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O popular, o erudito e a religiosidade das expressões negras e a beleza que cada uma delas traz em suas raízes e na sua própria identidade cultural são o ponto alto do evento Noite Negra – Sarau de Música e Poesia, que todas as sextas-feiras de março, às 19h, leva a africanidade para o Centro Cultural do Carmo. Abrindo a programação, ontem o tenor Spinto Edelmiro Soares e a pianista Leandra Vital interpretaram canções de Waldemar Henrique em concerto destacando os batuques do compositor parauara. “Desde que comecei a cantar, em meu repertório popular sempre tinha música de preto. Com a música erudita, sempre tinha Waldemar Henrique. As pessoas têm uma ideia errada de música erudita, mas o repertório erudito no Brasil está cheio de música de preto”, explica o cantor Edelmiro – que tem a negritude africana em sua vida, na cor da pele e na religiosidade -, referindo-se às peças musicais que o maestro Waldemar Henrique compôs inspirado em pontos de umbanda em Belém e em todo o Brasil. “Acho que este repertório tem tudo a ver com a negritude. São músicas paraenses, pontos de santo, em uma versão meio erudita. Nessa música “No Jardim de Oeira” – que eu não conhecia – há dois momentos: primeiro o piano imita o tambor e depois pega um pouco do gingado”, conta a pianista Leandra.


A música popular teve lugar com o grupo Batukhe do Norte – que surgiu em 2000 da pesquisa e da divulgação afro brasileira e afro paraense. São novas releituras dos pontos das músicas de terreiro, com experimentação para instrumento e voz. Os músicos Edson Santana e Armando Mendonça se apropriaram dos temas dos orixás ligados às forças da natureza. Eles pesquisaram essas influências para desenvolver a parte rítmica e harmônica das composições criadas para esta apresentação.
A música para os orixás pode ser mostrada de várias formas. São composições próprias com temas de cada um. A Iansã, por exemplo, é a orixá dos ventos, dos raios, da tempestade. Neste ambiente que ela domina, prevalece a percussão”, comenta Edson Santana. 



Já o poeta Antônio Moura fez uma homenagem à literatura africana e paraense com três poesias de sua autoria: Mandinga, Macumba Macumba e África, esta última tendo o poeta Arthur Rimbaud como inspiração. “Os primeiros dois poemas têm um diálogo com a cosmogonia do universo da cultura africana, um aspecto gráfico que será reproduzido em projeções no seu espaço de leitura porque também precisam ser observados pelo público”, diz Antônio, que recentemente traduziu dez livros do poeta de Madagascar Jean-Joseph Rabearivelo. “É um poeta negro que viveu entre 1900 e 1923. Sua ligação pessoal com a tradição negra e africana traz a poesia da cultura local com a linguagem universal”.  


O violonista Handerson de Deus apresenta um repertório mais popular, com artistas conhecidos do público notívago da Belém. Ao violão, ele toca Prelúdio e Pinho Choroso de Tó Teixeira e Waldemando e Macapá de Nego Nelson. 


A Mostra Banquete Brasil África vai até o próximo dia 28 de março, na Praça do Carmo, 40/48. Visitação da exposição Recanto: segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 15h às 18h, e aos sábados das 9h às 12h. No dia 27 (Dia Mundial do Teatro), às 19h, vai ter a performance “Um Canto pra Oxum”- com Pauli Banhos, Pedro Olaia e Roberta Costa. 


Mais informações  aqui.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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