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O sarampo, doença viral altamente contagiosa e prevenível por vacinação, voltou a figurar como uma grave ameaça à saúde pública global, especialmente na Europa. No mundo inteiro, o número de casos de sarampo cresceu, atingindo 10,3 milhões em 2023, representando um aumento de 20% em relação ao ano anterior. De acordo com um relatório conjunto da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a região europeia registrou mais de 306 mil casos de sarampo em 2023, um aumento de mais de 200% em relação aos cerca de 99.700 casos de 2022. 

De acordo com Natasha Crowcroft, conselheira técnica sênior para sarampo e rubéola na OMS, a principal causa desse aumento é a estagnação na cobertura global de imunização. “Todos os países do mundo têm acesso à vacina contra o sarampo, pelo que não há razão para que nenhuma criança seja infectada com a doença e nenhuma criança morra de sarampo”, afirmou. 

Apesar de a vacina ser amplamente acessível, em 2023 apenas 83% das crianças receberam a primeira dose da imunização, enquanto menos de 75% tomaram a segunda dose. A OMS recomenda uma cobertura mínima de 95% para evitar surtos. Além disso, o relatório destacou que 22 milhões de crianças não receberam sequer a primeira dose no ano passado, com a maioria vivendo em países de baixa renda ou em contextos frágeis e afetados por conflitos.

Embora a Europa ainda registre números absolutos menores do que outras regiões, o aumento proporcional nos casos de sarampo é preocupante. A Romênia lidera entre os 30 países da União Europeia e do Espaço Econômico Europeu, com mais de 14 mil casos reportados entre setembro de 2023 e agosto de 2024, de acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC). No total, a região notificou mais de 18 mil casos nesse período.

Dados da OMS e do CDC estimam que 107.500 pessoas, a maioria crianças com menos de cinco anos, morreram de sarampo em 2023. Embora isso represente uma diminuição de 8% nas mortes em comparação com 2022, a mortalidade permanece alta para uma doença completamente prevenível com vacinação.

O sarampo, além de ser fatal em muitos casos, pode causar efeitos devastadores a longo prazo. Entre as complicações mais graves estão cegueira, pneumonia e encefalite — uma infecção cerebral que pode levar a danos permanentes. As crianças menores de cinco anos são as mais vulneráveis, especialmente aquelas que vivem em condições de desnutrição ou com acesso limitado a serviços de saúde.

Embora a redução nas mortes tenha sido atribuída a surtos em regiões com melhor estado nutricional infantil e maior acesso a serviços médicos, os números ainda expõem uma realidade preocupante: o sarampo permanece uma ameaça séria, principalmente em países de baixa renda e em regiões afetadas por conflitos.

No final de 2023, 82 países haviam alcançado ou mantido a eliminação do sarampo, incluindo o Brasil, que foi recentemente reconfirmado como livre da doença endêmica. Com esse marco, a Região das Américas, sob a OMS, recuperou o status de região sem sarampo endêmico.

No entanto, a situação é diferente em outras partes do mundo, especialmente nas regiões africana e do Mediterrâneo Oriental, onde surtos são frequentes devido a lacunas na cobertura vacinal. Em muitas dessas áreas, desafios como conflitos, instabilidade social e fragilidade dos sistemas de saúde dificultam a imunização de todas as crianças.

A vacinação contra o sarampo é uma das maiores conquistas da saúde pública global, tendo evitado 60,3 milhões de mortes desde 2000, segundo o relatório. Contudo, os a hesitação vacinal, a desinformação, o negacionismo e a dificuldade de acesso em áreas vulneráveis colocam em risco esses avanços históricos.

No Brasil, a situação é inversa. Após perder o certificado de eliminação do sarampo em 2019 devido a surtos e à queda na cobertura vacinal, o país recuperou esse status em novembro de 2023. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) reconheceu os esforços brasileiros para aumentar a cobertura vacinal e interromper a transmissão do vírus. 

Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2024, a cobertura vacinal da primeira dose da vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, alcançou a média dos 93%. Esses índices mostram uma melhoria significativa em relação aos anos anteriores, quando a cobertura vacinal estava em declínio. A vigilância contínua e campanhas de conscientização são essenciais para garantir que a população permaneça protegida contra o sarampo e outras doenças preveníveis por vacinação. A OMS destacou o Brasil como modelo de como políticas de saúde pública robustas podem reverter surtos e proteger populações vulneráveis.

Foto: © WHO / Danil Usmanov

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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