Publicado em: 22 de dezembro de 2025
Assistir aos filmes exibidos em Belém ao longo de 2025 foi, acima de tudo, um exercício de atenção redobrada para o fazer cinematográfico no Brasil e no mundo. Em um ano atravessado por acordos espúrios e perda de credibilidade política e econômica, o cinema reafirmou sua capacidade de observar, questionar e reinventar a realidade.
O circuito exibidor e a facilidade de acesso via streaming proporcionaram ao público o que está disponível quando o assunto é cinema. Entre produções nacionais e internacionais, o ano foi marcado por filmes que dialogam com o presente e reafirmam a potência da linguagem cinematográfica.
A seleção a seguir (que não se esgota nesse texto) reúne obras que marcaram o Cinema 2025:
O Agente Secreto. Direção: Kleber Mendonça Filho | Brasil
Kleber Filho retorna ao thriller político com rigor formal e inquietação moral. O filme transforma a sensação de paranoia em tensão narrativa e memória social, usando o espaço urbano como território de vigilância, medo e campo de disputa simbólica. O filme ratifica a maturidade do cineasta pernambucano e o eleva ao patamar dos grandes realizadores do cinema nacional contemporâneo.
Bugonia

Direção: Yorgos Lanthimos | Grécia / EUA
Lanthimos segue explorando o absurdo como espelho social. “Bugonia” desconcerta pelo humor cruel, tensionado pelas relações de lugar no mundo, de lugar no planeta e aprofunda seu cinema do estranhamento ao limite do absurdo. Assim, revela a lógica cruel das relações de poder.
Foi Apenas um Acidente

Direção: Jafar Panahi | Irã
Com a simplicidade que é só aparente, Panahi elabora cada gesto carregado de peso humano. O cinema como ato de coragem, feito com o mínimo e dizendo o máximo, num relato simples e devastador, onde o acaso revela a violência estrutural do cotidiano. O cinema iraniano como gesto político em contexto de exceção e prisões arbitrárias. Excelente filme.
Depois da Caçada
Direção: Luca Guadagnino | Itália
Guadagnino filma o desejo e suas consequências com elegância inquieta. O ritmo contemplativo esconde tensões morais num filme sobre obsessão, culpa e beleza que nunca se entrega totalmente ao espectador. O diretor italiano aposta na contenção e ambiguidade, nas entrelinhas e nos silêncios. Um filme que provoca mais do que conforta, como deve ser.
Apocalipse nos Trópicos
Direção: Petra Costa | Brasil
Documentário urgente que conecta política, religião e poder no Brasil atual. Petra Costa articula imagens e discursos com clareza e impacto emocional. O filme oferece uma leitura clara e incômoda da nação e se impõe como um dos registros mais poderosos do ano.
A Garota da Agulha
Direção: Magnus von Horn | Dinamarca / Polônia
Sombrio e perturbador, o filme do dinamarquês Magnus von Horn mergulha em dilemas morais extremos. A fotografia austera reforça o peso psicológico da narrativa numa obra dura, que exige do espectador adesão ao pacto ficcional e sensibilidade.
O Estrangeiro

Direção: François Ozon | França
François Ozon retorna ao tema da identidade e do deslocamento. O deslocamento cultural e emocional do protagonista ecoa em escolhas fatais que se revelam aos poucos, em pequenos gestos. Com sutileza e ironia, o diretor francês realiza um filme arrojado para narrar inquietações existencialistas.
Flow

Direção: Gints Zilbalodis | Letônia
Sem diálogos, “Flow” é a potência da animação visual, das cores e movimentos. É cinema poético, que fala de sobrevivência e coletividade. Como no cinema mudo, a animação prescinde da palavra para a fruição de uma experiência sensorial sobre cooperação e a vontade de continuar vivo nesse planeta em uma jornada hipnótica, épica e rara.
A Longa Marcha
Direção: Francis Lawrence | EUA
Nesse filme, a noção de cinema como espetáculo não anula a crítica contundente, certeira, pelo contrário, expande a crítica para o que entendemos como juventude deslocada e as mentiras das soluções precárias com base na mitomania em reality shows. Lawrence conduz uma narrativa agonizante sobre sacrifício e autoritarismo, mantendo ritmo e tensão. Cinema de gênero que sabe dialogar com seu tempo.
O Último Azul
Direção: Gabriel Mascaro | Brasil
Mascaro projeta um futuro distópico, melancólico e profundamente brasileiro. Na trama, a velhice é apresentada como território político, que resiste ao controle do Estado. Desafios e afetos são tratados com delicadeza e precisão narrativa. É um dos filmes brasileiros mais potentes do ano.
Pink Floyd at Pompeii – MCMLXXII

Direção: Adrian Maben | Reino Unido
Mais que um registro, o documento musical com a banda Pink Floyd é uma experiência audiovisual atemporal. O diálogo entre som, ruínas e silêncios transforma o concerto de rock em ritual de música e obras de arte em estado puro, na experiência única proporcionada pela ida a uma sala de cinema. Música progressiva como culto cinematográfico que atravessa o tempo.
Homem com H
Direção: Esmir Filho | Brasil
Felizmente, o filme está longe das soluções convencionais da cinebiografia musical. A montagem e a atuação central dão corpo a um personagem maior que a própria imagem pública. Esmir Filho mira em uma linguagem sensorial e emocional e acerta na vitalidade que privilegia a experiência, não a caricatura. Cinema vibrante e ousado.
A diversidade e a qualidade dos filmes assistidos em 2025 evidenciam que o cinema permanece vivo e essencial. A arte cinematográfica segue criativa, provocadora e necessária. Que 2026 traga mais obras capazes de ampliar o olhar, estimular o pensamento crítico e reafirmar o cinema como uma das mais importantes expressões artísticas do nosso tempo.









Comentários