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No último dia 14 de junho o maior clássico futebolístico da Amazônia Brasileira fez 110 anos. Um jogo de futebol entre os tradicionais Clubes do Remo e Paysandú iniciado numa vitória pelo placar de 2 x 1 do time azulino sobre o alvi-celeste no estádio da ferreira e comandita, atual estádio da curuzú, nos proporcionou uma rivalidade que se tornou patrimônio histórico e cultural do povo paraense conforme a lei.  

Essa história dos jogos entre Remo e Paysandú representa uma trajetória do futebol paraense que nos proporciona compreender os embates, as mediações e as construções culturais entre os diferentes sujeitos na sociedade ao longo do tempo. Assim como analisar um mundo no seu processo de passagem de um esporte mais aristocrático para a sua popularização através dos festivais esportivos, na cidade de Belém do Pará, carinhosamente chamada de “capital do futebol na Amazônia” e os diversos Festivais que foram muito mais do que diversão, pois, estes englobavam uma série de segmentos sociais com sentimentos, paixões clubísticas, lutas políticas que através dos seus interesses entravam em conflitos percebidos durante os jogos suburbanos, nas suas respectivas festas e nos jogos de football entre Remo e Paysandú nos bairros da “cidade morena”.

No tempo presente ou mesmo em um passado recente, pessoalmente o estudo histórico e cultural sobre o tradicional clássico conta parte da minha história de vida ligada a prática futebolística e seus festivais.  O estudo acadêmico esteve alicerçado nas minhas experiências dos jogos de bairros e nos festivais que ocorriam em Belém, Marituba, Santa Izabel ou no bairro da Kanebo, comunidade do cuxiú e apúí em Tomé-Açú, locais que fiz grandes amizades em torno dos jogos de “futebol pelada” entre os anos de 1986 a 2005. Amigos e amigas nos colégios Antonio Lemos, Olimpus, Rui Barbosa, Fernando Ferrari e Antonio Brasil, escola da comunidade do Apuí e Cuxiú, dentre outros. Claro estes são os locais que o historiador escreveu. E que obviamente estava falando do passado, porém, todo interpretado pelas experiências do tempo que vivenciei. 

Apesar de não ter tido a habilidade necessária para ser um jogador de futebol, minha vida social acabava interligada a ele, até os dias atuais. Por isso, foi sempre uma pesquisa prazerosa e ao mesmo tempo intrigante, pois, na capital, no tempo presente, a rivalidade RE X PA movimentava todo um aparato de Segurança Pública e Justiça Criminal que acompanho desde Aluno Soldado em meados de 1998, quando tirei pela primeira vez serviço no maior clássico futebolístico na Amazônia, no famoso estádio “O Mangueirão” e ainda como Aluno Oficial à época do final da pesquisa (2005 a 2007) busquei em Deus uma superação que fortaleceu a escrita da dissertação final, pois, meu cotidiano de pesquisa, estudo e construção da narrativa historiográfica pelas madrugadas estava alicerçado ao “corre-corre” e as cobranças diárias durante o Curso de Formação de Oficiais, na APM Cel Fontoura, no ano de 2005 a 2008. Força, foco e fé foi meu lema para terminar de escrever a Dissertação que deu origem a obra “ diversão, rivalidade e política: o RE x PA nos festivais futebolísticos em Blém do Pará (1905-1950) publicado no ano de 2021.

Realizei através da pesquisa sobre o clássico “rei da Amazônia” um sonho de menino suburbano que passou por uma Graduação em história, se ampliou com o término da Dissertação em 2007, se solidificou com a defesa da Tese de Doutorado no ano de 2016. E hoje segue um caminho de realização acadêmica e pessoal, pois, depois de 25 anos do inicio da pesquisa continuo a pesquisar sobre a História Social da Rivalidade entre o Clube do Remo e o Paysandú, que faz parte da construção da identidade cultural da capital paraense e seus arredores, juntamente com os torcedores, acadêmicos ou pessoas que adoram estudar história por outras fontes.

Além da experiência diária de pesquisa e jogos de futebol na tentativa frustrada de ser um jogador de futebol. Conheci minha esposa Sandra Letícia, uma torcedora fervorosa do clube do Remo através da pesquisa sobre o RE X PA, que fez surgir Saulo e Maria Clara como torcedores do Paysandú. Risos a parte, Ela pesquisava o futebol feminino e juntamente com a mesma encontramos uma fonte do primeiro time de futebol feminino do Pará, em 1924, chamado “o bloco das palmeiras”.  Um golaço do RE X PA em minha vida ! que formou possivelmente mais uma família papa-xibé! Dentre tantas!

Assim finalizo este texto ratificando que o RE X PA para além das vitórias, estatísticas e rivalidades construiu claramente ao longo da história uma relação de lazer e sociabilidade que apresenta a experiência de vida das pessoas nos rios, florestas, prédios e bairros de uma capital vibrante quando o assunto é a rivalidade histórica dos famosos rivais da imensa Amazônia e suas tonalidades azuis. Viva os 110 anos do Clássico rei da Amazônia! Parabéns aos nobres torcedores que vibram a cada jogo dos eternos rivais patrimônio do povo pararanse! Um clássico que conta a história do esporte e ratifica a experiência dos sujeitos que vivem e vibram com o cotidiano esportivo de uma capital eternamente futebolística.

Itamar Gaudêncio

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