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O jornal francês Le Monde publicou uma investigação intitulada “StravaLeaks” que revelou que o aplicativo de atividades físicas Strava, amplamente utilizada por corredores e ciclistas, está expondo informações sensíveis sobre a localização e movimentação de líderes mundiais. Bem, não exatamente o aplicativo, mas o uso descuidado dele por agentes de segurança. A reportagem concluiu que guarda-costas de presidentes e chefes de estado de diversos países, incluindo Estados Unidos, França e Rússia, inadvertidamente registraram e divulgaram detalhes confidenciais enquanto usavam o aplicativo para monitorar seus treinos.

O Le Monde identificou que agentes de segurança que acompanham figuras públicas, como Joe Biden, Donald Trump, Emmanuel Macron, Kamala Harris e Vladimir Putin, usaram o Strava em momentos de folga durante as missões. Esses registros, que incluem percursos de corrida e ciclismo, revelaram movimentações que deveriam ter permanecido em segredo. Em um dos casos analisados, um agente dos serviços secretos americanos, destacado para a segurança do presidente Biden, fez uma corrida nas proximidades do hotel onde o presidente se hospedaria para um encontro com o líder chinês em São Francisco, em 2023, deixando assim uma rota de localização publicamente disponível horas antes da chegada de Biden.

A investigação revelou que pelo menos 26 agentes americanos, 12 franceses e seis russos têm perfis públicos na aplicação, permitindo que qualquer pessoa acompanhe suas atividades. Essa prática fez com que a localização de pelo menos 10 hotéis e outros locais sigilosos, como mansões no Mar Negro associadas a Vladimir Putin, fossem revelados. 

Entre os exemplos citados pelo Le Monde está a visita de Vladimir Putin a Brasília, em 2019, para uma cúpula do BRICS. Um agente russo, designado para garantir a segurança do presidente, registrou uma corrida de oito quilômetros a partir do hotel onde Putin posteriormente se hospedaria. A informação, compartilhada inadvertidamente, foi divulgada na internet, mostrando a chegada antecipada da equipe de segurança em um local confidencial.

No caso da presidência francesa, o jornal constatou que atividades registradas por guarda-costas permitiram mapear mais de 100 viagens de François Hollande e Emmanuel Macron desde 2016, revelando com antecedência onde os presidentes se hospedariam em missões internacionais, como a viagem de Macron a Vilnius, na Lituânia, em 2020, e ao funeral da Rainha Elizabeth, em Londres, em 2022.

As reações das autoridades variaram entre desvalorizar o impacto na segurança e afirmar que medidas estão sendo consideradas. Em comunicado, o Serviço Secreto Americano afirmou que seus agentes não utilizam dispositivos eletrônicos pessoais durante missões, mas que isso não se aplica a momentos de folga. A instituição declarou estar avaliando a necessidade de reforçar as diretrizes de segurança digital. Já o gabinete de Macron assegurou ao Le Monde que a segurança do presidente está garantida, embora a investigação tenha exposto falhas significativas na proteção de informações sensíveis.

A prática de registrar atividades físicas e, assim, compartilhar inadvertidamente locais confidenciais também revelou endereços residenciais de vários agentes, além de fotos e informações pessoais, conforme apontado pela investigação. Estes dados incluem hobbies e detalhes sobre familiares, criando um risco adicional ao detalhar padrões de comportamento e locais frequentados.

O Strava permite que os usuários registrem percursos, distância e outros dados de treino, que podem ser sincronizados com smartphones e dispositivos como relógios inteligentes. A plataforma, no entanto, possui configurações de privacidade que, se não ativadas, permitem que qualquer pessoa visualize os dados compartilhados. Os agentes, por negligência ou falta de orientação específica, mantiveram perfis públicos e sem restrições de privacidade, possibilitando que qualquer pessoa acompanhasse suas movimentações. O Le Monde apontou para o fato de que, embora governos tenham sido notificados desses riscos desde 2018, poucos avanços foram feitos.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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