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Com um belo discurso da Magnífica Reitora da Unama, Betânia Fidalgo Arroyo – especificando feminilidades do próprio idioma e o papel da mulher na sociedade brasileira – presença na mesa oficial do aclamado poeta amazônico, João de Jesus Paes Loureiro, o dedilhado do inigualável violonista paraense, Salomão Habib, acompanhando a voz lírica da cantora internacional, Gabriella Florenzano, e mais a oração da própria festejada expressando a importância da dimensão feminina, a jornalista Franssinete Florenzano tomou posse em 27 de fevereiro de 2025, na cadeira 29 da Academia Paraense de Letras.

De seu vasto curriculum lido na tribuna, extraio o mais importante: sua coragem de manter um portal jornalístico de longo alcance, este mesmo que me dirijo ao leitor, criado por si em homenagem à cultura amazônica, focado em intelectualidade, causas sociais e direitos humanos, na insaciável observação daquilo que lhe parece irregular, injusto, digno de reflexão e correções por parte de quem precisa ajustar.

Na era da modernidade, jornalistas autônomos se levantaram para expressar liberdades, Carlos Mendes, Lúcio Flávio Pinto, Olavo Dutra e outros vários em assuntos convergentes e divergentes, mas todos expressando a importância da informação que muitas matérias corriqueiras ocultam.

A Academia Paraense de Letras se forma por escritores, prosadores, romancistas, contistas, cronistas, poetas, dramaturgos, pintores, mas também por jornalistas que em suas tarefas promovem conhecimento. Cumprindo papel primordial, Franssinete é a dedicada jornalista, funcionária pública, escritora, mulher, mãe e dona de casa que agora enobrece o Silogeu Paraense, formado, em sua maioria, por homens que aplaudem a sua entrada.

Sobre a dimensão feminina explorada nessa abrilhantada noite, venho escrevendo um livro com visão teológica-ficcional que envolve Deus, o espetáculo da Criação, Adão e Eva, destacando a representação da mulher, dizendo assim em um trecho:

“… Da finalidade humana surgiriam as emoções e o livre arbítrio que haveriam de fugir ao controle do Criador. Deus, então, ordenou a evolução da vida e no sétimo dia quis descansar.

Ao melhor fruto de sua obra – o primeiro ser humano – denominado Adão, ofertou um belíssimo jardim que denominou Éden, verdadeiro Paraíso rodeado por quatro rios: Pisom, Giom, Hidéquel e Eufrates.

No centro desse jardim plantou uma árvore especial, alertando que não comesse de seus frutos, por representarem a ciência do bem e do mal que ainda não era o tempo de os conhecer. Se assim não fosse, Adão conheceria a mortalidade que somente Deus controlava.

Feliz por sua criação, o Criador entregou a Adão mais dois presentes: a autorização para dar nomes aos seres vivos e a companhia de outro ser especial – versão mais aperfeiçoada de Adão – lindo como o nascer do sol, delicado como uma rosa desabrochada, forte para suportar intempéries, cujo nome de batismo foi Eva, com a função de fazer e também ser feliz, compartilhando a criação da espécie em suas tendências e heranças genéticas que só Deus até aquele momento sabia fazer.

Extraída de Adão com melhores adaptações, Eva haveria de parir a continuidade da humanidade e por isso representaria a maternidade que até aquele momento Deus controlava. Nascia autorizada com participação na criação humana e defesa sem limites da sua prole.

Apesar desses divinos privilégios, a primeira fêmea, enfrentaria resistências para demonstrar equivalência ao companheiro no decorrer de sua trajetória. Ocultarão sua identidade e inteligência, como as das primeiras filósofas do mundo antigo: Arete de Cirene; Aspásia de Mileto, companheira de Péricles; Cornélia Africana; Diotima de Mantineia; Fávia Cléa; Hipárquia, esposa de Crates; Hipátia de Alexandria; Sosíprata de Éfeso, Temistocleia e outras mais.

Contra si questionarão suas aptidões, talentos, sentimentos e emoções. Enfrentará masmorras, submissões psicológicas, violências físicas, desigualdades e por suas intuições sensitivas, será submetida a fogueiras em nome de seu próprio Criador que tanto pediu para que não fosse colocado seu santo nome em vão…”

Por fim, senhores e senhoras, levaria a culpa de Adão por ter comido o fruto da árvore proibida, como se a fome não fosse do próprio Adão, assim como vontade e teimosia, ou a própria serpente não tivesse competência, desde que nasceu, para enganar.

Assim foi feita a imortalidade da mulher na melhor versão humanitária, aquela que guarda por nove meses o rebento do amor, a que zela e protege o resto da vida aqueles que muitas vezes se elevam para negar sua importância.

Desde a criação, portanto, a dimensão feminina, em sua especialidade, completude, talento e maternidade, ainda representa um grande desafio ao mundo masculino. A imortalidade, dessa maneira, Franssinete, sempre foi feminina.

Ernane Malato
Ernane Malato é escritor, jurista, humanista, mestre e doutorando em Direitos Humanos pela PUC/SP e FADISP/SP, professor e pesquisador da Amazônia em diversas áreas sociais e científicas no Brasil e no exterior, membro das Academias Paraenses de Letras, Letras Jurídicas, Jornalismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Pará, atualmente exercendo as funções de Cônsul Honorário da República Tcheca na Amazônia.

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