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Envolvendo 26 Academias de Letras de todo o Brasil, além da Academia Brasileira de Letras, abriu nesta sexta-feira (9), com o tema “Desenvolvimento, Sustentabilidade e Meio Ambiente”, o 2° Congresso Brasileiro das Academias Estaduais de Letras, na Assembleia Legislativa do Pará, em Belém, organizado pela Academia Paraense de Letras, presidida pelo advogado e escritor Ivanildo Alves, que foi muito cumprimentado pela iniciativa. O governador Helder Barbalho foi representado pelo secretário de Estado de Igualdade Racial e Direitos Humanos, Jarbas Vasconcelos; e o prefeito Edmilson Rodrigues pelo secretário municipal de Planejamento e Gestão, João Cláudio Tupinambá Arroyo. O evento também contou com a presença do presidente da Alepa, deputado Chicão; da secretária de Estado de Cultura, Ursula Vidal; do presidente da Cosanpa, José Fernando Gomes Jr.; e da reitora da Universidade da Amazônia, Betânia Fidalgo Arroyo, que receberam homenagens. O congresso segue até o domingo, 11 de agosto.

“Este momento é muito especial para o Brasil e para o mundo. É um mundo que não se humanizou, não se confraternizou depois de uma epidemia tão grave como a do Covid. É um mundo que se acirrou, se tornou mais inseguro, mais violento, mais endurecido, mais empobrecido. Um mundo que flerta nos dias que vivemos com um novo conflito de dimensão mundial e traz maiores incertezas ao nosso horizonte. E este mundo também convive com a realidade de que nunca se leu tão pouco. Enquanto produz armas, o mundo fecha livrarias, fecha editoras, esvaziam-se as bibliotecas. A nossa juventude não consegue mais ler um livro por inteiro. Lê aquilo que nós chamávamos de excertos, de ementa. Aquilo que cabe no flash instantâneo do TikTok, do Instagram. Nós temos um refluxo da arte, da cultura, em todas as suas dimensões e quadrantes. Teatros fechados, nós não conseguimos mais ver peças de teatro, não conseguimos mais frequentar, porque já não há café com sarau literário, com sarau de poesia, de música. Nos falta dança, nos falta balé, nos falta concerto. O mundo que padece de fome, padece da mais terrível fome, que é aquela falta de alimento para os nossos espíritos. Não é possível um mundo que se compreenda e se entenda no interesse da sua humanidade que não tenha alimento para o espírito, que não tenha cultura, que não tenha arte. O ser humano precisa. Nós não vivemos num mundo quântico, duplicado, irreal. Precisamos sonhar. Precisamos imaginar. Nós precisamos de fantasia, de criatividade. É preciso que o ser humano e todos nós possamos ter e compartilhar com o outro a igualdade da sensibilidade, de compreender o mundo de forma mais sensível, mais compreensiva, mais solidária. Creio que em cada um dos senhores e senhoras habita um ponto de resistência. Cada Academia Estadual de Letras é um elo dessa resistência onírica por um mundo mais igual, mais fraterno, por uma cultura mundial de paz, de congraçamento, de compreensão e de enxergar o outro como a si mesmo, dentro da plenitude humana. É por isso que este momento, presidente Ivanildo, ele é muito importante e o nosso governo do Estado fica muito feliz com a honraria que foi entregue, através das minhas mãos, ao seu bâtonnier, que é o nosso governador Helder Barbalho, parabeniza a vossa Excelência, parabeniza a cada um dos acadêmicos deste silogeu, que é a Academia Paraense de Letras, que tantas mulheres e homens ilustres que têm dentro dos seus quadros já passaram pelas suas cadeiras e que prestaram os mais relevantes serviços à história do Pará”, discursou Jarbas Vasconcelos.

Ao dar as boas-vindas aos congressistas, o deputado Chicão acentuou a importância de pela primeira vez o Pará sediar evento de tal magnitude, antecedendo a COP 30, quando os parauaras finalmente terão a oportunidade de falar como pensadores da Amazônia. E salientou o acerto da temática ambiental. “Acho que é uma pauta cuja importância nós não devemos, de maneira alguma, relevar.  Já estamos com o início de seca de novo na Amazônia, mais de sessenta municípios enfrentam problemas pela seca, e ainda nem chegamos ao auge do verão”, comentou Chicão, lembrando a tragédia do Rio Grande do Sul e a responsabilidade de cada um fazer a sua parte. Chicão defendeu investimentos na educação e deu o exemplo de sua gestão, que resgatou a Escola do Legislativo e a transformou em Fundação, a fim de ampliar o seu escopo. Os resultados transformaram o pioneirismo da Alepa em referência nacional.

