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Está escandalosamente maravilhoso o cartaz do Círio de Ourém de 2024, elaborado pelo artista local Bonikta, no qual a rainha da Amazônia – que ele chamou de Nazikta – é representada, através de seus traços singulares, como uma bonikta, a criatura que virou a marca registrada do artista. Desde 1963, a cidade paraense, que fica a 182km de Belém, tem um Círio em suas ruas. A procissão religiosa inicialmente homenageava Santo Antônio Maria Zaccaria, padroeiro dos padres barnabitas que administravam a Igreja de Ourém, e era realizado em julho. Em 1965 a homenagem foi direcionada a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Foi apenas em 1970 que a festividade adotou a devoção à Nossa Senhora de Nazaré, alinhando-se assim com a tradição da capital Belém. A data da celebração foi alterada para o terceiro domingo de agosto, e mais recentemente, o evento passou a ocorrer no quarto domingo de agosto.

Conhecida como a “Pérola do Guamá” devido à sua beleza natural e à hospitalidade de seu povo, Ourém é uma cidade privilegiada por suas paisagens exuberantes, como os igarapés de água cristalina que são um convite irrecusável tanto para os moradores quanto para os visitantes. A devoção mariana em Ourém, especialmente a Nossa Senhora de Nazaré, é um reflexo da herança religiosa que remonta a Portugal, onde o culto à santa é um dos mais antigos, com mais de oitocentos anos de história. Além do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, Ourém também celebra com grande fervor o Círio de Nossa Senhora de Fátima, na Comunidade Vila de Fátima, e a devoção a São Benedito, o santo protetor dos pobres e desprotegidos. Essas festividades não são apenas eventos religiosos, mas também momentos de encontro comunitário e de preservação cultural, onde a fé se entrelaça com as tradições locais, reforçando a identidade do povo oureense.

Caio Aguiar, mais conhecido como Bonikta, é um dos representantes mais notáveis da nova geração de artistas da Amazônia. Ele nasceu e cresceu em Ourém, rodeado por rios e igarapés, elementos que hoje permeiam profundamente sua obra, uma arte rica em sobreposições de formas, tempos e espaços. Sua trajetória artística tem uma multiplicidade de linguagens, que vão desde o grafite até o lambe-lambe, ilustrações, pinturas, fotografias, vídeos, animações, tatuagens, máscaras e desenhos digitais. As boniktas, figuras emblemáticas que são sua marca registrada e que habitam seu imaginário atemporal, surgiram como seres enkantados quando ele se mudou de Ourém para Belém para cursar a faculdade. O choque cultural e a fusão de diferentes Amazônias provocaram uma “travessia” em sua vida, momento em que as boniktas apareceram para guiá-lo em seu caminho artístico. Essas figuras, que povoam naturalmente suas obras, desafiam os padrões tradicionais de beleza e representam sua identidade na cidade.

Bonikta aborda questões de cuidado e respeito ao meio ambiente, dialogando sobre a recuperação das cidades pela floresta e a transformação das pessoas em plantas ou animais, evidenciando sua visão de um futuro onde a natureza e a humanidade coexistem em harmonia e provocando reflexões sobre o presente e o futuro da região. Sua obra é um convite para repensar a relação com a natureza e a ancestralidade, utilizando a arte como uma força transformadora.

Instagram / Reprodução
Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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