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Em seu poema “Espera” o poeta paraense Antônio Tavernard (1908-1936), comparando a esperança com a primavera, disse que a esperança até nas pedras, faz florir rosais.

“Há sempre no caminho alguém que espera e, na distância alguém que não vem mais. Mas, a esperança é como a primavera que, até nas pedras faz florir rosais” (Trecho do poema “Espera” de Antônio Tavernard)

Porém, sem querer transitar em ruas de pessimismo e derrota, é necessário que numa primavera haja ao menos pedras para que nelas, as rosas floresçam. A sensação de não se ter o mínimo de esperança é devastadora. É como empunhar um arco sem a flecha.  O que faria um arqueiro sem o arco e sem a flecha? E arco e flecha sem arqueiro? São unidades inseparáveis que buscam na completude de seus desígnios a função e o destino de cada objeto e cada ser.

A espera, tão bem poetizada por Tavernard, bem como a paciência, são atributos de um arqueiro. Arqueiros são seres repletos de propósito como Tetsuya, o personagem do escritor Paulo Coelho que se torna o melhor arqueiro de seu país que transmite à um jovem em uma inesperada visita, todos os conhecimentos que possui. Foco disciplina tensão e relaxamento; o elfo da Terra Média, Legolas, com suas habilidades inigualáveis no arco na fantástica história de “Senhor dos Anéis”, escrita por J. R. R. Tolkien; Rainha Suzana Pevensie de “As Crônicas de Nárnia” do britânico C.S. Lewis, que se torna uma experiente arqueira ao receber um arco e um chifre mágico no Natal; Thomas de Hookton um bravo arqueiro da história de Bernard Cornwell que luta bravamente se juntando ao exército na guerra dos cem anos, lutando em batalhas em busca das relíquias de São Jorge; Diana, retratada na mitologia como a deusa da caça e que empunha seu arco e sua flecha como nos Contos de Canterbury, sem esquecer de citar Robin Hood que ao longo dos séculos foi citado em inumeráveis histórias das quais não se conhece sequer a definitiva autoria.

Todos esses guerreiros tem em comum a precisão, a agilidade do manejo, o foco e a capacidade de deslocamento rápido. Mas, é a arte da espera que os torna sábios em sua arte. Viver é esperar. Esperar como se a felicidade fosse uma caça, um propósito, um objetivo por vezes se mostrando quase inalcançável, mas que justifica os meios da espera e qualifica seu intento e propósito. Tudo aquilo que é esperado, antes é formatado na mente do “arqueiro” como objetivo a ser atingido. Tudo é planejado milimetricamente para que sejam justificadas as vitórias em sua busca incessante. Perde todo sentido e todo o propósito a indecisão ou a falta do conhecimento pleno do objetivo a ser alcançado. É como lançar a flecha em meio à escuridão.

Por mais distante que pareça a relação entre a espera e o alvo de um arqueiro, no fundo conferem analogias próximas e argumentos plenamente justificáveis. A espera é o tempo aprisionado da intenção que para o relógio interior, deixando o relógio exterior passar e mostrar os caminhos. Esse sentimento de quem vê possibilidades de realização daquilo que se deseja às por vezes é mais forte que o próprio tempo. “Espera”, substantivo feminino sinônimo de expectativa, aguardo, se torna o fiel da balança quando a esperança é o pilar.

A esperança não se configura como uma espera passiva. Ela é a crença de que é possível se atingir objetivos, por mais difíceis que possam parecer. Essa crença é a força motriz que despeja no corpo hormônios benéficos a saúde. Agir e buscar o desejado é um vetor que faz da esperança em si a própria ação de realização do intento.

Do latim “spes” (significado: Confiança em algo positivo) a esperança tem como característica a ação na busca do desejado e não a sua paciente e passiva espera de que algo possa acontecer, fazendo real o objeto de tal desejo.

No aspecto religioso, a esperança é a firme confiança e expectativa das promessas de Deus cujo objetivo é a vida eterna, conforme os propósitos de salvação por meio de Jesus Cristo. Essa virtude humana promove naturalmente a alegria e bem estar aos que acreditam com fé. A esperança na religião possui diferentes dogmas e caminhos, mas é senso comum nos objetivos de promover o benefício mental.

Na Bíblia, a esperança é a confiança firme e a expectativa confiante nas promessas de Deus, centrada na vida eterna e na salvação através de Jesus Cristo. Diferente do otimismo, ela não se baseia em evidências terrenas, mas na fé, no caráter e na fidelidade de Deus. É uma virtude sobrenatural que confere segurança e alegria mesmo em tempos de aflição, motivando os crentes a aguardar a glória futura de Deus e um universo resgatado da morte e do mal. 

Na Bíblia, em Romanos 15:13, há um trecho que afirma: “Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo”

No mundo da física onde tudo se dá de forma exata e comprovada e não por crenças ou dogmas, a palavra esperança se refere à “esperança matemática” que também é conhecida como o valor esperado. Este conceito de estatística e probabilidade na verdade representa uma variável aleatória e sua média ponderada de valores. Tal fato é bem diverso da esperança no sentimento humano e seu estado de mentalidade positiva.

A transformação social do “ainda não” sugerido na ideia do pensador Ernst Bloch para quem a esperança é o motor, a mola propulsora da transformação social, é a base determinante do sucesso de muitos povos e comunidades que lutam continuamente por seus ideais.

Em cada flecha lançada, o arqueiro se torna um símbolo de luta e determinação em busca do seu alvo.

Em seu romance histórico “O arqueiro e a esperança”, lançado pela Editora Arqueiro, a escritora Lesley Pearse, trata de da história de uma mulher que apesar das dificuldades, tem a força indelével da esperança como principal base para alcançar seus objetivos.

Por fim a esperança é a fé no que virá. Seja na possibilidade do acerto ao alvo, na satisfação das expectativas no florir dos rosais, ou simplesmente na resiliência de continuar seguindo entre as pedras no caminho.

Salomão Habib
Salomão Habib é violonista, compositor, concertista, palestrante, escritor, pesquisador, professor e contador de histórias. Membro da Academia Paraense de Letras, tem seis livros publicados. É o maior pesquisador da obra e vida de Tó Teixeira e tem 8 DVDs e 46 CDs gravados, um na Alemanha. Já se apresentou na Argentina, Portugal, Cuba, Venezuela, Bélgica, Suíça, Itália e Alemanha. É autor de mais de 450 peças musicais, idealizador e coordenador do projeto Cantarolar, reconhecido pelo Unicef.

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