A escolha dos melhores filmes lançados em 2024 é uma tentativa de mapear as produções que podem ir além do reconhecimento momentâneo e pessoal do crítico de cinema, do cinéfilo e os amantes eternos da sétima arte. A escolha sempre corre o risco de omissões que mais tarde podem reconhecer este ou aquele lançamento não visto e incluído em outras listas anuais que nessa época do ano invadem sites, blogs, revistas especializadas, redes sociais e outros dispositivos digitais.
Os três primeiros lugares sinalizam a tensão entre arte e indústria na teimosia da imaginação que quer se reinventar, enveredar por outros caminhos narrativos, longe do esquemão das histórias previsíveis e encenação que carece de reinventividade ou ousadia. Nesse caso, o destaque fica com “Conto de Fadas”, do cineasta russo Aleksandr Sokurov”; “A Paixão Segundo G.H.”, de Luiz Fernando Carvalho e “Pobres Criaturas”, do grego Yorgos Lanthimos.
“Conto de Fadas” faz uso da inteligência artificial num filme irônico, pictórico, uma viagem pelo eterno retorno das condições histórias que sinalizam o avanço das políticas extremistas que seduzem massas e arrastam corações e mentes. “A Paixão Segundo G.H.” é o desafio posto em cinema nacional: adaptar o texto de Clarice Lispector para performance de fôlego de Maria Fernanda Cândido, num confronto de espelhos que pode ser concebido como um filme de horror. E “Pobres Criaturas” reafirma a coragem de criar atmosferas mágicas para filmes autorais em plena indústria do cinema.
A lista segue com a aula de som, roteiro e direção firme em “Zona de Interesse”, do cineasta inglês Jonathan Glazer. O filme aborda um tema muito explorado quando o assunto é a Segunda Guerra Mundial: a naturalização, a banalização do mal contaminando a rotina da sociedade alemã.
“Oeste Outra Vez”, de Erico Rassi, foi a grande surpresa nesse fim de ano. Aqui, temos outro olhar, outra abordagem sobre o gênero western; perspectiva renovada com personagens e motivações de um Brasil arcaico, interiorano e ainda preso às emoções primárias de posse sobre os corpos de homens e mulheres.
O filme de amor idealizado, com expectativas e perdas, ganha tratamento delicado em “Vidas Passadas”, da coreana Celine Song. No Brasil e festivais internacionais, o cinema nacional ganha espaços, recordes de bilheteria e visibilidade com “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, na prova concreta de que estamos inseridos no melhor da produção do mercado internacional de cinema.
Vale lembrar que aquele filme de baixo orçamento, com empenho da equipe envolvida e feito de pequenas histórias, colocou o cinema feito na Irlanda na lista dos melhores do ano. “A Menina Silenciosa” seduz o espectador e tem final surpreendente.
“Golpe de Sorte em Paris” traz o charme e a beleza dos filmes de Woody Allen com a crítica, por vezes cínica, dirigida para uma sociedade abastada, embalada por clássicos de jazz na trilha sonora de personagens complexos, sentimentais e de instinto predatório.
E o cinema de Pedro Almodóvar avança na experimentação de filmes com metragem reduzida para retornar ao longa-metragem com diálogos em língua inglesa, ao mesmo tempo em que faz a interface entre cinema e arte contemporânea em “O Quarto ao Lado”. O cineasta espanhol aponta a câmera para um tema espinhoso: a morte assistida enquanto prática do não sofrimento e as consequências sociais e judiciais.
A lista dos melhores filmes do ano de 2024 não pretende ser encerrada neste texto, pois ainda há muito para ser ver visto via streaming e nos cinemas. São outros filmes imperdíveis e disponíveis para assistir durante o período de festas e o início de 2025.
Melhores 2024
1 – Conto de Fadas, de Aleksandr Sokurov
2 – A Paixão Segundo G.H., de Luiz Fernando Carvalho
3 – Pobres Criaturas, Yorgos Lanthimos
4 – Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
5 – A Menina Silenciosa, de Colm Bairéad
6 – Oeste Outra vez, de Erico Rassi
7 – Vidas Passadas, de Celine Song
8 – Ainda estou aqui, de Walter Salles
9 – Golpe de Sorte em Paris, de Woody Allen
10 – O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar
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