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A noite de hoje reluz com esse encontro que nos traz para celebrar o ingresso de uma importante mulher do mundo da escrita na nossa Academia Paraense de Letras. É revestido de simbolismos empossarmos mais uma mulher na APL às vésperas do Dia Internacional da Mulher, que é uma data afirmativa da intrínseca força feminina no mundo.

Composta predominantemente por homens ao longo do tempo, a APL na noite de hoje inscreve na história o seu reconhecimento ao protagonismo e relevância da mulher na Casa das Letras paraense. Paridade de gênero não é um clichê, mas uma pauta de relevância histórica em múltiplos contextos.

O imortal da Academia Brasileira de Letras e líder indígena Ailton Krenak nos diz que o futuro é ancestral. E eu adendo: o futuro é feminino! São as mulheres as principais guardiãs do bem viver. São as mulheres a força da natureza que gesta a vida.

Imortalizar nossa confreira Franssinete Florenzano é reconhecer a força das mulheres na contemporaneidade, que cada vez mais ocupam espaços de destaque na academia, na ciência, na política, nas letras e na literatura.

Jornalista, escritora, pesquisadora e advogada, Franssinete foi eleita para a cadeira 29 da APL, patronímica de Múcio Javrot, cujo último ocupante foi Miranda Neto.

O sentimento de gratidão da época da minha posse está sendo hoje revivido. Na época eu agradecia a honraria em ser mais uma mulher a tomar posse nesta ilustre Instituição que é a APL.

Hoje é uma honraria empossarmos a décima segunda mulher a assumir uma Cadeira na Academia Paraense de Letras. É pedir licença as que vieram antes de nós e pavimentaram nosso caminho até aqui. Assim, evocamos e honramos a pioneira Guille Furtado Bandeira e as ilustres Dalcinda Camarão, Maria Annunciada Chaves, Silvia Helena Tocantins, Lucy Gorayeb e Izabel Benone, que foram sendo imortalizadas e hoje podemos nos orgulhar: Mulheres, suas histórias são presentes!

Nesta noite, ao lado de mulheres fortes, compromissadas, éticas, acolhedoras e solidárias – Nelly Cecília, Edy Lamar, Nazaré Melo, Sara Castelo Branco e Maria Betânia, essa que vos fala, Franssinete chega para elevar ainda mais o patamar da contribuição de mulheres na história e cotidiano da APL.
Apresentar e receber nossa mais nova acadêmica é o que me cabe nesse momento e é com alegria que saúdo minha estimada Franssinete Florenzano. Se em uma palavra pudesse sintetizar Franssinete, elegeria VERSATILIDADE.

Vem do mundo das águas de beleza inigualável a nossa mais nova confreira. Foi em Santarém, nas margens do rio Tapajós, que Maria Cezarina Souza, hoje com 87 anos, deu à luz à Franssinete Florenzano, que há décadas tem sido fonte de orgulho para sua família.

Foi do baixo Amazonas que ainda muito jovem Franssinete migrou do interior para a capital para estudar e aqui em Belém cursou Jornalismo. Era um tempo em que nossas universidades não haviam se interiorizado. Da semente plantada na graduação, floresceu a Jornalista, escritora, pesquisadora, advogada, servidora pública estadual e ativista social.

Franssinete Florenzano idealizou, criou e edita há trinta e três anos, atualmente em conjunto com sua filha Gabriella, grande amor de sua vida, o que é um dos maiores sucessos jornalísticos no Pará, o Uruá-Tapera. Antenada e conectada, Franssinete é uma mulher das redes sociais, em que ao tempo que circula atualidades ou difunde a cultura paraense, também aborda temas candentes na sociedade brasileira e paraense, a exemplo de política, meio ambiente, violação de direitos humanos, crise climática.

Foi também na efervescência de sua vida e carreira que conheceu o amor com Antônio Alberto Pequeno de Barros, seu marido, seu amor, seu companheiro de vida e de aventuras, seu amigo, seu cúmplice, seu incentivador, no seu próprio dizer. Foram décadas de amor, de carinho, de uma convivência alegre e harmoniosa, que fizeram seus anos mais felizes. Como disse Franssinete na partida de seu amor, em maio de 2020, seu marido era seu chão e seu céu e é de lá que seu grande amor vibra e celebra sua posse na APL na noite de hoje.
Presidenta da Academia Paraense de Jornalismo por alguns anos (2019-2024), sendo a primeira e única mulher até então eleita, com mandato prorrogado e reeleita à unanimidade, Franssinete Florenzano tem uma sólida carreira profissional. Foi fundadora da Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Jornalistas do Pará; é filiada na Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ); presidiu a Comissão da Verdade, Memória e Justiça dos Jornalistas do Pará e foi membro titular da Comissão Estadual da Verdade do Pará, contribuindo na pesquisa e recolha de testemunhos sobre o sombrio período de 1964 a 1985, tempo de um passado avassalador e também de um presente sensível na história do Brasil e do Pará, pesquisa essa consolidada em três tomos publicados pela Comissão da Verdade e Editora Dalcídio Jurandir, da Imprensa Oficial do Estado do Pará, obra de alta relevância que condensa um tempo histórico importante.

É sócia honorária do Instituto Histórico e Geográfico do Pará; sócia correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós; sócia do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos; membro da Associação Brasileira de Jornalistas em Turismo; do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral; da Sociedade Amigos da Marinha – Pará e da Associação de Amigos do Patrimônio de Belém,
Na Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) é Consultora de carreira, onde exerceu o cargo de Secretária Legislativa, o mais alto da hierarquia funcional daquela Casa legislativa. Assessorou a Constituinte Estadual, foi coordenadora executiva da Frente Parlamentar Pró-Hidrovias e Portos do Pará e da Frente Parlamentar da Mineração. Atua no gabinete da Presidência da Casa desde 2021.

