No culto inaugural presidencial realizado na Catedral Nacional de Washington, a Bispa Mariann Edgar Budde fez um apelo direto ao presidente Donald Trump em prol da compaixão para com as comunidades LGBTQ+ e imigrantes indocumentados. No vídeo, publicado pelo The New York Times, é possível assistir momentos em que a bispa defende que a maioria dos imigrantes, mesmo sem a documentação necessária, não são criminosos, que seus trabalhos são essenciais para o funcionamento do país, e que todas as populações marginalizadas, incluindo as LGBTQ+, não podem viver com medo.
Representando 86 congregações episcopais e 10 escolas episcopais no Distrito de Columbia e em quatro condados de Maryland, Budde é uma das vozes mais influentes da Igreja Episcopal dos Estados Unidos e não hesitou em usar sua posição para defender os direitos humanos.
Durante a cerimônia inter-religiosa, que contou com a presença de Trump, do vice-presidente JD Vance, do presidente da Câmara Mike Johnson e outras autoridades, Budde falou sobre a importância da unidade em tempos de divisão nacional. “Não se trata de acordo político ou ideológico, mas de uma unidade que fomente a comunidade apesar das diferenças”, declarou. Ela enfatizou a necessidade de proteger as pessoas mais vulneráveis, destacando temas como inclusão e justiça social.
Budde também fez referência à crença de Trump de que foi “salvo por Deus” durante uma tentativa de assassinato. “Em nome de nosso Deus, peço que tenha misericórdia dos que estão assustados neste país”, afirmou, em um apelo por políticas mais humanas.
Sua mensagem não agradou a todos os presentes. Após o culto, Trump comentou que “não foi um bom culto” e que “poderiam ter feito melhor”.
A Bispa Mariann Edgar Budde tem um histórico de críticas abertas às políticas e retóricas do ex-presidente Trump. Em 2020, ela condenou veementemente a aparição de Trump em frente à Igreja de St. John, onde ele segurou uma Bíblia após a remoção forçada de manifestantes pacíficos da área. Para Budde, essa atitude simbolizou uma instrumentalização da fé para fins políticos.
Austen Ivereigh, biógrafo do Papa Francisco, elogiou o discurso de Budde, dizendo que ela “nomeou a verdade”. Por outro lado, o pastor Robert Jeffress, um aliado da base evangélica conservadora próximo de Trump, acusou Budde de “insultar em vez de encorajar” o presidente.
Formada em história pela Universidade de Rochester e com doutorados em Divindade e Ministério pelo Seminário Teológico da Virgínia, Bispa Budde construiu uma carreira marcada pelo compromisso com a inclusão. Antes de assumir o cargo de bispa em Washington, ela foi reitora da Igreja Episcopal de St. John, em Minneapolis, por 18 anos. Sua liderança une questões espirituais e sociais, abordando desigualdades que afetam minorias e populações marginalizadas.
O serviço inaugural na Catedral Nacional de Washington é uma tradição que remonta a 1933 e tem a intenção de promover um momento de reflexão e oração pela nação. Este ano, a cerimônia assumiu um tom diferente, e apesar de ter incluído interpretações de hinos e canções favoritas de Trump, focou-se no bem-estar do país como um todo, ao invés de exaltar o governo recém-eleito.
Comentários