0

Valdecy Urquiza é o primeiro representante de um país em desenvolvimento a ocupar o cargo de secretário-geral em um século de existência da Interpol. Ele recebeu aprovação da maioria dos 196 países membros, e assumiu oficialmente o posto na quinta-feira 7 de novembro, na Assembléia Geral da Interpol em Glasgow, na Escócia.

A eleição de Urquiza é o resultado de uma campanha coordenada entre a Polícia Federal, o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil. Com uma carreira marcada pela atuação em áreas de cooperação internacional, o delegado Valdecy Urquiza tem se destacado no cenário global: ele ocupava, até então, o cargo de Diretor de Cooperação Internacional da Polícia Federal e foi Vice-Presidente da Interpol para as Américas de 2021 a 2024. Sua trajetória inclui funções de liderança, como Chefe da Divisão de Cooperação Jurídica Internacional da Polícia Federal e Diretor-Assistente na Diretoria de Crimes Organizados e Emergentes da própria Interpol, em Lyon, na França.

Posse de Urquiza na Assembléia Geral da Interpol (Interpol)

Nascido em São Luís, no Maranhão, Urquiza possui formação em Direito pela Universidade de Fortaleza, com especializações em Administração Pública pelo IBMEC e em Direito Ambiental pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Além disso, é ex-aluno da Academia Nacional do FBI, em Quantico, Virgínia, EUA, um programa renomado de treinamento policial. Aos 43 anos, ele traz ao cargo uma vasta experiência e compromisso com o fortalecimento da segurança internacional.

A ratificação de Urquiza como Secretário-Geral é uma grande conquista para a Polícia Federal brasileira e ressalta o papel crescente do Brasil na agenda de segurança internacional. O novo secretário-geral será responsável por liderar a Interpol em um momento crítico de desafios para a segurança global, como o aumento do tráfico humano, o cibercrime e as redes de tráfico de drogas, que requerem respostas coordenadas e tecnológicas.

O cargo de Secretário-Geral da Interpol, com um mandato de cinco anos, é o mais alto na estrutura operacional da organização, responsável pela coordenação das ações entre as forças policiais dos países membros. Urquiza conduzirá a organização em suas ações estratégicas de combate ao crime transnacional e no fortalecimento da cooperação entre nações.

O novo secretário-geral enfrentará o desafio de modernizar as operações da organização, expandindo o uso de tecnologia e inteligência para monitoramento e combate ao crime organizado. Ele destacou, em discurso preliminar, seu compromisso com uma Interpol ainda mais atuante, capaz de apoiar e integrar as forças policiais de países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Leia, na íntegra, a tradução do discurso de posse de Urquiza:

Excelências,

Sr. Presidente, Sr. Secretário-Geral, distintos membros do Comitê Executivo, Honoráveis Ministros, Chefes de Polícia, Chefes de NCBs, meus estimados colegas,

Antes de começarmos, quero agradecer aos nossos anfitriões, o Reino Unido, por nos receber com tanto calor e generosidade. Este belo local e a hospitalidade estendida a cada um de nós refletem não apenas sua gentileza, mas também seu firme compromisso com a missão e os valores da INTERPOL.

Também quero reservar um momento para reconhecer e expressar minha gratidão ao Secretário-Geral Jürgen Stock. Sob sua liderança, a INTERPOL enfrentou e superou alguns dos desafios mais complexos da história recente. A dedicação, a visão e a integridade do Secretário-Geral Stock fortaleceram a organização, deixando um legado duradouro que nos guiará adiante.

Senhoras e senhores,

Estou profundamente honrado em estar diante de vocês hoje. Olhando para esta reunião, lembro-me do papel vital que a INTERPOL desempenha em nosso mundo.

Nosso trabalho compartilhado, nossa unidade de propósito — isso importa. As ameaças que enfrentamos não estão contidas dentro de fronteiras; Eles se estendem por continentes e evoluem constantemente. O crime transnacional se tornou mais sofisticado, mais complexo, mais evasivo. E em resposta, a INTERPOL também tem que se adaptar, tornando-se mais ágil, mais inovadora, mais inclusiva.

Ao nos reunirmos aqui hoje, refletimos sobre os sucessos que nos trazem orgulho. Mas também sabemos que a jornada está longe de terminar. O caminho à frente é desafiador e exigirá nossa dedicação, resiliência e comprometimento com uma missão que nos une a todos: um mundo mais seguro e pacífico. Honramos nossas conquistas passadas construindo uma organização que está pronta para enfrentar as ameaças de amanhã.