No Poder Executivo assessorou a presidência da FTERPA, coordenou a Comunicação da Setran, do projeto Alça Viária, do Detran, da Seduc e da Cosanpa.

No Judiciário implantou a Assessoria de Comunicação do TRE-PA e foi membro titular do Conselho Gestor de Comunicação Social do TSE, além de Assessora de Conselheiro do TCE-PA.

Diversas honrarias marcam a trajetória de Franssinete Florenzano, a exemplo da Comenda Ordem do Mérito da Cabanagem; Medalha Isa Cunha; Comenda Juiz Paulo Frota; Comenda Jus et Labor (pelo TRT-8), Título de Honra ao Mérito da Câmara Municipal de Belém; Medalha Amiga da Marinha, por sua atuação em prol da cidadania e de direitos humanos. Duas vezes Profissional do Ano e Personalidade de Comunicação pela Federação das Indústrias do Estado do Pará, e Prêmio Destaque Imprensa, pelo Banco da Amazônia S.A., Medalha do Bicentenário da Imprensa no Pará.

Seu ativismo traduz seu compromisso com a defesa do Estado Democrático de Direito. É na senda do ativismo social que atua como diretora de Relações Institucionais do Instituto de Direitos Humanos Dom Azcona e é voluntária em projetos sociais, como o Âncora Marajó, a Fraternidade Católica Ágape da Cruz e a Prelazia do Marajó. Integrou por 15 anos, de 2009 a 2024, a Comissão Justiça e Paz da CNBB Norte II, coordenada pela Irmã Henriqueta Cavalcante e supervisionada pelo bispo Dom José Azcona, falecido no ano passado.

Muito mais que isso pode ser dito sobre Franssinete Florenzano, porque a versatilidade, dedicação e integridade são marcas intrínsecas a sua trajetória.
Honra tanto as suas raízes e exalta a Amazônia e a cultura paraense, que foi a articuladora junto à Secretária de Estado de Educação da edição da preciosa obra de Wilson Fonseca como historiador e escritor, tendo ido buscar pessoalmente e receber das mãos de José Agostinho da Fonseca Neto, filho caçula do Maestro Isoca, em Santarém, e trazer literalmente em seus braços, em aeronave oficial, os doze volumes de “Meu Baú Mocorongo”, publicado pelo Governo do Estado em 2006, em seis volumes lindamente encadernados, numa feliz parceria da Seduc, Secult e Arquivo Público.

Franssinete Florenzano é uma protagonista amazônida, que ecoa nossas vozes ao mundo. Se em tempos passados a literatura retratou as mulheres como objeto, subalternizadas, hoje as mulheres são protagonistas de lutas de seu tempo. Em suas múltiplas linguagens, seja nos contos, prosa, histórias, poemas ou poesias, as mulheres são exaltadas.

A noite de hoje é afirmativa de uma reparação histórica da APL ao empossar mais uma mulher nessa Casa. É um momento de manter acesa a chama de nossa escrita para contar uma outra história, com o protagonismo de nossas letras que ficarão imortalizadas, onde nem o tempo apaga, recolocando as mulheres onde elas devem estar: no topo da história.

A APL hoje ganha uma mulher que se somará a todas e todos nós para ecoar nossas vozes num ano icônico para nossa Amazônia: Santa Maria de Belém do Grão Pará sediará a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP-30.

Amazônia, mãe natureza, águas, florestas, comunidades tradicionais, agroecologia, justiça climática e ambiental, tudo são forças no feminino. Escrita, leitura, prosa, poesia, tudo é sensibilidade no feminino. Vozes, luta, resistência, força, tudo é feminino. Academia, Letras, tudo é feminino.

A Amazônia, embora substantivo feminino singular, é território de todos e todas nós, é plural, diversa, intergeracional. No presente estamos irmanados a uma só voz comprometida com o futuro sustentável: Florestas em pé! Reflorestar mentes, políticas e práticas é o nosso desafio para salvar a humanidade.

Viva a imortal Franssinete Florenzano! Viva as mulheres da APL! Viva a Academia Paraense de Letras! Viva a Amazônia!

*Discurso como oradora oficial na cerimônia de posse de Franssinete Florenzano na APL.

Betânia Fidalgo Arroyo
Betânia Fidalgo Arroyo, Magnífica Reitora da Universidade da Amazônia, presidente reeleita do Conselho de Educação do Estado do Pará, membro do Conselho Municipal de Educação de Belém, preside o Conselho Curador da Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia ( Fidesa) e a Escola de Reitores do Estado do Pará (Fiespa), é Diretora da Escola do Legislativo da Assembleia Legislativa do Estado do Pará e Diretora Regional do grupo Ser Educacional. Doutora em Administração, Mestra em Ensino Superior e Gestão Universitária, é membro da Academia Paraense de Letras, professora orientadora na Must University e docente permanente no Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Comunicação Linguagens e Cultura da Unama, além de pesquisadora/ Coordenadora da linha relações de gênero do grupo de pesquisa GEPIDIi/Unama, pesquisadora no grupo de Pesquisa em Inovação e Gestão organizacional GPIGO/Unama. Tem experiência na área da Educação, com ênfase em Educação Superior, atuando principalmente nos seguintes temas: Gestão Escolar, Construção do Conhecimento, Formação de Professores, Mulher.

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