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Uma adolescente tentou suicídio ontem, em Belém, para atender pedido no app Amino. Ela foi impedida por familiares de cometer o ato, mas chegou a pegar uma faca de cozinha, determinada a cortar seus pulsos. Vinha recebendo mensagens no sentido de que deveria se matar antes de terminar o mês de setembro, para contrapor a campanha Setembro Amarelo. E ontem lhe foi dado um ultimato. A tragédia foi evitada pela atenção e vigilância da família com ela, que é autista. A par de um drama de tal magnitude, que abala terrivelmente não só a vítima em potencial como toda a família, a Unimed Belém simplesmente recusou enviar socorro à residência, sob a alegação de que a menina não estava ferida e não havia o que fazer. Uma falta de humanidade. Ou seja: se ela tivesse consumado o suicídio, deveriam chamar o IML. Desesperado, o pai ligou de novo e disse que a emergência era um infarto. A ambulância foi, mas a equipe de cardiologia de fato nada podia fazer. Felizmente os familiares conseguiram contactar um psiquiatra particular, que atendeu adequadamente a adolescente.

 O app Amino é vendido como uma rede de comunidades que permite que as pessoas explorem, descubram e saibam mais sobre temas de seu interesse. Basicamente consiste em grupos de pessoas que compartilham o mesmo gosto por quadrinhos, basquete, videogames e outras atividades saudáveis. É possível criar um perfil customizado, postar e ler blogs, como uma rede social segura. Mas existem Aminos (comunidades) para atos eróticos, conteúdo adulto e outros assuntos impróprios para crianças e adolescentes, alvos preferenciais de cibercriminosos por sua ingenuidade. Pais, professores e familiares precisam ficar atentos às ameaças a que são vulneráveis na web, principalmente sexting (compartilhamento de conteúdo erótico em textos, fotos e vídeos), cyberbullying (assédio moral através de ofensas recorrentes, causando  estresse, humilhação, ansiedade, depressão e até suicídio), grooming e stalking (perseguição reiterada, que ameaça a integridade física e psicológica de alguém, interferindo na sua liberdade e privacidade), além de outros ataques. 

O grooming é prática de adulto que se passa por outra criança, a fim de se aproximar, ganhar sua confiança e criar uma conexão emocional com o objetivo de se aproveitar sexualmente dela. Ao contrário do cyberbullying, o grooming tenta fazer com que a criança lhe permita acessar ou que lhe envie conteúdos eróticos, inserindo-a num mundo de prostituição e pornografia. Funciona assim: o adulto, que normalmente usa um perfil falso em sites ou redes sociais onde pode encontrar crianças, se passa por outra da mesma idade. Cria laços emocionais, pede para revelar dados pessoais e de contato. Depois de obter essas informações, tenta seduzir a vítima, enviando supostos conteúdos eróticos dele para que ela responda da mesma maneira. Quando consegue o material pornográfico, começa a persegui-la e chantageá-la, ameaçando mostrar para amigos ou familiares para desta forma obter mais imagens ou abusar sexualmente dela.

O controle parental é um mecanismo disponível para controlar o acesso de menores a sites, sistemas operativos ou computadores. Através dele é possível monitorar a navegação, restringir conteúdos impróprios e bloquear páginas ou usuários. Além disso, dá para definir limites de tempo com o computador ligado, evitar que joguem e acessem alguns aplicativos ou que executem determinados programas. Por exemplo, quando fizer login na Netflix e quiser deixar seu filho(a) assistindo a programas ou filmes, escolha a opção Kids para que só veja conteúdos adequados à sua idade.

O app Amino tem classificação etária de 12 anos ou mais, mas não oferece controle parental nem outras ferramentas de monitoramento. Apenas pergunta na hora de criar uma conta se o usuário tem mais de 12 anos. E uma criança pode mentir sobre sua idade e criar uma conta.

Pais de adolescentes que usaram o Amino disseram que o app não é seguro. Um deles contou que seu filho de 12 anos gostava de conversar com os outros achando que eles tinham interesses similares. Mas aos poucos ele foi sendo colocado em chats que tinham conteúdo adulto e linguagem obscena e foi aconselhado a mentir sobre sua idade e não falar nada para os pais, que descobriram a tempo de evitar o pior.

Um casal relatou que sua filha baixou o app Amino para testar redação. Depois de dois meses começou a ficar isolada no quarto, cheia de segredos, ansiosa e com as notas da escola caindo. Eles perceberam os sinais de alerta, checaram suas redes sociais e ficaram chocados. Ela conheceu alguém que iniciava conversas de tom sexual, incentivando que questionasse sua sexualidade, e até planejando um encontro real. O conteúdo era claramente de um predador sexual e muito amedrontador. Os pais excluíram o perfil e impediram a filha de usar o celular e ela precisou fazer terapia para voltar a ser feliz e dona de si. A garota admitiu que a compulsão por usar o app, as relações falsas, as mensagens com tom impróprio e a vergonha que sentia de tudo isso e se esconder da família deixou sua vida miserável.

Evidente que há muitos aplicativos que fazem crianças e adolescentes ficarem contra suas famílias e isoladas, criando a necessidade de ficar dia e noite conversando com pessoas doentes que deixam-nas deprimidas e com tendências suicidas. Todo cuidado é pouco.

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