Publicado em: 11 de setembro de 2025
Reunimo-nos hoje, numa noite de muita luz, importantíssima para todos nós, para dar posse, nesta Academia Paraense de Letras – APL –, ao escritor, poeta, ensaísta, cronista, compositor e filósofo Benilton Lobato Cruz.
Benilton, posso afirmar com absoluta certeza, tem com a APL uma relação muito forte, de verdadeiro amigo, desde quando passou a residir nesta cidade das mangueiras, vindo do interior do Estado do Pará. Para ele, viver sem a APL não é viver, o que nos faz lembrar a definição de Cícero sobre “amizade”. Sempre esteve aqui, desde os bancos da faculdade, por ocasião de palestras como as de Lindanor Celina, dos imortais Ápio Campos, Agildo Cavalcante Monteiro, José Ildone e tantos outros.
Benilton Lobato Cruz nasceu no dia 21 de novembro de 1966, na bela cidade de Abaetetuba/PA, a terra das águas, que se destaca pela pesca, agricultura e extrativismo, bem como pelo seu famoso brinquedo de miriti e pela fé do seu povo, com a celebração do Círio de Nossa Senhora da Conceição. Dos oito filhos, é o quinto dos comerciantes Benardino Cruz Filho e Benedita Beatriz Lobato Cruz. A coincidência é que ele toma posse neste Silogeu exatamente no dia 5 (cinco). Estou começando a acreditar que, realmente, dois e dois são cinco, conforme assegurou o Rei Roberto Carlos em sua canção “Como Dois e Dois”, lançada em 1971, quando o novel acadêmico tinha cinco anos de idade.
Iniciou seus estudos na Escola Paroquial Nossa Senhora da Conceição, em Abaetetuba, até a quarta série, com a querida professora Maria Helena Figueiredo, neta de Ildefina Figueiredo da Cruz, de quem a família herdou o sobrenome.
Ildefina Figueiredo da Cruz, a bisavó, casou-se com o português Augusto Pereira Leite, pai de Benardino Figueiredo Cruz, que contraiu matrimônio com Raymunda Catharina Alves. Dessa união nasceu Benardino Cruz Filho, que possui hoje 92 anos de idade e é pai do nosso mais novo confrade. Foi ele quem despertou, desde cedo, nos filhos o amor pela leitura, ao adquirir de camelôs livros e enciclopédias, lá na casa da Rua Justo Chermont, defronte ao rio Maratauíra, que banha sua cidade natal, para que aprendessem a ler desde cedo em casa.
Já com 11 anos de idade, o literato Benilton Lobato Cruz veio para Belém cursar a quinta série na Escola Justo Chermont, retornando um ano depois para Abaetetuba, onde concluiu o ensino médio no Colégio São Francisco Xavier. Foi exatamente aos 14 anos que começou a escrever e a frequentar assiduamente a Biblioteca Pública daquele município, encantando-se com a história antiga, com Augusto Meyer e Vinícius de Moraes.
Com 16 anos, nos idos de 1982, foi matriculado no Colégio Orlando Bitar, quando se encantou por Camões e pelos poetas portugueses, passando, assim, a escrever seus poemas. Prestou, posteriormente, vestibular para Bacharelado em Farmácia, abandonando o curso para estudar Letras-Português e Letras-Alemão.
Em Belém, conheceu os escritores Ruy Barata, Max Martins, Agildo Cavalcante Monteiro, Antônio Juracy Siqueira, Leonam Cruz e vários outros, por ocasião das reuniões para a fundação da Associação Paraense dos Escritores – APE. Era o ano de 1987, momento de intensa efervescência literária na capital paraense, onde também participou da Malta de Poetas Folhas & Ervas, grupo com quem escreveu e publicou várias antologias. Poetas que ficaram marcados por lançarem suas obras nas feiras, no bar do Gilson, no Cemitério da Soledade, nas praças de Belém e até em casamentos.
Antes de alcançar a graduação, conseguiu duas bolsas de estudo na Alemanha: uma para cursar o idioma alemão e outra para estudar Germanística (a cultura e a literatura germânica) na Universidade de Freiburg. Retornando a Belém, lecionou alemão como língua estrangeira na Casa de Estudos Germânicos da Universidade Federal do Pará, prestando concurso, posteriormente, à carreira de professor de Literatura Portuguesa no campus de Abaetetuba da UFPA, lecionando por 23 anos, exatamente no lugar de sua infância, de onde se ausentou para cursar o doutorado na Unicamp, em Teoria e História Literária. Sua tese, “Olhar, Verbo Expressionista”, aprovada com nota máxima, avalia a recepção do Expressionismo Alemão no primeiro romance de Mário de Andrade, de 1927, denominado Amar, Verbo Intransitivo.
