0
 

O estilo do escritor Gabriel García Márquez, Nobel em Literatura, 1982, populariza o realismo mágico, entremeando elementos fantásticos com a realidade. Resolvo falar dessa tendência, para relacionar a angústia humana entre objetos e objetivos, nítidos e imperfectíveis, com a realidade fantástica elaborada por convicções.

Nessa mistura de planos, real e irreal, confrontados e harmonizados, é que a vida se descodifica e se apresenta num plano em que as fronteiras somem e recepcionam a face natural do irreal.

No estilo do escritor, o sentido lógico é relativo, envolvendo situações absurdas que contrariam as leis naturais dos acontecimentos que a razão não explica. A metáfora da sua linguagem seria a razão irracional de seu conteúdo fantástico realista.

Dentro da atualidade em que vivemos, não percebemos que a realidade é mais estranha que a ficção e assim a humanidade caminha, parodiando o grande filme. Num dado momento perdemos a noção do que pode ser real e irreal em nossas trajetórias, cheias de percalços.

O realismo mágico utilizado por Gabriel representa uma característica fantástica da deformação da realidade, inserida em determinadas obras artísticas, livros, pinturas e filmes, capaz de gerar estranheza e mistério. Esse estilo foi marcado por duas guerras mundiais, atingindo o auge no século XX, apesar de iniciado no século XVIII e XIX.

Em sua obra-prima, “100 anos de solidão”, García Márquez idealiza uma cidade onírica, chamada Macondo, onde uma saga de tragédias acontece entre amores, gradualmente no cotidiano das ações fantásticas. Com o método do monólogo, nos estilos de James Joyce, Virgínia Woolf e William Faulkner, o escritor colombiano revela o potencial humano em viver situações assombrosas.

Esse realismo que o envolve, nos envolve, na medida em que nos defrontamos com nossas realidades, existentes e criadas tecendo nossa linha existencial, é aquele que desenvolve nossa forma de pensar, no desafio do que se encontra nossas vidas. Nessa observação, indago qual a realidade fantástica dos seres humanos?

Vivemos um mundo decapitado por todos nós, desde que passamos a empregar nossos interesses, vindo depois a escrita e a vontade de ganhar mais do que já possuímos. Não se apercebia, o próprio homem, que estava construindo uma via caracterizada no materialismo que até hoje vigora e desafiaria a incorporalidade.

As duas grandes guerras, anunciaram a tendência humana ao antagonismo e terceira já se encontra em nossas vidas com a devastação ambiental, o perigo da extinção da raça, a substituição da inteligência natural e o isolamento humano de si próprio pelo exagero de recursos tecnológicos.

Em sua realidade fantástica, o ser humano foi capaz de criar a bomba atômica, extinguindo, em poucos instantes, milhares de pessoas, quadro dantesco, demonstrando a insensibilidade da raça que se apresenta como evoluída. A realidade fantástica da ficção literária, nos fascina, mas a fantástica realidade da ação humana, lutando por superioridade e individualidades, desmorona a representação da raça. Observando assim, o realismo mágico de Gabriel García Márquez é mais interessante do que os feitos humanos estampados nos jornais.

Ernane Malato
Ernane Malato é escritor, jurista, humanista, mestre e doutorando em Direitos Humanos pela PUC/SP e FADISP/SP, professor e pesquisador da Amazônia em diversas áreas sociais e científicas no Brasil e no exterior, membro das Academias Paraenses de Letras, Letras Jurídicas, Jornalismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Pará, atualmente exercendo as funções de Cônsul Honorário da República Tcheca na Amazônia.

Amalep com novos membros e mais duas cadeiras

Anterior

Homem Elástico 

Próximo

Você pode gostar

Comentários