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A coprodução brasileira e indígena YANUNI está entre os pré-candidatos ao Oscar 2026 na categoria de Melhor Documentário. A informação foi confirmada nesta última terça-feira (16), após a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgar a shortlist com os títulos que seguem na disputa em dez categorias da maior premiação mainstream do cinema mundial. A lista reúne 15 produções que concorrem por uma vaga final na categoria documental. Os indicados oficiais serão anunciados em 22 de janeiro, e a cerimônia está marcada para 15 de março de 2026.

YANUNI acompanha a vida e a atuação política de Juma Xipaia, cacica da aldeia Kaarimã, localizada na Terra Indígena Xipaya, no município de Altamira, no Pará. O documentário retrata sua luta contra o avanço do garimpo e da mineração sobre territórios indígenas, articulando resistência política, proteção ambiental e experiências pessoais atravessadas por ameaças constantes. Ao lado do marido, Hugo Loss, agente ambiental do Ibama, Juma enfrenta interesses ilegais e estruturas de poder que colocam em risco a floresta e os povos que dela dependem.

A narrativa se constrói a partir da vivência direta do casal na linha de frente da fiscalização ambiental e da defesa dos direitos indígenas, revelando os custos humanos dessa atuação. Mesmo sob risco permanente, Juma atravessa o processo de maternidade enquanto mantém sua presença ativa nos embates políticos e institucionais. O filme evidencia o entrelaçamento entre vida privada e compromisso coletivo, destacando o protagonismo indígena nas discussões globais sobre justiça climática.

Produzido pela Malaika Pictures, YANUNI tem produção assinada pela própria Juma Xipaia e por Leonardo DiCaprio, além de direção de Richard Ladkani, cineasta reconhecido por obras como Perseguição em Alto Mar e O Extermínio do Marfim. A produção executiva conta com Eric Terena, e a trilha sonora reúne contribuições das artistas indígenas Katu Mirim e Djuena Tikuna.

O documentário foi produzido em associação com Appian Way, Nia Tero, Age of Union, Tellux Group e contou com apoio do Instituto Austríaco de Cinema. A coprodução internacional envolve Áustria, Brasil, Estados Unidos, Canadá e Alemanha.

O documentário acumulou reconhecimento em importantes festivais internacionais ao longo de 2025. Foi exibido como filme de encerramento do Tribeca Festival, em Nova York, e recebeu o Grand Teton, além do prêmio de melhor longa-metragem documental no Jackson Wild Media Awards, considerado o Oscar do cinema de natureza. Em Los Angeles, conquistou o prêmio de Melhor Documentário no Red Nation International Film Festival, o maior festival de cinema de povos originários do mundo. No Brasil, foi laureado com o Prêmio do Público de Documentário Internacional na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Em 2016, aos 24 anos, Juma Xipaia se tornou a primeira mulher a assumir a liderança como cacica do povo Xipaia na região do Médio Xingu. Desde então, sua atuação tem sido marcada pela defesa dos direitos humanos, ambientais e territoriais, enfrentando grandes projetos de infraestrutura, mineração industrial e o garimpo ilegal. Juma sobreviveu a seis tentativas de assassinato em razão de sua atuação. Mais recentemente, passou a integrar a estrutura institucional do Estado ao assumir o cargo de secretária nacional de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas, no Ministério dos Povos Indígenas.

Hugo Loss, outro personagem central da obra, atua há mais de uma década no Ibama e se tornou referência nacional na fiscalização ambiental na Amazônia. Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Antropologia Social pela Universidade de Brasília, Loss liderou operações de combate ao garimpo, à grilagem e às invasões em terras indígenas. Durante o governo de Jair Bolsonaro, foi alvo de espionagem ilegal e acabou exonerado do órgão em 2020, retornando ao Ibama apenas em 2023, após a mudança de governo.

Ao articular a história pessoal de seus protagonistas com disputas políticas e ambientais de escala global, YANUNI constrói um retrato íntimo e, ao mesmo tempo, épico da resistência indígena contemporânea. O filme acompanha a transição de Juma de uma aldeia remota para espaços institucionais de poder, sem perder de vista os vínculos com o território e os riscos impostos por essa exposição.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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