Publicou Moços & Poetas, quatro ensaios sobre poetas que muito contribuíram para a poesia em Belém: Antônio Tavernard, Mário Faustino, Paulo Plínio Abreu e Max Martins, que mostraram um outro jeito de escrever poesia entre nós. Também materializou a obra Espólio Para Uma Poética, um estudo sobre a cultura lusitana na obra de Mário de Andrade, Aurora que Vence os Tigres (poesia), além de inúmeros artigos no Brasil e no exterior, em revistas especializadas na sua área de atuação como pesquisador de literatura.
Atualmente, Benilton Lobato Cruz é professor nos cursos de Letras-Português e Letras-Libras na Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA, campus Belém. É diretor-secretário da Academia Maçônica de Letras do Estado do Pará, ocupante da cadeira nº 11, patronímica de Mário de Andrade, atuando na Comissão Editorial da antologia Memórias do Meu Veneralato, recém-lançada em Belém. É editor do blog Amazônia do Ben, sobre a etnopoesia da região amazônica-paraense, autores paraenses, cultura amazônica e outros temas, e do canal de poemas no YouTube denominado No Meio do Teu Coração Há um Rio.
A inspiração do poeta Benilton, podemos dizer com precisão plena, vem de uma mulher chamada Rosângela Aguiar. A estrela mais brilhante de todas, de intensa magnitude, que se localiza em seu coração, lugar de onde nunca sairá. Um anjo das flores, bela e delicada, sua verdadeira e eterna namorada.
Este Silogeu abraça mais um literato. Um filho seu que retorna à sua casa para engrandecer a cultura de um país chamado Pará, lembrando aqui Ruy Barata, que preservará suas tradições, sua história, o valor do seu povo, sua cor, suas etnias, seu folclore, seus ribeirinhos, seus rios etc.
Vossa Excelência toma posse no ano da COP 30, a maior conferência climática das Nações Unidas, que será realizada no mês de novembro, aqui em Belém do Pará, no coração da Amazônia, cujo foco central é definir metas para enfrentar as mudanças climáticas.
Aproveitando este momento histórico para a Amazônia, bem que poderíamos aproximar ainda mais a literatura da natureza e, assim, mostrar, por meio de escritos, a importância de sua preservação, pois cada árvore derrubada ilegalmente traz como consequência a desarmonia entre o ser humano e o meio ambiente.
Meu caro confrade Benilton, como destaquei, Vossa Excelência se encantou, desde jovem, pelos poetas portugueses, especialmente por Camões, talvez porque foram os primeiros a retratar a natureza, destacando sua importância para a vida e a emoção sem fim ao se depararem com ela, como confessou Fernando Pessoa em Como um Vento na Floresta e Antônio Gedeão em seu Poema das Árvores.
O Poeta Benilton é um defensor da natureza, da paz e da igualdade, o que me faz lembrar a nossa Poeta Eneida de Moares, e, assim, gostaria de recitar um poema dela que se chama “A Voz da Natureza”:
A VOZ DA NATUREZA
VÊS? as arvores estão verdes de felicidade.
O céo é azul,
o dia é claro
cantam as fontes,
canta o rio,
cantam os passaros
e na manhã risonha, que é um deslumbramento
canta a vida toda
canta todo o amor.
Vês? a terra está dormindo…
E’ somno feliz de quem sonha…
No alto céo
As estrellas beijam uma ciranda de luz.
Ha perfumes embriagando o ar…
Vagalumes, como espelho de estrellas,
brincam entre o verde da relva…
Ha grillos contando uma historia dorida.
E na calma da noite
Canta a vida toda
Canta todo o amor.
E na manhã de sol,
e na noite de lua
ha sempre a vóz mysteriosa do destino
aconselhando ao homem:
“Ama! Ama!”
A vida é o amor!
As academias existem para defender a língua pátria, mesmo assim, confrade Benilton, dar-lhe-ei as boas-vindas em alemão, eu pela descendência e você pela formação.
Willkommen in unserer Academia Paraense de Letras – APL, die sie mit offenen armen empfängt
Bem-vindo à nossa Academia Paraense de Letras – APL, que o recebe de braços abertos.
Comentários