0
 

Em 23 de dezembro de 1873, o imperador Dom Pedro II inaugurou a primeira ligação telegráfica entre o Rio de Janeiro e Belém do Pará, Recife e Salvador, as cidades mais importantes do império. O feito histórico fazia parte de um projeto maior de modernização e integração do Brasil, e também foi crucial para a ligação transatlântica com a Europa no ano seguinte. 

Sabedor de que em 1866 o navio inglês Great Eastern estendeu um cabo submarino entre a Europa e a América do Norte, Dom Pedro II, entusiasta das inovações tecnológicas, não perdeu tempo. Em 1872, concedeu ao empresário Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, o direito de explorar a telegrafia elétrica entre o Brasil e a Europa por vinte anos. Coube ao recém construído Hooper, segundo maior navio do mundo no ramo, estender 1150 milhas náuticas de cabo submarino, de Recife até o banco de Bragança, a 75 milhas de Belém. A linha foi inaugurada em setembro de 1873, com trocas de telegramas entre os governantes das duas províncias, e, em dezembro do mesmo ano, concluída a ligação entre as quatro cidades brasileiras.

Seis meses depois, em 1874, partindo do Rio até Cabo Verde, Ilha da Madeira e Carcavelos em Portugal, chegava a primeira transmissão telegráfica. Era uma mensagem de Dom Pedro II informando a façanha para a rainha Vitória e ao rei Dom Luís, de Portugal. O cabo submarino do Barão de Mauá permaneceu em uso até 1973, e a inovação dinamizou os jornais e favoreceu a criação de agências de notícias no país.

Na época, os jornalistas e leitores do Brasil imperial esperavam de 15 a 40 dias para receber cartas ou jornais da Europa, trazidos por navios a vapor. A imprensa brasileira dava notícias de agências internacionais copiadas de jornais estrangeiros (ainda hoje resta essa prática indecorosa, mesmo em tempos de comunicação instantânea). Em 1874, pela primeira vez, os jornais brasileiros puderam publicar notícias da Europa do dia anterior. 

Instalado e operado pela Brazilian Submarine Telegraph Company, o primeiro cabo submarino telegráfico abriu caminho para as agências de notícias nacionais e internacionais, que vendiam informações para a imprensa, investidores e comerciantes de café. Quatro meses antes da chegada do cabo, o banqueiro Manoel Gomes de Oliveira abriu a Gomes de Oliveira & Companhia e inaugurou no Rio a Agência Americana Telegráfica, que funcionou até 1875. Oliveira também fundou um jornal chamado O Globo (sem relação com o criado por Irineu Marinho em 1925), que publicava as notícias de sua agência e servia como veículo de propaganda dos serviços da AAT.

Em julho de 1874, também explorando o cabo, a francesa Havas, fundada em 1835 em Paris por Charles-Louis Havas e considerada a primeira agência de notícias do mundo, começou a distribuir seu conteúdo aos jornais brasileiros, em parceria com a britânica depois renomeada Reuters. A Havas-Reuter inaugurou escritórios no Rio, Buenos Aires, Lima e Montevidéu. A parceria foi até 1876, quando a agência britânica saiu da América Latina.

Havas permaneceu e deteve o monopólio da informação internacional no Brasil e na América Latina durante quase meio século. O Brasil via o mundo através de olhos franceses, e o mundo enxergava o Brasil por meio desse olhar.

Vieram então o teletipo, que permitia aos operadores enviar e receber mensagens usando um teclado como o de uma máquina de escrever e uma saída de papel impresso; e o telex, usado até os anos 1990, que permitia enviar mensagem para um destinatário específico, porque cada máquina tinha um endereço, como os e-mails.

No final do século XIX, os pulsos elétricos do código Morse, criado pelo inventor norte-americano Samuel Morse, corriam pelos cabos submersos levados por condutores de cobre revestidos com látex de guta-percha, polímero natural similar à borracha, que então era tão popular quanto o plástico hoje em dia.

Depois o primeiro cabo curto foi instalado entre a França e a Inglaterra, sob o canal da Mancha, em 1851, e o investidor norte-americano Cyrus Field decidiu passar um cabo entre o Reino Unido e a América do Norte, em 1858. O uso de um condutor muito fino e de um isolamento com porosidade interrompeu a transmissão de mensagens após um mês. Chamado para resolver o problema, o físico irlandês William Thomson, que se tornaria conhecido como Lord Kelvin, verificou que a condutividade elétrica variava bastante entre as amostras de cobre dos cabos submarinos que examinou. Em 1866, a aplicação da lei de Ohm, segundo a qual a intensidade da corrente elétrica varia linearmente, numa escala regular, de acordo com o diâmetro do fio, viabilizou a instalação de outro cabo, dessa vez de alta conectividade, entre a Europa e a América do Norte. O fio era mais grosso e com menor voltagem elétrica. A partir daí os cabos submarinos se espalharam entre os continentes.

Nos anos 1870, o comerciante escocês John Pender criou a WBTC e a Brazilian Submarine Telegraph Company (BSTC), que se fundiriam na Western Telegraph Company (WTC). Revestidos com plástico ou fios de aço, os cabos de fibra óptica, herdeiros dos equivalentes telegráficos, começaram a cruzar os mares no final dos anos 1980, por vezes em caminhos semelhantes. É que o primeiro cabo de telegrafia submarina transatlântica que chegou ao Brasil em 1874 passava em uma rota similar ao cabo de fibra óptica de alta capacidade inaugurado em 2021, que liga Fortaleza a Portugal, com 6,2 mil Km de extensão e a 4 mil metros de profundidade, no fundo do Atlântico.

Campanha em todos os aeroportos contra o feminicídio

Anterior

Se sofro…

Próximo

Você pode gostar

Mais de Notícias

Comentários