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Belém do Pará tem sete candidatos a prefeito. Em quem votar? A cidade expressa poder e serve como interlocutora silenciosa, evidenciada em narrativas distópicas nos livros Admirável Mundo Novo, 1984 e Fahrenheit 452, de atualidade impressionante. O conceito de heterotopia se amolda à abordagem das cidades contemporâneas, para além do conceito de utopia e distopia. E tanto na propaganda das campanhas eleitorais quanto na publicidade corporativa e de varejo a criatividade cada vez mais se une à arte digital.

Belhel20XX é uma iniciativa de Marco Antonio Florenzano Mollinetti , mestre e doutor em
Inteligência Artificial, de mostrar Belém do Pará em um universo paralelo distópico do final do século 21 através de técnicas de IA generativa e edição de fotos. Assim ele criou instigantes composições de lugares famosos da cidade, que mantém tradições marcantes. Por exemplo, o Bar do Parque foi concebido por Marco Antonio como um local que sobreviveu ao “progresso” e virou um ponto de encontro de operadores solos que oferecem suas habilidades por um preço correspondente. O Porto de Belém se transformou em um posto de abastecimento de naves cargueiras que trazem as mais diversas mercadorias de todo o planeta, assim como de colônias espaciais mais próximas, e levam o outro negro, o #4ç4í! O que um dia foi chamado Ilha do Combu se tornou um complexo corporativo com as maiores empresas do mundo. A fauna e a flora não escaparam. Árvores foram substituídas por imensos prédios e concreto, e os animais por robôs que patrulham a área. Os antigos moradores ainda usam seus barcos para locomoção e são constantemente monitorados. A Cidade Velha, o Ver-O-Peso e o Entroncamento são outros lugares emblemáticos recriados por Marco Antonio, a partir de fotos da advogada e fotógrafa Silvia Lorena.

Paraenses famosos também têm espaço no projeto. A cantora Joelma foi retratada em ambiente futurista como musa inspiradora em clara alusão a Blade Runner.

“Como essa tecnologia é muito nova e não está consolidada, criar essas composições é um processo ainda manual e que envolve muita tentativa e erro. Mas isso não me frustra de jeito algum, por eu já ser um especialista na área há bastante tempo. Nesse projeto, eu parto do princípio de que Belém se transformou na maior metrópole do Ocidente devido à descoberta de um elemento misterioso que eu chamei de 4Ç4Í, que é uma clara alusão ao nosso açaí, que produzimos aqui na região. Nesse contexto, as composições seguem à risca o estilo cyberpunk, que remete a um estilo pós-industrial vislumbrado nos anos 80. Como se fosse um retro-futurismo, conforme visto em filmes como Blade Runner, aonde tudo é extremamente industrial, cheio de neon, com um tom de cor apagado e mais avermelhado, e as pessoas vestem-se muito espalhafatosamente e mostrando implantes cibernéticos”, explica Marco Antonio Mollinetti, que acaba de retornar do Japão, onde cursou o mestrado e doutorado, deixou disponíveis suas criações no Instagram @belhel20XX.

“Eu posso dizer que o principal objetivo do Belhel20XX é de mostrar para as pessoas, e sobretudo para os habitantes de Belém, as possibilidades e riscos da cidade progredir de forma abrupta, perdendo a sua essência. Ainda que na minha arte eu una o novo ao velho, a tradição ao progresso, a mensagem é de que, numa Belém do final do século, devemos nos lembrar do que fez nossa cidade, a nossa cidade”, comenta Mollinetti, deixando um desafio no ar.

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