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Capela de Santo Antonio moderna
Igreja de Santo Antônio barroca. Fotos de Fernando Jares
Na frente da Capela de Santo Antônio de Lisboa, na praça Batista Campos, em Belém do Pará, mais uma heresia foi cometida contra a História. Lá, há uma placa que diz: “Igreja de Santo Antônio
Abrigou o Conselho de Guerra Cabano;
Estilo barroco colonial
“. Contudo, na época da Cabanagem nem existia igreja ali. Para início de conversa, é digno de nota o fato irretorquível de que a Cabanagem data de 1835, e a capela foi 
construída em 1960. 

Indignado com o brutal erro histórico, o jornalista Fernando Jares Martins, que edita o interessantíssimo blog Pelas Ruas de Belém, fotografou a placa da “pedra fundamental” da capela, a placa atual e a capela(observem as fotos aí em cima), e foi investigar os acontecimentos. Segundo o saudoso jornalista e historiador Carlos Rocque, no fascículo 10 de “A História dos Municípios do Pará” (publicado no jornal A Província do Pará, em 1998), o que é hoje a praça Batista Campos “em 1874 era um matagal pantanoso; dez anos depois, uma simples savana coberta de capim“.

Por outro lado, Fernando Jares apurou que a capela do antigo Convento de Santo Antônio, que hoje é o Colégio Santo Antônio – onde acontece todos os anos, na Sexta-Feira Santa, o Sermão das Sete Palavras, ou das Três Horas da Agonia – já existia até bem antes da Cabanagem.  Pesquisou e encontrou no clássico “História do Pará”, de Ernesto Cruz, que o velho convento fora em parte ocupado pelos rebeldes cabanos “devido sua excelente posição estratégica” (naqueles tempos a baía chegava até onde é hoje a rua Gaspar Viana, as águas batiam no paredão do convento) e que “instalaram no cais adjacente várias peças de artilharia, abrindo trincheiras em derredor. No átrio da igreja esteve instalado o Conselho de Guerra que julgou e condenou à morte o Padre Jerônimo Pimentel” (vol. I, pág. 211, Univ. do Pará, 1963). O padre não chegou a ser executado: foi salvo, na última hora, por Eduardo Angelim. 

Como resumiu Fernando Jares: os colocadores da placa acertaram no santo, mas erraram na igreja, desorientando quem anda pelas ruas de Belém.

Sem sombra de dúvida, a placa era para estar em frente à igreja de Santo Antônio, mas a da praça D. Macedo Costa, que já foi largo de Santo Antônio. O portão é o mesmo para o Colégio Santo Antônio. Ao lado fica a capela da Ordem Terceira de São Francisco. 

Mas permanece, na Belém quase quatrocentona, a medonha confusão entre uma obra em estilo barroco, dos anos 1700, com outra obra moderna, da segunda metade do século XX. É de doer. 
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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