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Quando o jornal “O Liberal” completou 70 anos de existência em 2022, e as homenagens foram inúmeras, publiquei nesse veículo que lembrava de um redator apaixonado que chegava em casa de madrugada, somente depois que o jornal circulava. Esse redator-diretor-chefe era meu pai, Eládio Malato, uma das forças-tarefas do empreendedor Rômulo Maiorana.

Levou a experiência dos jornais “A Vanguarda”, “A Província do Pará”, da “Rádio e da TV Marajoara”, quando foi convidado por Rômulo para impulsionar um empreendimento que haveria de transformar os informativos e a própria vida dos paraenses.

“O Liberal” nasceu como órgão oficial do PSD fundado pelo governador Moura Carvalho e uma histórica placa de bronze que um dia ofertei ao Rominho, assim confirma. A “Folha do Norte” (1896-1974), que apoiava o Partido Republicano Federal (liderado por Lauro Sodré e depois Paes de Carvalho), criticava fortemente o interventor Magalhães Barata, apoiado pelo Partido Republicano do Pará (liderado por Antônio Lemos), com editoriais fortes que não perdoavam quem ousasse se antepor ao movimento antibaratista.

O poder de fogo da “Folha do Norte” era grande e seria necessário proteger o antigo Partido Liberal – depois Partido Social Democrata – PSD, através de outro órgão que pudesse reagir aos insultos publicados corriqueiramente na primeira página do combativo jornal.

Assim nasceu, abreviadamente, esse jornal, atravessando momentos administrativos, enfrentando fases políticas em cenários que envolveram políticos, jornalistas, empresários, em muitas histórias e conexões que ainda marcam a história da sociedade paraense.  

Meu pai surgiu em um desses períodos, passando a conviver com outros operários da imprensa: Álvaro Jorge, Ana Diniz, Bernardino Santos, Cláudio Sá Leal, Cléo Bernard, Edson Salame, Hélio Gueiros, Isaac Soares, João Malato (seu tio), Linomar Bahia, Lúcio Flávio Pinto, Menezes, Odacyl Cattete, Ubiratan de Aguiar (Pierre Beltrand) Vera Cardoso, Walter Guimaraes, Walmir Botelho, entre muitos outros, formando uma legião de ilustres jornalistas, redatores, diagramadores, fotógrafos, responsáveis silenciosos e operacionais das edições diárias.

O investidor, Rômulo Maiorana, criaria, também, a TV Liberal, organizada pela sociedade entre o próprio Rômulo, Linomar Bahia que também foi diretor da Rádio Liberal, Walter Guimarães, Guaracy de Brito, Ossian Brito e meu pai que seria o primeiro diretor da emissora, levando consigo o ponta-pedrense Bernardino Santos que já estava no jornal.  

Eládio viveu vários os momentos da imprensa artesanal e oposicionista, fazendo jornalismo com tesoura, cola, régua, fotos enviadas por correio aéreo e notícias impressas no linotipo, até chegar ao offset que caracterizava a modernidade do jornal. 

Adolescente, incentivado por ele, comecei a desenhar no suplemento infantil do jornal, denominado “O Liberalzinho”, criando charges e personagens que atraíam leitores jovens e adultos. Passei pelas máquinas, pela diagramação, depois fui enviado ao Claúdio Sá Leal para estágio na redação com renomados jornalistas, prosseguindo em coberturas sociais de eventos, anotando fatos, até virar cronista semanal por alguns anos, expondo ideias e opiniões.

Com meu pai aprendi que que imprensa deve ser livre, isenta, corajosa e verdadeira, por trabalhar com informação pública e ter capacidade de mover montanhas. Escrevo isso para dizer que no Estado democrático de Direito ela é fundamental para a evolução intelectual da sociedade e redução de conflitos.

Em nossa pós-modernidade, atingida pela tecnologia dominante em que imperam fake news, plataformas ilegais e afrontas às instituições, os ideais estão confusos, as ideologias desencaminhadas e o individual justificado da pior forma possível em prol do obtuso.  

Ultimamente a imprensa encontra-se diretamente envolvida em assuntos marcantes do cenário político-nacional-internacional, infelizmente dividida, umas tornando-nos mais críticos, sensatos, humanos e justos, outras, insensíveis, silentes, crédulos e embrutecidos pela desinformação verossímil.

As virtudes primordiais da vida em sociedade encontram-se questionadas, a inversão de valores estabelecida e a predominância da ignorância orientando os caminhos da vida que merece conhecimento, imparcialidade e verdade.

Convidado a escrever neste portal jornalístico de longo alcance, dirigido por uma jornalista mulher que observa tais sentidos, reinicio sob os mesmos propósitos do jornalismo que idealizei, voltados à liberdade, à verdade e à dignidade humana, buscando uma sociedade mais justa.

Ernane Malato
Ernane Malato é escritor, jurista, humanista, mestre e doutorando em Direitos Humanos pela PUC/SP e FADISP/SP, professor e pesquisador da Amazônia em diversas áreas sociais e científicas no Brasil e no exterior, membro das Academias Paraenses de Letras, Letras Jurídicas, Jornalismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Pará, atualmente exercendo as funções de Cônsul Honorário da República Tcheca na Amazônia.

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