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Trabalhadores
comuns, de verdade, que dão duro diariamente para receber o salário mínimo no
fim do mês e que a cada quatro anos são adulados
com as promessas mais mirabolantes por hordas de candidatos em busca de um
mandato na Câmara Municipal de Belém, perderam a chance de ver seus eleitos em
esforçada e comovente atuação em
plenário, ontem.
Revoltadíssimos,
nossos vereadores colocaram todo seu talento verbal no trabalho de baixar o pau no projeto de um vereador
novo, Cleber Rabelo (PSTU), oriundo da construção civil, que pretende – ora,
vejam! – acabar com o vale-alimentação dos edis e diminuir os salários de Suas
Excelências, hoje por volta de R$40 mil (aí incluídos R$11 mil de básico, mais R$15
mil de verba de gabinete, mais  R$14 mil de vale-alimentação, mais
telefone subsidiado, combustível, e, ainda, (ufa!) mais ajudazinhas de milzinhos
daqui, dois mil dali, etecetera e tal).
O
líder de Governo, Mauro Freitas (PSDC), acusou o autor de querer aparecer, disse que a CMB tem os
salários mais baixos do País(!), e não titubeou em convidar todos os colegas a
se manifestarem contra o projeto na tribuna. Empolgado, foi mais longe e conclamou
a população – aquela mesma, cuja maioria ganha salário mínimo!!! – a se
levantar patrioticamente contra a proposta e defender os salários dos
vereadores, porque lá na Câmara, segundo ele, a sociedade tem “35 guerreiros” a
lutar incansavelmente pelo povo. Céus!
A
disposição guerreira em defesa dos próprios bolsos contagiou a maioria dos
bravos edis presentes. Orlando Reis(PTB) disse que o vale alimentação é usado
para  comprar material de expediente. Ah! Então tá explicado: a CMB, que
dá notebooks de presente para seus vereadores (sim, eles levaram pra casa no
fim do mandato) e que tem grana para intermináveis viagens interestaduais ,
entre outros mimos,  não estaria fornecendo papel, grampos, cola e demais
artigos, obrigando os vereadores a utilizarem os R$14 mil mensais do vale de
cada um na compra desse caríssimo (descobre-se agora) material. E haja clips!
Aliás,
na definição de Reis, o vereador é a “tábua
de salvação
” do Brasil, país, segundo ele, lotado de desempregados que são
socorridos pelos salários da turma do Legislativo municipal. E isto, na opinião
dele, nem é assistencialismo, um conceito ultrapassado diante da seriedade com
que a vereança se doa aos mais carentes. O nome certo dessa prática, conforme
esse vereador, seria solidarismo. Hummmm….
A
vereadora Meg Barros (PSOL) preferiu tentar desviar a mira para outros alvos,
dizendo que ninguém sabe dos salários da turma do Judiciário.
Tanta
retórica em causa própria incentivou Miguel Rodrigues (PRB) a um gesto extremo:
mostrando indignação pelas insinuações de que os vereadores de Belém ganham
muito mais do que merecem, declarou que seu carro é apenas um Fiat e que mora
com os pais, por não possuir casa. Coitado!
Esse
atestado de pobreza não convenceu as poucas vozes dispostas a pelo menos
discutir o projeto com mais seriedade, como Fernando Carneiro (PSOL), que, além
de exigir dos demais o necessário respeito ao autor da proposta, que é pedreiro
mas foi eleito como os outros para chegar lá, perguntou aos colegas se eles
sabem realmente o que a população pensa deles. E refrescou a memória de todos citando os números nada elogiosos de
pesquisas que apontam os políticos como os menos confiáveis na opinião da
sociedade brasileira.
E
isso tudo foi apenas a apresentação do projeto do Cleber Rabelo. Imaginem o dia
da votação. 
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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