Ao refletir sobre meus anos de serviço na Polícia Federal Brasileira e meu compromisso de uma década com a INTERPOL, sou preenchido por um profundo senso de propósito e uma visão clara para o futuro desta organização vital. Servir ao lado de alguns dos profissionais de aplicação da lei mais dedicados do mundo na Secretaria Geral e no Comitê Executivo tem sido uma experiência de humildade e reforçou meu comprometimento com os valores que a INTERPOL representa.

Com esse senso de dever e propósito, estou diante de vocês com uma visão para a INTERPOL — uma que seja diversa, transparente, neutra e pronta para o futuro. Se tiver a honra de servir como o próximo Secretário-Geral da INTERPOL, estou comprometido com uma visão que aprimore nossa eficácia, impulsione a inovação e crie capacidade em nossos Países-Membros.

Essa visão se baseia em três pilares:

Primeiro, em nosso mundo de hoje, a tecnologia não é um luxo — é uma necessidade. Para acompanhar as ameaças que enfrentamos, a INTERPOL deve ser proativa, integrando novas tecnologias que promovam nossa missão. Inteligência artificial, big data, análise preditiva — essas ferramentas não são apenas palavras da moda; elas são essenciais para tornar nosso trabalho mais eficaz. Precisamos dar às forças policiais em todo o mundo os recursos, as estruturas e o suporte para gerenciar e analisar dados, compartilhar informações rapidamente e ficar à frente das tendências criminosas.

Segundo, para ser eficaz, a aplicação da lei tem que ser inclusiva. A INTERPOL tem a obrigação de representar todas as vozes, de todos os cantos do globo. Devemos promover a diversidade, empoderar vozes sub-representadas e trazer todos os países-membros para a mesa.

Uma INTERPOL forte é aquela que inclui todos. Quando respeitamos e elevamos perspectivas diversas, obtemos uma abordagem mais clara e abrangente para a segurança global. E juntos, estaremos mais bem preparados para atender às demandas de hoje de frente.

Terceiro, para a INTERPOL prosperar, ela deve se manter nos mais altos padrões de integridade e responsabilidade. A transparência gera confiança, e a confiança gera força. Precisamos de sistemas robustos para garantir que os canais da INTERPOL nunca sejam mal utilizados, que nossas ações reflitam nossos valores e que protejamos nossos dados com vigilância. Ao reforçar nosso compromisso com a transparência e a segurança de dados, salvaguardamos a integridade e a credibilidade da INTERPOL. Somos responsáveis ​​perante nossos países-membros e nossas comunidades, e devemos agir de maneiras que reflitam essa responsabilidade.

Finalmente, ao abraçarmos esta missão, também devemos fazer uma pausa para reconhecer e renovar nosso compromisso com aqueles que a apoiam — os homens e mulheres da INTERPOL, que dão tudo de si para proteger nossas comunidades e salvaguardar nossos valores. Esses indivíduos não trabalham apenas para a INTERPOL; eles são a INTERPOL. Sua dedicação, seu sacrifício, sua coragem são os pilares sobre os quais nosso sucesso se sustenta. É por isso que estou determinado a expandir nosso investimento em treinamento, suporte e desenvolvimento. Seu sacrifício, seu serviço e sua segurança serão valorizados a cada passo do caminho.

Senhoras e senhores, caros colegas,

Todos sabemos que o caminho à frente é desafiador, mas também está repleto de tremendo potencial. Ao olharmos para o futuro e a tarefa de nomear nosso próximo Secretário-Geral, estou diante de vocês pronto para servir, pronto para liderar e pronto para construir uma INTERPOL mais forte.

Se eu estiver honrado com sua confiança para liderar esta organização, serei um Secretário Geral para todos — africanos, americanos, árabes, asiáticos e europeus. Para cada um dos nossos países membros. Porque no final do dia, estamos juntos nisso, unidos como um, e é através da nossa unidade que encontramos nossa força.

Meu compromisso é moldar uma INTERPOL que não apenas atenda às demandas de hoje, mas antecipe e se prepare para os desafios de amanhã.

Juntos, podemos construir uma INTERPOL que sirva como um farol de esperança e segurança, ombro a ombro com todas as forças policiais, em todos os países, para criar um mundo mais seguro para todos.

Obrigado, merci, gracias, shukram.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

Interpol realiza maior operação global contra o Tráfico Humano, com prisões e resgates no Brasil e em Portugal

Anterior

Oficina com abridores de letras em Cotijuba

Próximo

Você pode gostar

Mais de Notícias

Comentários