Ainda há verdade neste mundo?

As redes sociais andam lotadas de fake News. Algumas trazem personagens da política mundial cantando, discursando e fazendo outras traquinagens onde negam veementemente as opiniões que emitem em suas carreiras. A última reuniu alguns dos líderes mais famosos cantando “We are the world”, aquela iniciativa de grandes artistas da música pop visando diminuir as diferenças sociais, miséria, fome, guerras. Trump e Putin comandam a cena, toda montada a partir da Inteligência Artificial. Tanta negação para fazer-nos rir, creio. Mas é assustador. Nunca foi tão fácil falsificar, mentir, seja para fins humorísticos, como para difundir anarquia política, incriminar pessoas, enfim, tudo é possível. Já sou um homem velho, com quase todas as certezas após tantos anos de vida e conhecimento, mas fico pensando nos jovens de hoje, que passam mais tempo de olho nas telas do que em livros, por exemplo, ou discussões sobre temas importantes para sua formação. Penso que a verdade é essencial para nosso mundo, mas a verdade é um conceito tão sério, importante e a verdade é que nem sempre a praticamos em assuntos que consideramos menos importantes. Mentimos que estamos doentes para não atender a um convite, por exemplo. Mulheres ainda mentem sobre a idade. Mentimos acreditando que ao mentir, aliviamos uma notícia para um amigo ou parente. Mentimos descaradamente no mundo das aparências e dizem não haver outra área mais mentirosa do que a das redes sociais, onde sempre estamos bem, vencedores, felizes. Fui até o Google e digitei “A Verdade”.

De acordo com o professor Cristiano Novaes, para os filósofos René Descartes e Immanuel Kant, a verdade enquanto palavra pode ser definida. “A verdade é a correspondência do que está no pensamento com o que existe no mundo, nas coisas. É a adequação do intelecto, do inteligido e das coisas”. Outro diz: “E a verdade é o conhecimento das coisas como são, como eram e como serão”. Também está dito que “Verdade significa aquilo que está intimamente ligado a tudo que é sincero, que é verdadeiro, é a ausência da mentira. Verdade é também a afirmação do que é correto, do que é seguramente o certo e está dentro da realidade apresentada”. Nietzsche não acredita na ausência de verdade. Ele apenas tem consciência de que a verdade é uma interpretação, quer dizer, uma construção humana.

Para Aristóteles, a verdade é a manifestação da realidade, é universal e está presente no mundo real. Psicanalistas dizem que o verdadeiro é o que se manifesta aos olhos do corpo e do espírito; a verdade é a manifestação daquilo que é ou existe tal como é. O verdadeiro é o evidente ou o plenamente visível para a razão. Na concepção latina verdade é veritas, significando exatidão, precisão, rigor do que se refere à linguagem como expressão de fatos acontecidos, a relatos ou enunciados que dizem as coisas e os fatos tais como foram acontecidos. Há muitas interpretações, muitos filósofos se expressando, alguns com conceitos considerados essenciais. Então a verdade é isso? Ou o fato depende de quem conta? De quem assiste, viveu. Nós somos influenciados pelas circunstâncias. Por conta delas, mentimos caudalosamente. Mentimos e nos sentimos aliviados. O “sincerão” é criticado. E quando juramos “dizer a verdade, nada mais que a verdade”. Juramos aos outros, a nós mesmos ou a Deus, quando com a mão sobre a Bíblia? Quando estou deitado, para dormir, e reflito sobre meus atos do dia, por exemplo. Enquanto não for verdadeiro no meu mais profundo eu, sem nenhum filtro, eu e meus valores, nunca me sentirei vivo. A verdade nos diferencia. E peço desculpas aos mais bem informados sobre o assunto. Vale como conversa de esquina.