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O que poderia causar o fim da humanidade no século XXI? Em tese, há ao menos três grandes perigos de exterminio físico e um risco de exterminio intelectual para a vida humana na terra, a preocupar bastante o ambiente científico e o imaginário popular: as guerras, a questão ambiental, e uma eventual catástrofe natural, como aquela que extinguiu os dinossauros, além do medo de que a inteligência artificial substitua a inteligência humana no mundo do trabalho, algo como (IA laborans) e na horda global criativa (IA sapiens).

Na primeira ponta, o mundo laborans, a IA substituiria a mão-de-obra; na segunda, a comunicação criativa (artes, jornalismo). Eu ainda poderia falar sobre a desinformação e sobre uma possível IA sacer em outro momento.

Eu penso que, desde 1972, depois da Conferência de Estocolmo, temos feito esforços, como espécie, no ambiente do direito,  da comunicação e da política para desenvolver com sustentabilidade,  embora este princípio do direito ambiental seja tão difícil para o capitalismo.   

É um grande desafio, sobretudo para as duas grandes economias de mercado global desenvolver sem destruir o meio ambiente. EUA e China [sim, economicamente a China é uma economia capitalista de mercado interno e externo, desde a reforma de Deng Xiaoping] têm dialogado com mais facilidade na pauta ambiental,  embora ainda haja muito a avançar no Acordo de Paris. Estamos nos esforçando como civilização para desenvolver sem destruir o meio ambiente. Estamos divisando a Era ESG e já conseguimos acionar uma consciência global ambiental.

As catástrofes naturais são imprevisíveis, porém, são monitoradas pelos observatórios globais de catástrofes. Sobre a IA, falarei em um tópico específico. Resta-nos, como principal inimigos, combater a possibilidade de nos destruirmos com as guerras.

          As guerras

Da minha perspectiva,  vejo as guerras como o grau mais elevado de ameaça à  continuidade da vida humana na terra. No curso dos últimos 2.400 anos, as guerras têm sido o principal instrumento de conquista, expansão de territórios e de domínios na humanidade.  É possível traçar uma metodologia capaz de contar a história da humanidade a partir da catástrofe das Guerras desde o começo.

A Guerra do Peloponeso, primeiro grande conflito armado da história,  marcada pela tensão entre Atenas e Esparta, por exemplo,  foi testemunhada por Tucídides, um historiador que atuou como uma espécie de repórter do conflito. Foi a primeira grande guerra do Ocidente e influencia até hoje as potência bélicas. Depois, podemos mencionar as Guerras Púnicas (expansão do grande império romano), as guerras bárbaras, as cruzadas, a expansão do império mongol por Gengis Khan, a Guerra dos 30 anos, as guerras napoleônicas, a guerra de secessão, a Guerra do Paraguai (última que o Brasil participou), a unificação alemã, a primeira e a  segunda guerra mundiais, a Guerra do Golfo e as guerras da Ucrânia e de Israel.

As guerras, na atualidade,  quando as nações mais poderosas têm armamentos nucleares capazes de exterminar a vida humana na terra, são um perigo real. O Preâmbulo da Carta da ONU, quando foi fundada em 1945, diz: 

Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla.

Quais as estratégias? O Preâmbulo diz:

      E PARA TAIS FINS, praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição dos métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos.

   Estas palavras precisam de vida!

Revolução na comunicação

A inteligência Artificial

Por que nós temos medo de uma inteligência alternativa substituir a inteligência humana? Temos, ao menos, um medo Narcísico e um medo existencial de capitular nesta batalha da revolução cibernética. Temos medo de que essa inteligência nos substitua, subjugue e destrua? A inteligência artificial é a grande fronteira deste século. Um paradigma desse porte é assustador e todos sentimos medo.

A ficção representa esse medo sempre: o medo de sermos substituídos pelas máquinas. Você conhece as três leis da robótica, de Isaac Asimov? Assistiu 2001, Uma Odisseia no Espaço, AI e Blade Runner? O medo existencial da IA representa o pavor de sermos  subjugados por uma inteligência alternativa. Este temor foge dos limites da ficção para o imaginário pop, ou a ficção é verossímil por causa desse mito popular?

Temos medo de que as redes neurais artificiais substituam a inteligência humana no mundo do trabalho,  que inevitavelmente se tornará automatizado no futuro. Além disto, ocorre-nos o mais apavorante medo de todos: o medo narcísico.

O medo narcísico é um espelhamento de  nossas habilidades emotivas e criativas como espécie: o super sapiens e seu orgulho de ser a única espécie capaz de compor belas sinfonias, de traduzir o horror de uma guerra na Guernica e de reproduzir o paraíso em um afresco.

Não tenho certeza de que as big techs conhecem o tamanho do poder da IA criativa, essa espécie de IA sapiens imitativa do homo sapiens. Sabes o tamanho da revolução de Gutemberg? Era apenas sobre o texto escrito.

As IAs sapiens e laborans  são sobre tudo: imagens, sons, texturas, opiniões, toques, textos, trabalho, técnicas, figuras de linguagem e emoções: eis toda a dinâmica do joystick que mantém a humanidade em movimento.  Por isso estamos com medo. Medo de perguntar ao espelho: espelho, espelho meu! E a resposta ser sim. Há mais alguém ou algo que pode escrever, produzir canções,  criar imagens, texturas, cores, opiniões.

E quanto às emoções? Creio que as big techs estão pensando fronteiras de delimitação de conteúdos e assinaturas próprias para suas marcas. É sobre construir o conceito das hordas comunicativas no espaço entre a criação humana e a criação de conteúdos por IA; de gerenciar a sociedade global criativa em nichos específicos conforme a demanda, que será enorme.

A humanidade, mesmo com medo, adora emoções novas, interfaces criativas e incrivelmente assustadoras. Vamos sobreviver a esta revolução. É hora de pensarmos como este planeta irá abrigar quase 8 bilhões de humanos e os novos habitantes “de lata”.

A revolução da IA é furiosa [sim, foi um trocadilho], inevitável e, para que a vida humana na terra continue possível, é necessário que os cidadãos das grandes potências de armas exijam de seus governantes um compromisso de que não alimentarão guerras. Vamos dar um F5 na cláusula Roosevelt da Carta da ONU.

Podemos resolver todas as nossas diferenças jurídicas como espécie. Temos dialogado sobre racismo, gênero, questões ambientais e feminismo, na pauta dos direitos humanos, mas não podemos negociar quando olhos aterrorizantes surgem diante de nossas telas clamando por socorro em algum campo de guerra a céu aberto.

Shirlei Florenzano Figueira
Shirlei Florenzano, advogada e professora da Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA, mestra em Direito pela UFPA, Membro da Academia Artística e Literária Obidense, apaixonada por Literatura e mãe do Lucas.

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