Publicado em: 17 de novembro de 2025
As tecnologias digitais estão envolvidas em nove de cada dez metas climáticas alinhadas pelos países representados na COP30 em Belém do Pará. Mas as propostas não detalham compromissos para redução da pegada ambiental da indústria tecnológica, que gera entre 1,5% e 4% das emissões globais totais de gases do efeito estufa. Por isso, fica difícil responsabilizar as big techs pelo impacto que causam. Essa é uma das conclusões de um relatório do International Telecommunications Union, o braço de tecnologia da ONU, publicado durante o evento.
No meio da tecnologia e inteligência artificial, Amazon, Meta, Microsoft e Google aumentaram em média 150% suas emissões indiretas de gases de efeito estufa entre 2020 e 2023, conforme outro relatório da ITU publicado em junho deste ano.
As NDCs, sigla para “contribuição nacionalmente determinada”, são o instrumento em que países formalizam em quanto – e como – irão reduzir suas emissões. Esse compromisso se dá por setores pré-definidos pelas diretrizes do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática. A maioria se refere às emissões do setor de energia ou indústria. Mas a falta de segmentação por subáreas dificulta o diagnóstico e a cobrança de medidas específicas das big techs, cujas emissões podem estar espalhadas pelas outras categorias. O relatório explica que as emissões ligadas à eletricidade para data centers podem estar na categoria de “energia”, enquanto as resultantes da fabricação de dispositivos e hardware estariam sob a categoria “indústria”, por exemplo, por questões metodológicas.
Até o início da COP, 112 países apresentaram novas metas climáticas, segundo o monitor de NDCs do site Climate Watch. Quase todas fazem referência a tecnologias digitais como facilitadoras para cumprir os compromissos, especialmente na forma de plataformas de monitoramento e verificação ou sistemas de alerta antecipado de desastres. O relatório também destaca o crescente uso de IA para previsões meteorológicas e monitoramento do uso do solo.
As big techs, além de ganhar financeiramente com as soluções que apresentam, criaram um monopólio intelectual sobre as formas de lidar com a crise climática. Assim controlam o discurso que ignora a responsabilidade direta que têm no agravamento da crise ecológica.
Nas metas brasileiras há duas menções à IA, quando é mencionado o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial para o período de 2024 a 2028, reconhecendo que a inteligência artificial é ferramenta capaz de alavancar o desenvolvimento social e econômico do país.
IA é um termo guarda-chuva que abarca soluções com finalidades diferentes e cuja pegada também varia. Uma usada para monitorar desmatamento, por exemplo, tem demanda energética e hídrica e emissões muito diferentes de uma ferramenta intensiva como o ChatGPT, por exemplo.
O relatório foi publicado como parte do Green Digital Action, iniciativa multissetorial liderada pela ITU lançada na COP28, em Dubai. Na COP29, em Baku, 82 países apoiaram a adoção da Green Digital Action Declaration, que estimula o uso de soluções digitais para reduzir emissões, ao mesmo tempo em que estabelece expectativas claras para o setor digital em si, alinhando a infraestrutura digital com as metas do Acordo de Paris.










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