Publicado em: 15 de junho de 2025
Dalcídio Jurandir nasceu Darcidio José Ramos na Rua Samuel Mac Dowell, bairro do Campinho, em Ponta de Pedras, arquipélago do Marajó, no dia 10 de janeiro de 1909, conforme declaração para o registro civil no Cartório Malato.
O pai era o branco Alfredo Nascimento Pereira, de origem portuguesa, rábula da vila, capitão da Guarda Nacional, e a mãe Margarida Ramos, jovem negra local. No ano seguinte a família se mudou para a vizinha Cachoeira do Arari, onde os pais oficializaram a união e os filhos adotaram o nome paterno, retificando para Dalcídio José Ramos Pereira.
O personagem Alfredo transita em 9 de 10 obras do escritor. As aventuras de Alfredo, nome do pai de Dalcídio e alter ego nas suas histórias, permeiam a série de romances desde “Chove nos Campos de Cachoeira”, no qual o menino traça planos de morar e estudar na capital, imerso na fantasia do seu caroço de tucumã, ao qual manifesta seus desejos mais íntimos e seus medos mais viscerais.
O “Dia de Alfredo” em 16 de junho (data da morte de Dalcídio Jurandir) foi instituído pela lei municipal nº 9.164/2015, iniciativa do vereador Moa Moraes, sancionada pelo então prefeito de Belém Zenaldo Coutinho Jr., atual ocupante da cadeira nº 12 da Academia Paraense de Letras, mas nunca foi celebrado oficialmente, protagonismo que coube à APL, que a partir deste ano inclui a efeméride de modo pioneiro no calendário cultural do Pará, à semelhança do Bloomsday em referência ao personagem Leopold Bloom, de James Joyce, no romance Ulysses, marco da literatura mundial, publicado em 1922. O sobrinho de Dalcídio, José Varella Pereira, é o idealizador do Dia de Alfredo, como forma de divulgar a obra do gigante da literatura brasileira, que partiu do regional para o universal.
Romancista, contista, cronista, poeta, jornalista e político, Dalcídio Jurandir difundiu ao mundo elementos constitutivos da identidade cultural amazônica, a gente marajoara, dando ênfase ao ser humano, seus medos, angústias, sentimentos e sobrevivência. Publicou onze romances em vida, dez deles no que ficou conhecido como o Ciclo do Extremo-Norte (Chove nos Campos de Cachoeira, Marajó, Três Casas e um Rio, Belém do Grão-Pará, Passagem dos Inocentes, Primeira Manhã, Ponte do Galo, Chão dos Lobos, Os Habitantes e Ribanceira), além de Linha do Parque, publicado também na Rússia.
Premiado pela Academia Brasileira de Letras em 1972 pelo conjunto da sua obra, foi contemporâneo de Graciliano Ramos, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Wilson Louzada e Rachel de Queiroz, dentre tantos outros que reconheceram o seu imenso talento. Atuou nos principais jornais de circulação regional e nacional em sua época. Integrou a icônica Academia do Peixe Frito, que reunia brilhantes intelectuais parauaras.
O professor doutor Paulo Nunes, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, escritor e pesquisador, estudioso da obra dalcidiana e maior especialista no tema, curador do acervo Dalcídio Jurandir e seu biógrafo, defendeu sua dissertação de mestrado sobre “Chove nos Campos de Cachoeira”, organizou a edição do volume “Poemas Impetuosos”, de Dalcídio, prefaciou a reedição em 2017 de “Ponte do Galo” e é autor de “Dalcídio Jurandir, o reinventor do caroço de Tucumã”. É ele o conferencista do evento, que terá como oradora oficial a professora doutora Betânia Fidalgo Arroyo, titular da cadeira n° 2 da APL, reitora da Unama, presidente do Conselho Estadual de Educação e da Fundação Escola do Legislativo do Pará.
A sessão da APL tem acesso livre e gratuito, permitirá debate e começa nesta segunda-feira, 16, pontualmente às 19h. Na ocasião será lançada a Unilivre Marajó – Universidade Livre do Marajó, por José Varella Pereira. Quem ama literatura e o Marajó não pode faltar.
A sede da Academia Paraense de Letras fica na Rua João Diogo, nº 235, bairro da Campina, em Belém do Pará, ao lado do Colégio Estadual Paes de Carvalho.
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