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No último dia 18 de janeiro, São Martinho de Anta, em Sabrosa, Portugal, homenageou o icônico escritor Miguel Torga, durante o Colóquio Internacional Miguel Torga – Revisitação à Terra e à Obra. Organizado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), pela Câmara de Sabrosa e pelo Centro de Estudos em Letras (CEL), o evento destacou o legado literário e cultural do autor, considerado um dos maiores nomes da literatura portuguesa do século XX.

O colóquio reuniu acadêmicos, estudiosos e admiradores de Torga no Espaço Miguel Torga, onde debates e apresentações ofereceram novas perspectivas sobre sua obra e a profunda ligação do escritor com sua terra natal. A professora Natália Amarante, da UTAD e uma das organizadoras do evento, destacou a relevância de Torga como “um marco na literatura portuguesa”, lamentando que o autor nunca tenha recebido o Prêmio Nobel de Literatura. “É crucial divulgar ainda mais Miguel Torga para as novas gerações”, afirmou.

A programação do colóquio incluiu uma série de palestras e sessões temáticas. Na abertura, autoridades como Helena Lapa (Câmara Municipal de Sabrosa) e Maria Luísa de Castro Soares (UTAD/CEL) reforçaram a importância de perpetuar a memória do autor e de destacar seu papel como símbolo de resistência cultural e liberdade de expressão.

Um dos momentos mais marcantes foi a visita à Casa-Museu Miguel Torga, onde participantes vivenciaram a atmosfera do universo do escritor, com declamações de poesias e reflexões sobre sua obra. Durante a tarde, a apresentação do livro “TERRA – Homenagem a Miguel Torga nos 30 anos de sua morte”, organizado por Maria da Assunção Anes Morais, presidenta da Academia de Letras de Trás-os-Montes. A publicação traz uma compilação de ensaios que exploram a relação do autor com o território transmontano e sua relevância na literatura contemporânea.

Nascido como Adolfo Correia da Rocha, em 1907, em São Martinho de Anta, Miguel Torga é reconhecido por sua vasta produção literária, que inclui poesia, contos, romances e memórias. Médico por formação e escritor por paixão, Torga viveu em uma época de severas restrições à liberdade de pensamento em Portugal, destacando-se como um defensor incansável da liberdade e dos valores humanistas.

Entre os destaques da programação, a professora Maria Luísa de Castro Soares apresentou a palestra “Furor, Labor e Plenitude: A Arte Poética de Miguel Torga”, ressaltando o impacto de sua poética na construção de uma identidade portuguesa atemporal. Já a sessão “Miguel Torga e Camilo Castelo Branco: O “Espírito do Lugar”, conduzida por Maria do Carmo Cardoso Mendes, traçou paralelos entre os dois grandes autores e sua ligação com a terra e a cultura regional.

Uma das características centrais na obra de Torga é sua conexão visceral com a paisagem e o ethos transmontanos. Essa relação ficou evidente na sessão “A Linguagem da Montanha: Fronteiras e Raízes nos Contos de Miguel Torga”, conduzida pelo pesquisador António Barbôlo Alves, que explorou como o autor construiu narrativas que mesclam a força da natureza com as complexidades da experiência humana.

Para Rafael Ángel García-Lozano, da Universidade Católica de Ávila, a obra “Bichos” exemplifica como Torga retratava a espiritualidade enraizada na vida rural de Trás-os-Montes, um tema que ecoa nas relações entre humanidade e natureza presentes em sua obra.

O encerramento do colóquio foi marcado por um momento musical, com performances de violino e piano, seguidas de um Porto de Honra. Participantes ressaltaram a relevância de eventos como este para perpetuar o legado de Miguel Torga.

Miguel Torga segue como uma figura essencial para a literatura e a cultura portuguesas. Seu compromisso com a liberdade e sua habilidade de captar a essência humana nas paisagens de sua terra natal continuam a inspirar leitores e estudiosos. Ao revisitar sua obra e legado, o colóquio lembra à sociedade lusófona a necessidade de manter viva a memória de um dos seus mais notáveis escritores, cuja voz ecoa além de Trás-os-Montes, alcançando a universalidade.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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