Nada menos que 63 espécies de plantas medicinais foram mapeadas na comunidade quilombola de Ariramba, com destaque para o cumaru (Dipteryx odorata), a copaíba (Copaifera), a andiroba (Carapa guianensis), a unha-de-gato (Uncaria tomentosa) e o sara-tudo (sem identificação), que são coletadas principalmente na floresta, nos quintais e à beira dos rios. As partes das plantas mais utilizadas são as cascas e folhas, e o chá é a forma de preparo mais frequente. Problemas digestivos e respiratórios são os mais comuns na comunidade, e há uma diversidade de espécies e formas de preparo para o tratamento dessas enfermidades. A doutoranda Viviane Vasconcelos Corrêa Dourado, do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento (PPGSND) da Ufopa, conduziu a expedição, com o fim de descrever a riqueza de plantas, métodos, práticas de cura e a relação da comunidade com a biodiversidade, destacando o uso das plantas na manutenção da saúde e na identidade cultural dos quilombolas.
Encontrar respostas de como os produtos da sociobiodiversidade podem gerar valores socioeconômicos e ambientais. Este é o objetivo do projeto “Pesquisa e Desenvolvimento de Bioprodutos Amazônicos Visando à Produção Animal e Vegetal Sustentável”, realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará. Financiado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa), o estudo é realizado na comunidade quilombola Ariramba, que é composta por 27 famílias e está localizada na divisa dos municípios de Óbidos e Oriximiná.
“Ariramba destaca-se quanto à riqueza natural, diversidade de rios, lagos e florestas, conservação dos recursos naturais, manutenção de costumes, e, economicamente, por ser de extrema relevância para os municípios da região, pois é atualmente grande fornecedora de produtos agroextrativistas, especialmente derivados da mandioca, açaí e castanha-do-pará”, explica o coordenador do projeto, Prof. Dr. Antônio Humberto Hamad Minervino, docente do Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef).
Elementos de alta relevância da sabedoria dos povos tradicionais, as plantas medicinais focadas pelo levantamento etnofarmacológico foram descritas em sua riqueza, métodos e práticas de cura e a relação da comunidade com elas. Durante a expedição, foram entrevistados 33 quilombolas, sendo 16 homens e 17 mulheres, com idades variando entre 20 e 73 anos.
Segundo a doutoranda Viviane Vasconcelos Corrêa Dourado, que é orientada pelo professor Lucas Mazzei, essas e outras informações servirão de base para as próximas etapas da pesquisa, que se dedicará à coleta de amostras para bioprospecção; coleta e herborização do material botânico; elaboração de mapas e calendário de usos dos produtos naturais; e confecção de um protocolo de consulta da comunidade quilombola de Ariramba. “Conhecer a sociobiodiversidade da Amazônia é um desafio e tanto. A região é lar de muitos povos tradicionais que vivem em íntima relação com a biodiversidade. Essas comunidades utilizam os recursos naturais como meio de provisão, ao mesmo tempo em que desempenham um papel crucial na conservação do bioma”, afirma.
Também participou da expedição científica a quilombola Juliene Pereira do Santos, que é doutora em Antropologia e bolsista do Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação em Políticas Afirmativas e Diversidade, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento da Capes. Na Ufopa, a pós-doutoranda é supervisionado pela docente do PPGSND Luciana Gonçalves de Carvalho, que já atua na comunidade Ariramba com outros projetos de pesquisa.
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