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Reunindo mais de 220 itens entre obras de arte, vídeos, documentos históricos e fotográficos, a exposição “Judeus na Amazônia”, a maior realizada pelo Museu Judaico de São Paulo desde sua inauguração em 2021, está em cartaz até o dia 4 de maio de 2025. Com curadoria conjunta de Aldrin Moura de Figueiredo, Ilana Feldman, Mariana Lorenzi e Renato Athias, é fruto de uma pesquisa de dois anos realizada pelo MUJSP e ocupa três andares de sua sede. Subdividida em 13 núcleos temáticos, os espaços exibem recortes como embarcações, trocas comerciais, mulheres, ativismo ambiental, rituais e os entrelaçamentos entre a cultura judaica, marroquina e amazônica, lançando luzes sobre a imigração judaico-marroquina, entre 1810 e 1930, quando centenas de famílias que viviam em cidades como Tânger, Tetuan, Fez e Marrakesh se estabeleceram na Amazônia e atuaram como regatões, os mascates dos rios, levando e trazendo mercadorias das cidades, e ficaram conhecidos como os judeus caboclos.

Detalhes curiosos estão na mostra, como o sotaque judeu do boi-bumbá de Parintins (AM): entidades das religiões afro-brasileiras, como “Seu Jaguarema”, se apresentam com a estrela de Davi no peito reivindicando sua ancestralidade hebraica; o tacacá kasher, servido com tucupi e pescada amarela, sem camarão.

O fascinante universo da imigração judaico-marroquina permeia essa exposição, historiando que os judeus sefarditas (descendentes das tradicionais comunidades judaicas da Península Ibérica, Sefarad), fugindo da Inquisição na Espanha e Portugal, chegaram até o norte do Brasil nas primeiras décadas do século XIX e teceram com suas vidas uma história presente na região há mais de dois séculos. Advinda especialmente da costa do Marrocos, mas também de Cabo Verde e Açores, essa migração teve seu ápice durante o ciclo da borracha (1880-1910), mas seus ecos se desdobram até hoje através de práticas culturais, gastronômicas e linguísticas.

De quebra, quem visita a exposição pode comprar na lojinha do MUJ livros sobre a temática, como “Eretz Amazônia”, de Samuel Benchimol; Os Judeus da Ilha do Marajó”, de Iria Chocron, Sergio Simon e Karine Sarraf; “Hakitia – Amazônia Hebraica”, de Felipe Goifman; “Onde estão as flores?”, de Ilko Minev; “Histórias da beira do rio: “O fim do mundo e outras histórias de beira-rio”, de Elias Salgado; e “A Majestade do Xingu”, de Moacyr Scliar.

“Judeus na Amazônia” é apresentada pelo Instituto Cultural Vale, com patrocínio do Santander Brasil, da Gera Amazonas e apoio da Bemol e CIAM, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e deveria vir para Belém, onde existem várias sinagogas antigas em nível nacional, além do que a exposição trata justamente de judeus na Amazônia. 

O Museu Judaico de São Paulo fica na Rua Martinho Prado, 128. Os ingressos custam R$20, com direito a meia, e aos sábados a entrada é gratuita.

Fotografia do Rabino Moisés Elmescany na Esnoga Beit Mescany, fundada por ele em Belém. Belém. Acervo do MUJ, por Duda Santana, 2022.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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