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O líder indígena, ambientalista, escritor, poeta e filósofo Ailton Krenak, membro da Academia Brasileira de Letras, uma das mais importantes vozes na defesa das florestas e da cultura dos povos originários, foi palestrante no I Seminário de Educação Ambiental, dentro da da 21ª edição dos Diálogos de Saberes da Secretaria Municipal de Educação, no auditório Benedito Nunes, da Universidade Federal do Pará. Ele também participou de uma roda de conversa promovida pela Semec no Cine Dira Paes.

Discorrendo sobre “A natureza do tempo presente: reflexões sobre crise ambiental, cosmologia indígena e ancestralidade”, Krenak compartilhou sua experiência e conhecimento acerca das questões ambientais e da crise climática. “Uma parte de nós acredita que, se essa terra se tornar inabitável, podemos ir para outro planeta”, pontuou Krenak. “O homem, bicho pequeno na Terra, enjoa da Terra. Quer dizer, enjoa desse planeta magnífico, maravilhoso”. E prestou tributo ao líder quilombola Nego Bispo, do Piauí. “Eu acho maravilhoso alguém que vive uma situação de privação, que sofre racismo, preconceito, segregação e tudo, mas levanta a cabeça e fala, você não pode ter medo de pensar. É maravilhoso, porque pensar é a libertação. Para além de qualquer outra estratégia, primeiro a gente tem que pensar, ter coragem de pensar”.

Ele fustigou a hipocrisia dos que tentam minimizar e “empurrar com a barriga” a tragédia ambiental. “É mais ou menos como você criar uma dívida enorme e passar o calote para os seus filhos, para os seus netos. Então, é muita cara de pau da sociedade ampla, complexa, que nós nos constituímos no mundo hoje, passar essa conta do clima para as gerações que virão. Tipo assim, o planeta quando ficar ruim mesmo, quem vai sofrer com isso não sou eu, são os nossos descendentes. E a outra hipocrisia é dizer que esse período de agravamento do clima no planeta vai ser resolvido”.

Krenak enfatizou que “a secura dos nossos rios, a mudança dos climas regionais, o desaparecimento de alguns desses ecossistemas que a gente achava que era eterno, agora a gente está vendo que não é. Nós estamos vendo que não é porque temos a possibilidade de fazer o teste vivo, visual. Vocês sentem aqui a mudança da temperatura no corpo”.

Sobre a COP30, o imortal alertou que as comunidades que vivem na floresta não podem ser ignoradas em mais um evento global no qual a economia dita as regras. “Se queremos realmente mudar o rumo, precisamos ouvir essas populações e garantir que elas sejam protagonistas”. Krenak advertiu que a conferência, embora ponha a Amazônia em evidência, pode transformar a região em palco simbólico para debates que, na prática, favorecem interesses econômicos globais em detrimento das populações locais. “Transformar a Amazônia em um símbolo é uma maneira de sublimar a realidade climática, os problemas sociais, a pobreza e a desordem ambiental que vivemos no planeta. É como desviar o foco do que realmente importa. A grande discussão sobre as matrizes energéticas aconteceu na COP da Arábia Saudita, um país que pretende continuar extraindo petróleo até 2050. Depois tivemos a COP29 no Azerbaijão, onde o presidente abriu a conferência dizendo que o petróleo era um presente de Deus. Agora será na Amazônia, e alguém muito provavelmente vai dizer que ela também é um presente divino”.

Revelou que essa narrativa serve para camuflar a real intenção desses eventos, que é mapear recursos naturais ainda disponíveis para a exploração econômica. “É um inventário de onde ainda existem rios, florestas e os chamados recursos naturais para que o capitalismo continue crescendo. O debate sobre o clima acaba sendo apenas um pretexto”, afirmou, lembrando que grandes corporações, como mineradoras e bancos, são os principais patrocinadores das conferências climáticas. “São essas grandes empresas que patrocinam as rodadas climáticas, seja aqui no Brasil, seja na África ou na Ásia. Elas tocam o disco. Cabe a nós decidirmos como e onde nos posicionamos, porque, se não formos, elas continuarão fazendo do mesmo jeito”.

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