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No último dia 13 de novembro, a Nature Communications publicou o artigo “Uncontrolled Illegal Mining and Garimpo in the Brazilian Amazon” (“Mineração ilegal descontrolada e garimpo na Amazônia brasileira”, em tradução livre), um estudo multidisciplinar, assinado por uma robusta equipe de cientistas – em sua maioria vinculados à instituições amazônicas -, liderada por Cesar Guerreiro Diniz e Luiz Cortinhas, sócio fundadores da Solved – Solução em Geinformação, que aborda como a mineração ilegal, ou garimpo, na Amazônia brasileira tem avançado de forma alarmante, trazendo consequências devastadoras para o meio ambiente e as comunidades locais, detalhando a extensão do problema, destacando os municípios mais impactados, os danos ambientais e sociais, além das lacunas nas políticas públicas voltadas para combatê-lo. 

A pesquisa revela que quatro municípios concentram 41,7% da área nacional afetada pelo garimpo: Itaituba, Jacareacanga, São Félix do Xingu e Ourilândia do Norte. Juntas, essas localidades somam aproximadamente 1.097 km² de território impactado. A extração de ouro, principal motivação para a expansão da mineração ilegal, é impulsionada pela alta demanda internacional por metais preciosos e pela frágil fiscalização nas áreas remotas da Amazônia.

A destruição ambiental provocada pelo garimpo ilegal é profunda e multifacetada, abrangendo desde o desmatamento extensivo, que elimina vastas áreas de floresta e destrói habitats naturais, até a poluição por mercúrio, utilizado na separação do ouro, contaminando rios, lençóis freáticos e prejudicando tanto ecossistemas quanto a saúde humana. Além disso, a atividade degrada o solo, gerando erosão e infertilidade, dificultando a regeneração da vegetação, e fragmenta habitats, comprometendo a migração e a sobrevivência de diversas espécies – inclusive a humana.

Como consequência, o desmatamento associado ao garimpo também amplifica as emissões de gases de efeito estufa, agravando os impactos do aquecimento global. Esses impactos ambientais ameaçam a integridade ecológica da Amazônia, colocando em risco sua capacidade de funcionar como reguladora climática global.

O garimpo ilegal tem um impacto devastador sobre as comunidades indígenas, impondo uma série de desafios que vão desde a invasão de territórios, violando direitos e gerando conflitos, até a contaminação ambiental, com a poluição de rios essenciais para a sobrevivência dessas populações, muitas vezes resultando em graves problemas de saúde devido à exposição ao mercúrio.

Apesar de esforços como operações de fiscalização realizadas pelo IBAMA e pela FUNAI, além do uso de monitoramento por satélite, a eficácia dessas iniciativas é limitada. As ações de combate são frequentemente esporádicas e carecem de continuidade, enquanto os dados gerados por tecnologias avançadas nem sempre se traduzem em intervenções práticas.

Além disso, a presença de garimpeiros ilegais intensifica os confrontos armados e as ameaças, enquanto a destruição dos recursos naturais compromete práticas tradicionais como caça, pesca e agricultura. Esses fatores também afetam profundamente os aspectos culturais e espirituais, já que a relação com a natureza é central para os rituais e a identidade desses povos. A permanência de garimpeiros também aumenta o risco de disseminação de doenças, como malária, em comunidades já vulneráveis.

A fragilidade das leis que restringem o uso de mercúrio e a dificuldade de aplicá-las em regiões remotas comprometem a proteção ambiental. A situação é agravada por pressões políticas e econômicas contrárias à preservação de terras indígenas, dificultando ainda mais a contenção da exploração ilegal.

O estudo enfatiza a necessidade de uma ação coordenada entre governos, organizações internacionais e comunidades locais para enfrentar os desafios do garimpo ilegal na Amazônia. As recomendações incluem o fortalecimento da fiscalização, com operações contínuas de monitoramento; a promoção de alternativas econômicas sustentáveis para reduzir a dependência da mineração nas comunidades locais; a proteção efetiva de terras indígenas, assegurando sua demarcação e segurança; a cooperação internacional para obter financiamento e apoio técnico em iniciativas de conservação; e campanhas de educação e conscientização que informem sobre os impactos do garimpo e a importância de preservar o bioma amazônida.

Para ler o artigo, clique aqui.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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