“O escuro cria escuro. Então só a cultura, só as letras, como a APL, como a Academia Brasileira de Letras, pode trazer luzes para diminuir essa escuridão. E eu queria dizer que o prefeito Edmilson pediu, em particular, que fizesse uma menção ao grande avanço que foi a chegada do Ailton Krenak como imortal da Academia Brasileira de Letras. Então, se é possível ter na Academia Brasileira de Letras uma figura da cultura de uma outra raiz brasileira, a raiz dos povos originários, imagina numa academia de um Estado como o Pará. Então, muitos trazem no rosto a nossa natureza, a nossa história, a nossa identidade. E isso é muito forte. Mas nós precisamos avançar ainda mais. E eu estou falando isso com base econômica que eu pesquiso. Nós precisamos avançar ainda mais na identidade do nosso valor. Porque quando a gente não identifica o nosso valor, nós exportamos riqueza. Que é o que acontece hoje na Amazônia. Nós somos os primeiros do ranking mundial do ferro, da soja. E temos 40% da população do Pará na zona de miséria com insegurança alimentar. 40%. Quase a metade. Pouca gente fala disso. Então é preciso a gente pensar como é que um Estado, que é poderosíssimo economicamente, barramos Minas Gerais em exportação, barramos a Bahia na produção de cacau, que tem origem na Amazônia, toda gerada aqui, vai para onde? Que não chega nas pessoas”, refletiu o professor doutor João Cláudio Arroyo.

Ao saudar os acadêmicos, a reitora da Unama e presidente da Fundação Escola do Legislativo do Pará, Betânia Fidalgo Arroyo, falando também pelo Fórum de Reitores e Reitoras do Estado do Pará, disse de sua certeza de que o congresso será um marco para desenvolver intercâmbio em todo o Brasil, tão necessário num mundo que demanda estratégias para que se efetive a cultura, a literatura e os procedimentos educacionais lícitos e válidos para a construção de uma sociedade que não pode jamais prescindir desse mote fundante da sua própria natureza, que é o composto educacional. Betânia enfatizou a premência de se discutir a educação do estado do Pará, para pensar a educação superior e assim fomentar tudo aquilo que é necessário na formação de profissionais e da cidadania, de um estado em continental, onde a Amazônia nasce e se funda. “É da nossa própria realidade, de homens e mulheres que estão aqui em quilombos, nos territórios indígenas, nas confluências dos rios, nas urbanidades, nós que vivemos aqui, dentro das cidades, mas que temos esse intercâmbio de presença humana, cultural, social, ético, política, com toda essa região. Então, este fórum existe também para que a gente possa fazer apoio à cultura, à literatura, é isso que as universidades dentro do Estado vêm fazendo. E eu queria muito dizer que a gente pode pensar o mundo a partir do composto da literatura e da cultura é fundamental para esse trabalho, então queria dar boas-vindas, saudá-los e saudá-las dizer que nós, como a nossa secretária Ursula, que muito me orgulho de ter uma mulher nessa mesa e dizer, secretária, que realmente deve haver algo muito difícil a ser vencido numa sociedade quando as mulheres não conseguem chegar aos cargos que elas realmente necessitam. Eu, como mulher e gestora de uma instituição universitária há dez anos, que ouso exercer cargos que já estão colocados como assertivos para o gênero masculino, sei do preconceito enorme que sofro a cada dia por isso. E precisamos, sim, através da literatura, através da cultura, em todos os espaços onde a gente possa estar, dizer da importância de construir uma outra sociedade. É impossível a gente pensar que não estarmos nessa mesa é acaso. É impossível a gente ainda acreditar que não é de propósito que as mulheres são caladas, nos pontos onde elas devem realmente estar. E eu fico muito feliz de você estar aqui e me representar. E queria pedir para a secretária Úrsula, em nome de todas as mulheres que estão aqui, todas as presidentes, todas as alunas que estão aqui, as assessoras, uma grande salva de palmas.”

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