Publicado em: 13 de julho de 2025
Um passarinho vem à minha janela, todos os dias, para degustar das frutas que em sua homenagem deposito. Às vezes esqueço essa gentileza e acordo com o seu trinado docemente impaciente.
Há alguns anos iniciei relacionamento com esse viajante dos ares que passou a me falar muitas coisas preocupantes. Me disse que o nosso mundo está inseguro e os passarinhos pretendem nos orientar.
A recente enchente do Texas, no dia em que os EUA comemoravam sua Independência, levando algumas crianças, adultos, foi anunciada pelos passarinhos que mudaram suas pousadas, mas ninguém percebeu. Rapidamente o rio transbordou e a tragédia aconteceu.
Me disse, o ser alado, que o planeta está sendo atingindo, gradativamente, por seu principal habitante e os passarinhos estão preocupados, querendo conversar sobre devastação ambiental e desencontro social.
Procuro acreditar que sou seu confidente e num clima de confiança mútua, nos locupletamos com emoções e sensibilidades, ele com minhas especiarias e eu com seus ensinamentos. Em outras janelas, outros passarinhos fazem o mesmo, mas precisam ser alimentados com frutas.
As farturas das florestas tropicais andam escasseadas, mas nos visitam porque desejam ensinar o que aprenderam quando a arca de Noé aportou no Monte Ararate e se perderam no vento.
Viajantes das nuvens, estilhaços vibrantes dos céus, os passarinhos são conectados com o plano divino, ensinando-nos virtudes que nem sempre aprendemos. Vivem ao relento, livres no espaço, cientes de que a humanidade necessita superar desigualdades e ultrapassar individualidades.
São como crianças que encantaram o Messias por fazerem parte dos reinos dos céus. Do nada surgem e de repente somem, demonstrando que são seres encantados.
Batizei esse visitante especial de Hermes, em homenagem ao mensageiro de Zeus que estabelecia conexão com os humanos. O mitológico Hermes era emissário da deusa Themis, filha de Zeus, que materializava justiça entre os humanos que constantemente a desfaziam. Hermes possuía asas nos calcanhares e carregava um caduceu com duas serpentes entrelaçadas.
Hermes, o passarinho, revelou que o nível dos oceanos vem subindo, por conta do derretimento das geleiras dos árticos. Reclamou da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento, aumentando a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Criticou, finalmente, a ausência do multilateralismo entre as nações.
Lembrou que seus avós aconselharam o físico americano Oppenheimer a não prosseguir com a projeto nuclear Manhattan que criou a bomba atômica, mas não foram ouvidos, tampouco alimentados quando buscavam frutas no sítio do cientista em Los Alamos. Lamentou pelos passarinhos fulminados na explosão de Hiroxima e Nagasaki, juntos com 210 mil pessoas no final de 1945.
O que mais me ensina esse alado convidado matutino? Me ensina que somos responsáveis pelos nossos atos, havendo sempre uma reflexão e um aprendizado no fim de cada história. Me ensina, também, que a esperança não morre.
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