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O Comitê Nobel Norueguês anunciou hoje, 11 de outubro, o laureado do Prêmio Nobel da Paz de 2024: Nihon Hidankyo, organização japonesa de Hibakusha – como são conhecidos os sobreviventes dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki. A organização foi premiada por seu papel fundamental na criação do “tabu nuclear”, a oposição moral e ética contra o uso de armas nucleares, e por seus esforços contínuos, que já duram mais de 70 anos, para realizar o desarmamento nuclear em todo o mundo.

A Nihon Hidankyo, que traduz o nome oficial da Confederação Japonesa das Organizações de Vítimas das Bombas Atômicas e de Hidrogênio, foi fundada em 1956 em consequência aos ataques atômicos de agosto de 1945, quando duas bombas lançadas pelos Estados Unidos destruíram as cidades de Hiroshima e Nagasaki, matando cerca de 120 mil pessoas instantaneamente e outras milhares nos meses e anos seguintes devido a queimaduras e aos efeitos da radiação. Esse episódio de horror marcou iniciou um movimento global de conscientização sobre as consequências das armas nucleares.

Desde sua fundação, a Nihon Hidankyo tornou-se a maior e mais influente organização de Hibakusha no Japão, unindo sobreviventes dos ataques atômicos e vítimas de testes nucleares realizados no Pacífico. A organização tem desempenhado um papel essencial ao manter viva a memória das atrocidades causadas pelas bombas atômicas, compartilhando testemunhos dos sobreviventes em campanhas educativas e diplomáticas, além de emitir apelos urgentes por desarmamento nuclear. 

Os testemunhos dos Hibakusha age no sentido de fazer com que que o mundo entenda a profundidade do sofrimento causado pelas explosões nucleares e as consequências humanas e ambientais dessas armas. Como destacou o Comitê Nobel, “os Hibakusha ajudam-nos a descrever o indescritível, a pensar o impensável e a compreender de algum modo a dor e o sofrimento incompreensíveis causados pelas armas nucleares.” Ao longo de décadas, a Nihon Hidankyo organizou milhares de relatos e enviou delegações anuais às Nações Unidas e a conferências internacionais de paz. Suas resoluções e apelos públicos mantêm viva a urgência do desarmamento nuclear, mesmo à medida que os próprios sobreviventes envelhecem e começam a desaparecer. O trabalho da organização perpetua a memória dos horrores do passado e busca prevenir que a humanidade repita os mesmos erros.

 O Comitê Nobel Norueguês enfatizou que, embora nenhuma arma nuclear tenha sido utilizada em combate em quase 80 anos, a pressão sobre o “tabu nuclear” está aumentando. Em um contexto de modernização dos arsenais nucleares, novas potências buscam adquirir essas armas, e ameaças de uso de armamentos nucleares ressurgem nas guerras contemporâneas. Por isso, a concessão do Nobel da Paz à Nihon Hidankyo tem como objetivo claro reafirmar a necessidade de uma oposição global firme ao uso de tais armamentos e destacar os riscos que uma nova corrida armamentista representa para a humanidade. “Ao lembrar o que são as armas nucleares – as mais destrutivas que o mundo já viu – o prêmio deste ano sublinha a importância de preservar esse tabu contra o uso nuclear como uma condição indispensável para um futuro pacífico”, disse o Comitê.

A Nihon Hidankyo não apenas preserva a memória dos Hibakusha, mas também inspira novas gerações a continuarem essa missão. Jovens no Japão e em outros países estão assumindo a responsabilidade de transmitir os ensinamentos dos sobreviventes, promovendo uma cultura de memória e comprometimento com a paz. Assim, a mensagem dos Hibakusha continuará a ecoar mesmo quando eles não puderem mais estar entre nós para contar suas histórias. O Comitê Nobel destacou que a decisão de premiar a Nihon Hidankyo está em linha com a visão de Alfred Nobel de reconhecer esforços que trazem grandes benefícios à humanidade. Esta premiação se une a uma longa lista de laureados que, ao longo dos anos, receberam o Nobel da Paz por sua luta contra armas nucleares e pela promoção do desarmamento. 

As bombas que arrasaram Hiroshima e Nagasaki já eram extremamente destrutivas naquela época, mas as armas nucleares modernas têm um poder de destruição muito maior, capazes de causar milhões de mortes e provocar mudanças climáticas ainda mais catastróficas do que as que já estamos observando. O Nobel da Paz de 2024 fez questão de por os holofotes na urgência de uma ação global para impedir que novas armas nucleares sejam usadas e reforça a importância de um desarmamento nuclear realmente efetivo. A Nihon Hidankyo é uma prova de que o compromisso de indivíduos e organizações pode sim fazer a diferença na busca pela paz e pela valorização da vida.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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