Três meses após alcançar um acordo com a justiça estadunidense, Julian Assange fez sua primeira declaração pública. O fundador do WikiLeaks afirmou que escolheu a liberdade ao declarar-se culpado de práticas jornalísticas, afirmando que sua condenação demonstra a fragilidade das proteções legais à liberdade de expressão e de imprensa, especialmente na Europa. Em sua fala, Assange apelou à União Europeia para implementar medidas mais eficazes na defesa desses direitos.
Assange, que passou 14 anos entre prisão e confinamento na embaixada do Equador em Londres, comentou sobre o estado atual da proteção legal para jornalistas e denunciantes: “essas proteções, na maioria das vezes, só existem no papel e falham quando mais necessárias”. Em junho deste ano, Assange chegou a um acordo com a justiça dos Estados Unidos, declarando-se culpado de violar a Lei de Espionagem ao divulgar documentos confidenciais, um crime que poderia tê-lo condenado a uma pena de 175 anos de prisão.
Em seu discurso em Estrasburgo, Assange destacou: “Escolhi a liberdade ao invés de uma justiça inatingível, depois de enfrentar anos de detenção e uma sentença de 175 anos sem qualquer poder de apelação.” Assange também alertou que sua condenação foi um ataque direto ao jornalismo de investigação, afirmando que ele foi “formalmente condenado por um poder estrangeiro por pedir, receber e publicar informações verídicas”. Ele descreveu a criminalização da atividade como uma ameaça ao jornalismo mundial. Assange ainda mencionou a mudança de postura do governo dos Estados Unidos em 2017, quando Donald Trump assumiu a presidência e nomeou Mike Pompeo como diretor da CIA e William Barr como Procurador-Geral. Segundo ele, foi nesse período que a perseguição aos jornalistas e às liberdades de expressão nos EUA se intensificou.
O jornalista ficou conhecido em 2010 ao divulgar documentos confidenciais que expuseram abusos cometidos pelo exército dos EUA, incluindo o assassinato de civis desarmados no Iraque, entre eles dois jornalistas da Reuters. Apesar das revelações, não houve condenações relacionadas aos abusos documentados. Na quarta-feira, a Assembleia de Estrasburgo deverá votar resoluções que condenam as “acusações desproporcionais” do governo dos Estados Unidos contra Assange, na tentativa de fortalecer as proteções legais à liberdade de imprensa e expressão.
Foto: David G. Silvers, Cancillería del Ecuador
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