Criatura digital

A criatura digital tem olhos onipresentes.
Ela não tem emoções: tem reações.
A criatura digital espreita pelas frestas das telas de cristal a vida por dentro.
Ela vigia, fiscaliza, analisa, julga, absolve e condena em um grande tribunal aberto.
A criatura digital tem existência autônoma e é incontrolável!
Às vezes, a criatura digital é woke.
Quando é woke, a criatura é extremamente woke!
Ela aponta uma artilharia ideológica contra seu opositor!
Ela não é apenas antirracista: ela extermina quem não é.
Não é apenas anti-misóginos: aniquila quem o é.
Não milita pela causa LGBTQIA+: abate virtualmente quem não milita.
A criatura digital é implacável!
A criatura digital também é anti-woke.
Quando é anti-woke, a criatura digital é aterrorizante nesse extremo!
Sua artilharia ideológica está engajada no oposto extremo.
Ela é racista, a pretexto de defender a liberdade de sê-lo.
Ela é misógina, com o subterfúgio de defender uma paridade de gêneros fictícia.
Ela elege os gêneros não normativos como inimigos da moral e os aniquila.
As criaturas digital woke e anti-woke cancelam, tripudiam, digladiam, polarizam, tensionam e expurgam-se mutuamente.
Elas estão alimentando um grande monstro acéfalo!
Um monstro sem base literária.
Um monstro sem base filosófica.
Um monstro sem base sociológica.
Um monstro sem base histórica.
Um monstro sem base literária.
O monstro digital odeia compêndios, profundidade e solidez.
É líquido como as águas de Zygmunt Bauman.
Ele não tem nome; tem arroba.
Ele odeia debate além de seu número taxado de caracteres.
Não leia.
Não pense.
Não aprofunde.
Não teorize.
Não historicize.
São as cinco leis canônicas da criatura digital.
A cultura digital é a métrica deste tempo.
Tempos de tirania digital.