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A possibilidade de Belém sediar a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) acentuou a fala sobre a Amazônia, maciçamente por atores de fora da realidade da região. Contrapor estratégias capazes de sustentar debates qualificados em diferentes esferas, promovendo um movimento no sentido contrário, de levar o pensar, a fala e o agir amazônida ao planeta, compromissada com o fortalecimento da democracia, defesa dos direitos humanos, intensificação de iniciativas de economia solidária e combate à miséria, violência e racismo é uma ideia concebida pelo professor João Cláudio Tupinambá Arroyo, coordenador do Mestrado na Universidade da Amazônia, pesquisador em economia solidária, doutorando no Programa de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará. Defendendo o protagonismo como fundamental para que os amazônidas revertam o histórico domínio por formas de pensamento hegemônicas e grupos de pressão políticos e econômicos internacionais e de outras regiões do Brasil, Arroyo conseguiu arregimentar forças e reunir centenas de agentes sociais que reivindicam uma ruptura com o modelo neoextrativista e buscam novas alternativas de existência na Amazônia.

Assim, tomou corpo o Fórum Permanente pelo Protagonismo Amazônida, com pensamento plural e temas transversais em pauta, envolvendo educação, direito, comunicação, pesquisa, artes, política, movimentos sociais, saúde, meio ambiente, economia, cultura, serviço social, gestão, comércio, empresarial, relações internacionais e urbanismo, entre outros.

Avançando nos rumos propostos, o movimento se organizou em grupos de trabalho interdisciplinares, elaborando alternativas de desenvolvimento socioambiental que permitam a preservação do bioma Amazônia e a manutenção da oferta de emprego e renda na região. A Carta de Apresentação, documento inicial do Fórum, incentiva à participação política e ao protagonismo de jovens de comunidades e povos tradicionais, indígenas, afrodescendentes, LGBTQIA+ e movimentos culturais das periferias, com uma visão crítica do protagonismo.

“Desde o processo de colonização até hoje, os residentes na Amazônia tiveram, quando muito, papéis subordinados e meramente operacionais na implementação de modelos econômicos presididos pela cultura, lógica e interesses de quem não reside nesta região/continente. Da extração das “drogas do sertão” à mineração, passando pela borracha, ouro, grandes projetos, soja e pecuária extensiva, o gigantesco manancial de recursos extraídos não significou geração de riqueza local. Nem como qualidade de vida para a população e sequer como formação bruta de capital”, enfatiza João Cláudio Arroyo, aduzindo que “há explicações científicas, históricas, políticas e econômicas para esse processo, mas precisamos, como amazônidas, protagonizar em larga escala mobilizações que pautem modelos de desenvolvimento para a nossa região; modelos que sejam amadurecidos e negociados entre amazônidas, sem exclusão da escuta de tudo que possamos ter de conhecimentos. Aí está o que entendemos como protagonismo. A determinação, inclusive psicológica, de assumir a responsabilidade, sem qualquer tutela, pela escolha do modelo de desenvolvimento econômico, social, cultural, ambiental e político para o lugar em que vivemos e onde geramos todas as riquezas e insumos necessários para uma vida digna. Sem xenofobia, nem qualquer isolamento. Apenas soberania e democracia para firmar uma nova postura de sociedade. Não há paz onde há miséria e injustiça. Que a riqueza material da Amazônia se harmonize à grandeza de seu povo”, sintetiza. Leiam a íntegra da Carta.

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