quem soltou a reluzente túnica transparente, restando completamente nua, iluminando o frescor da relva e atraindo o canto dos pássaros.

Alertou Páris que aquele julgamento deveria analisar, por inteiro, a beleza de todas as deusas presentes.

Hera foi a primeira quem falou anunciando: “Se for eu a escolhida, serás o senhor de toda a Ásia e terás riquezas incalculáveis”.

Atenas foi a segunda a falar: “Se me entregares o pomo serás vitorioso entre guerreiros e o homem mais sábio da terra”.

Afrodite foi a última, dizendo: “Se me escolheres como a mais bela, te darei o amor de Helena, rainha de Esparta, a mulher mais linda do mundo humano!”.

Naquele momento Páris entregou a Afrodite o pomo dourado, proporcionando um capítulo marcante entre mortais.

Afrodite eleita, iniciou o processo amoroso entre Helena e Páris com a fuga do casal para Tróia, abalando o casamento de Menelau com Helena, Rei de Esparta, que buscou apoio do Rei de Micenas, Agamenon, seu irmão e de vários reinos da Grécia que enfrentariam, unidos, por 10 anos, o reino de Tróia, situado onde a Europa termina e a Ásia começa.

  A sorte de Tróia foi decidida nessa relação de vaidades que o amor carregaria além dos mares. Contrariadas, as deusas, Hera e Atenas, lutariam ao lado dos gregos e a premiada Afrodite ao lado dos Troianos.  

Relaciono o amor nessa variação mitológica e humana para dizer que as conexões emocionais são frutos de engajamentos psíquicos, com vinculações do inconsciente pessoal e coletivo, estudados por Freud e Jung, enaltecendo ou relativizando essências.

O amor é um aprendizado renovado, um conjunto de sentimentalidades comportamentais práticas, incorporadas aos sentidos, submetidos a estágios tonificantes ou extenuantes em seus múltiplos disfarces ao longo da existência.

Uma caixa de mistérios em que se delineiam condutas sociais que se espalham ao vento da experiência e da sobrevivência. Um pássaro que percorre ares mais elevados ou uma árvore que se esgalha por todos os sentidos da convivência sentimental, num eterno movimento de reconstrução.

A dinâmica do amor é uma constante de variações atemporais, submetidas as características humanas. Sentimentos que temperam guerras não temperam o amor em sua divindade e humanidade.

Ernane Malato
Ernane Malato é escritor, jurista, humanista, mestre e doutorando em Direitos Humanos pela PUC/SP e FADISP/SP, professor e pesquisador da Amazônia em diversas áreas sociais e científicas no Brasil e no exterior, membro das Academias Paraenses de Letras, Letras Jurídicas, Jornalismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Pará, atualmente exercendo as funções de Cônsul Honorário da República Tcheca na Amazônia.

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