Publicado em: 5 de dezembro de 2025
O jornalista e advogado Donato Cardoso partiu hoje para o plano espiritual. Ele idealizou, fundou e foi o primeiro a presidir a Academia Paraense de Jornalismo, o primeiro sodalício da categoria no Brasil. No terraço da sua residência, na Trav. Mauriti, entre as avenidas Pedro Miranda e Marquês de Herval, no bairro da Pedreira, em Belém do Pará, sob a luz da lua e das estrelas, Donato reunia às sextas-feiras para discutir os rumos do jornalismo, invariavelmente a partir das 20h30, por vezes até a madrugada. Ali foram escolhidos os 40 acadêmicos fundadores, os patronos e a patrona (39 homens e uma só mulher, Helena Cardoso, Cadeira 13, curiosamente a que ocupo desde 2016, sucedendo ao saudoso Manoel Bulcão).
Além de Donato Cardoso (Cadeira 19, patronímica de Eliston Altmann), em três gestões, a APJ já foi dirigida por Abias Almeida, José Valente, Linomar Bahia (decano do jornalismo, 75 anos de profissão), Gilberto Danin, Denis Cavalcante, Walbert Monteiro (duas vezes), Álvaro Martins, Roberta Vilanova (por renúncia do presidente), Franssinete Florenzano (dois mandatos e uma prorrogação) e agora por Octavio Pessoa.
Donato era cheio de histórias e será lembrado por sua alegria de viver. Gostava de contar que, na década de 1960, Roberto Carlos cantou suas modinhas e melodias da Jovem Guarda na carroceria aberta de um caminhão de carga na Mauriti com a Pedro Miranda, no bairro da Pedreira, ao lado de Erasmo Carlos e Wanderleia. Eram mais de sete e meia da noite e os moradores do bairro formaram a plateia a céu aberto. O Trio Ternura era empresariado pelo músico Carlos Imperial, que durante o espetáculo sentou em uma cadeira encostado na mercearia “A Imperial”, onde hoje fica a feira coberta da Pedreira. Cantaram “Calhambeque”, e foi nessa época em que Roberto Carlos tirou sua carteira de motorista profissional em Belém. As moçoilas da vizinhança levaram no colo o filho de Donato, Jorge Luiz, para assistir ao show, e algumas delas pegaram nas mãos do Roberto Carlos e daí por diante não quiseram mais lavar as mãos para não perderem o aroma do cantor. E assim se exibiam: “olhem, eu peguei nas mãos do Roberto Carlos!”.
Na Pedreira também já haviam cantado, dentre outros, Orlando Silva e Dalva de Oliveira, no extinto Pedreira Bar, e Donato, lógico, lá estava.
Outra história de Donato é que em certa manhã de 1962 o então editor de O Liberal Cláudio Sá Leal determinou que ele e o fotógrafo de plantão Ayrton Quaresma fossem entrevistar na Cidade Velha as donas e herdeiras do belíssimo Palacete Pinho, localizado na Rua Dr. Assis, entre Av. Tamandaré e a Trav. Alenquer. Donato ficou impressionado: foram recebidos pelas duas senhoras trajando vestidos longos, cobertas do pescoço aos pés, em estampas florais, e, ante o olhar encantado diante de uma mesa de Jacarandá, uma delas falou que o pai mandara buscar o móvel na Índia. Donato guardou na memória que as entrevistadas eram altas, brancas, simpáticas e esguias, quase coradas, e não eram “pávulas”.
Agora Donato se junta aos demais confrades e confreiras que já passaram à espiritualidade: José Valente, Benedicto Monteiro, Paulo Carvalho, Abias Almeida, Carlos Rocque, Edyr de Paiva Proença, José Ubiratan do Rosário, Acyr Castro, Rubens Silva, Walter Guimarães, Leonam Gondim da Cruz, Odacyl Catette, Orlando Zoghbi, Pádua Costa, Eládio Lobato, Carlos Vinagre, Lucy Gorayeb, Paulo Renato Bandeira, Manoel Bulcão, Walcyr Monteiro, Joaquim Antunes, Álvaro Jorge, Izabel Benone, Sérgio Couto, Álvaro Martins, Édson Franco, Aldemyr Feio, Antônio José Soares, Kedma Faria, Francisco Sidou e José Wilson Malheiros da Fonseca, que deram contribuição significativa para a APJ.
Que esteja em paz e na luz eterna e Deus conforte seus familiares.
Na foto, a última solenidade à qual Donato (de chapéu vermelho) compareceu, minha posse na presidência da APJ, ao lado de Gilberto Danin, Ernane Malato, Roberta Vilanova e Walbert Monteiro.









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